Capítulo 9

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Os cabelos de Cassie estavam amarrados em dois coques fofos. A laterna iluminava a barraca, tendo um contraste nas sombras dando um aspecto bonito a barraca roxa. Sua atenção estava voltada para um pequeno caderno vermelho em suas mãos, seus olhos brilhavam em paixão e admiração, eu podia vê-los refletidos ali enquanto ela escrevia com um lápis já pequeno e gasto. Assim que me viu, ela fechou o caderno rapidamente.

— Boa noite — Ela sorriu com doçura. — Você não vai participar da fogueira social?

Balancei a cabeça em negação e me sentei sobre meu pequeno saco de dormir, a distância entre nós era mínima. Corri os olhos pela sua blusa azul bebê, que marcava seus seios fartos... Desviei rapidamente o olhar, não era nada educado e discreto encarar uma garota assim.

— Por que você não foi jantar? Pensei que estivesse com fome.

— Perdi a fome de repente. Como estava inspirada resolvi me recolher mais cedo e escrever. — Respondeu com os olhos focados no caderno.

— Não é bom dormir de barriga vazia, você não comeu nada a tarde. Eu deveria ter trazido um cachorro-quente para você.

— Eu to bem, é sério! Não precisa se preocupar. — Cassie olhou para mim com um sorriso encantador.

Me perguntei, será por trás de todos aqueles sorrisos felizes e radiantes se escondia uma outra Cassidy? Alguém com segredos, olhares vazios e sentimentos confusos. Talvez eu apenas invejasse sua alegria e tranquilidade tão aparente.

— Você está escrevendo poesias para os clientes da Glass Bead?

— Não, desisti dessa ideia.

— Sério? Por quê?

Cassidy não me parecia o tipo de pessoa que desistia fácil, ainda mais de uma ideia que parecia agradá-la tanto.

Dos seus lábios escapou um suspiro doce enquanto ela passava o dedo pela capa do caderno, contornando os pequenos desenhos nele.

— Apenas desanimei. Não é todo dia que estou inspirada e sinto que minhas poesias não são muito boas.

Sua voz expressava uma insegurança que eu não conhecia, não vindo dela. Ela expressou uma insegurança que costumava sair em forma de suspiros dos meus lábios quando eu encarava minhas pinturas.

— Posso ler uma poesia sua? Só se você se sentir confortável com isso.

Até o momento eu não havia lido nada além de uma simples e adorável rima dela. Eu não podia tirar conclusões sobre o que uma pessoa escrevia apenas por dois versos. Eu estava curioso sobre muitas coisas, mas ao vê-la escrevendo com os olhos repletos de paixão e admiração pelo o que fazia, lembrou-me do meu amor pela pintura. Era tão satisfatório passar os dedos ou o pincel pela tela em branco e expressar meus sentimentos através das tintas e contornos, acredito que com as palavras seja da mesma forma. Naquele momento tudo o que desejei foi ler os escritos de Cassie, aqueles que ela escrevia com tanta paixão e brilho nos admiráveis olhos alegres, como vi ela fazendo mais de uma vez na sala de aula e quando entrei na barraca, só assim eu iria conseguir tirar minhas próprias conclusões sobre suas poesias.

Cassidy mordeu os lábios inferiores e aquilo prendeu mais minha atenção do que deveria. Ela olhou para mim e para o caderno e hesitou com aparente preocupação.

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