O vento frio balançava os cabelos escuros dela. Suas lágrimas desciam, em função de sentimentos que eu não fui capaz de decifrar naquele dia.
Queria estar abraçado a ela, passando a mão pelos seus cabelos e sussurrando que tudo iria ficar bem, mesmo que o sol não nascesse depois de sua tempestade. Mas quem estava fazendo tudo isso, era Andrew.
Cassie e eu estávamos ao lado da minha mãe, que chorava quase como Louisa. O clima estava pesado, desconfortável.
As roupas eram pretas, quentes, mas seu espírito era frio e melancólico. Era o luto, que não estava apenas entre nossa família, mas sim em uma cidade inteira.
Foram muitas visitas ao seu túmulo naquele dia, muitas flores que logo morreriam.
Eu não chorei durante o velório, não chorei durante o enterro.
Mas quando tive a oportunidade de ficar sozinho em frente ao seu túmulo, desabei como um céu em violenta tempestade.
Ele não estava mais aqui, com suas conversas políticas e sua manipulação descarada. Tudo o que restaria dele seriam lembranças, de uma infância boa ao seu lado e uma adolescência conturbada.
Não era justo, não para nossa relação. As coisas não deveriam acabar assim entre nós.
Vi uma sombra se aproximar, quando me virei notei que era Louisa, em seu sobretudo preto elegante. Ela se sentou ao meu lado, na grama úmida. Seus olhos estavam inchados, assim como os meus.
— E-eu deixei as margaridas. — Ela sussurrou, apontando para as florzinhas brancas no centro do túmulo.
Não fui capaz de dar um daqueles sorrisos fracos e falsos, não dessa vez.
O céu escurecia, uma tempestade se aproximava.
— A última visita, f-foi a sua — Ela afirmou, sem desviar o olhar do túmulo — Você o perdôo, né?
Procurei o seu olhar, necessitando que os olhos daquela que mais amo encontrassem os meus. Mas ela não o fez, permaneceu com o olhar congelado no túmulo.
Suspirei, sentindo uma pontada de uma forte dor de cabeça.
— Não quero falar sobre isso, Louisa. — Suspirei, estendi o meu braço para passar sobre o seu ombro. Ela se afastou no início, mas logo relaxou em meus braços.
— Você acha que eu deveria tê-lo perdoado? — Sua voz ficou embargada.— Eu não sei o-o-o q-que me d-deu, e-eu só não...
— Ei, calma...
A apertei em meus braços, tentando acalmá-la. Lágrimas começaram a descer em seu rosto, as limpei com uma mão, enquanto sussurrava que tudo ficaria bem.
— Eu não consegui perdoá-lo. — Ela enfim conseguiu formular um frase, sem gaguejar, sem soluçar.
— E está tudo bem — Sussurrei. — Você tem todo o direito. O perdão não é obrigatório, ele precisa vir da alma.
Quando respingos de chuva começaram a molhar nossos cabelos, deixamos o túmulo do nosso pai.
Tudo mudou.
A família não era mais a mesma, a cidade não era mais a mesma.
Um novo prefeito foi eleito, muito pouco tempo depois da morte de Lewis.
Royer pediu demissão, não trabalhava mais como motorista para a família Theodore. A maioria das pessoas que trabalhava em nossa casa, pediram demissão e foram seguir suas vidas em outro lugar. Felizmente, Judith ficou conosco.
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Primaveril
RomanceLivro 1 da duologia "Irmãos Theodore". Cassidy pertence a primavera, Louis tem certeza disso. Desde que aqueles olhos castanhos esverdeados se cruzaram com os opacos olhos castanhos de Louis, ele soube que aquela garota estaria de alguma forma em se...