Capítulo 4

64 5 45
                                    

Passaram três dias desde o primeiro dia de aula. Dias repetitivos e cansativos para mim. Nada de novo entre Florence e eu. Não que eu esperasse que algo iria mudar depois de entregar a pintura a ela, argh! Só se passaram três dias também, talvez eu esteja um pouco ansioso. Eu tenho evitado bastante a novata. Bem, Cassidy é algo novo. A garota de sorriso estranhamente bonito sempre tenta puxar assunto comigo, mas eu a evito. Quando recebo seus sorrisos, tento não devolvê-los. Por algum motivo Miranda não gostou de Cassidy e simplesmente a ignora, como metade da escola. Já Florence pareceu gostar bastante da novata, mas acaba a ignorando por causa de Miranda. Ninguém na escola foi realmente receptivo com Cassidy. Tanto que hoje, no terceiro dia de aula ela não frequentou o refeitório, apenas pegou uma bandeja e saiu, assim como Andrew faz. É engraçado a forma como ela não aparenta estar afetada com isso, em nenhum momento o sorriso e seus olhos com uma áurea sonhadora desapareceram.

Com Andrew... As coisas andam como sempre, ou não. São extamente 2 da tarde e estou deitado na sua cama, ao seu lado. Consegui enfim sair um pouco de casa.

— Aonde está o seu pai? — Perguntei me apoiando no cotovelo para olhá-lo na cama.

A visão de Andrew nu, com apenas o fino lençol azul cobrindo seu pênis é tentadora. Seus músculos estão relaxados, suas pernas fortes bem abertas e espalhadas sobre a cama de tamanho médio. Seus lábios entreabertos e seu cabelo loiro bagunçado. É engraçado como aqueles olhos azuis parecem tão indiferentes e inexpressivos. E pensar que minutos atrás ele gemia meu nome loucamente, agarrado em meu corpo e implorando pelo meu toque, implorando por mais... Céus, se minhas tintas estivessem aqui eu o pintaria em uma tela com maestria.

— Você sabe muito bem. — Andrew esticou o braço até o criado-mudo que ficava do lado de sua cama e abriu a gaveta retirando um maço de cigarros. — Em algum bar por aí, enchendo a cara.

Sua voz estava igualmente indiferente.
Os Musgrove eram marcados pelo alcoolismo de Amon e a rebeldia de Andrew. Era apenas os dois, uma relação conturbada de pai e filho marcada por brigas. A mãe de Andrew deixou a família quando Andrew tinha 10 anos e nunca mais voltou. Apesar dele nunca ter me dito o nome dela, eu sabia pelas fofocas e boatos que corriam por Arcadia Petals. Seu nome era Edwina. O ambiente que Andrew vivia não era nada saudável, muito menos aconchegante. A casa era média, uma casa bonita, situada em um bairro comum. Mas o seu interior... A sala de estar estava constantemente suja de garrafas de bebidas quebradas e bitucas de cigarros espalhadas por todo canto. O único cômodo realmente limpo era o quarto de Andrew.

— Temos que parar com isso — Refleti olhando para o teto. — Essa foi a última vez.

— Você disse isso mês passado — Ele suspirou, tragou o cigarro e riu. — Não é mais fácil se assumir logo em vez de ficar se escondendo e se esquivando das pessoas? Louis, você acha mesmo que ninguém desconfia?

Engoli seco e desviei o olhar. Não era fácil. Se fosse, eu não seria controlado como um fantoche, nem teria tanto "medo" do que as pessoas iriam achar. Se fosse fácil, talvez eu não seria tão covarde.

— Não é fácil, Andrew. — Murmurei me sentando na cama.

— Pelo amor de Deus! É tão difícil assim simplesmente dizer: "Eu sou bissexual e não me importo com sua opinião" ou "Papaizinho, eu não quero ser político". Apenas diga de uma vez e acabe com esse drama. Você não se cansa de se lamentar internamente, eu vejo o quanto você está emocionalmente cansado — Ele soltou a fumaça do cigarro pela boca. — Você já tem quase 18 anos Louis! Está na hora de buscar por sua liberdade.

— E você se sente livre nesse ambiente? Você acha que ser livre é viver assim? Como um delinquente irresponsável. — Disparei, magoado pelas feias verdades que saíram de sua boca.

PrimaverilOnde histórias criam vida. Descubra agora