Capítulo 6

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Deveria ser três horas da tarde. O tempo estava acizentado e parecia que o céu poderia derramar suas lágrimas a qualquer momento. Uma chuva primaveril se aproximava. Uma típica tarde de sexta-feira em Arcadia Petals.

Persuadir os donos da Glass Bead Coffee não fora nada difícil, já que uma boa quantia de dinheiro e a promessa de que minha família tomaria café da manhã — e de preferência tirasse várias fotos — os convenceram facilmente. Eu esperava conseguir cumprir essa promessa. Eles liberaram Cassidy sem nenhum questionamento e me deram até um copo do delicioso café tradicional da cafeteria. Me pergunto o porque estou fazendo tanto para essa garota! O tanto de boatos que iriam circular após dormirmos juntos naquela barraca, seriam sem sombra de dúvidas insuportáveis. Mas agora não há como voltar atrás. Sendo sincero... Eu não quero voltar atrás.

Tentar conversar com Louisa após a confusão na escola foi talvez um grande erro da minha parte. Talvez eu não tenha conseguido ser gentil e carinhoso o suficiente para perguntá-la o que diabos Joshua havia feito com ela. Em vista que eu estava mais interessado em saber o porquê que ela parecia tão próxima de Andrew. Desde o acontecido, ela se recusa a se abrir comigo, tem ficado cada vez mais difícil tentar ter um diálogo com ela. Isso está me matando e me sinto cada vez mais culpado por deixá-la uma semana sozinha. Nunca tínhamos ficado sequer 3 dias separados. Mas eu havia pensado em algo.

Dei um suspiro pesado e fechei os olhos por meros segundos. Levantei o braço e hesitei pela terceira vez. Estava em frente a porta de madeira desgastada da casa de Andrew. Droga! Eu preciso ser rápido antes que alguém me veja aqui. Eu não quero ser a notícia daquele jornal de fofoca idiota por estar na casa dos Musgrove.

Eu só espero que Amon Musgrove não abra essa porta...

TOC! TOC!

Eu sabia que Andrew estava em casa. Era óbvio pela sua moto preta estacionada desajeitadamente no jardim repleto de flores negras e arroxeadas, totalmente mortas. Aliás, Andrew trabalhava a noite, em uma boate que ficava na saída da cidade. Eu não fazia ideia do que ele fazia lá, só sabia que era ali que conseguia dinheiro para se sustentar.

— O que você quer?

Me assustei quando a porta foi aberta bruscamente e a voz grogue de Andrew ecoou pelos meus ouvidos sensíveis. Seus cabelos loiros estavam bagunçados, ele usava uma regata preta bem desgastada, deixando a mostra seus músculos chamativos. Prendi a respiração tentando focar em seu rosto, não na calça moletom de um vermelho desbotado que marcava muito bem suas pernas torneadas. Ele certamente estava dormindo, a julgar pelo seu rosto um tanto quanto amassado e seus olhos cansados. Mas principalmente porque ele não exalava o cheiro habitual de cigarros.

— Eu queria conversar com você.

Andrew arqueou uma sobrancelha, inclinando-se e escorando na porta. Ele era uns bons centímetros mais algo que eu, tendo entre 1,87 a 1,90. Eu tinha míseros 1,80.

— Desembucha. — Ele disse quase como em uma reclamação, acabando com o silêncio constrangedor.

Suspirei pesadamente e tentei parecer o mais confiante possível, reunindo minha escassa coragem para prosseguir em meus objetivos.

— O que Joshua fez com Louisa ontem? E por que você a defendeu?

Os olhos de Andrew se arregalaram brevemente e seus lábios se entreabiram. Ele suspirou, passando as mãos pelo cabelo bonito e certamente muito cheiroso.

— Você deveria estar mais próximo da sua irmã na escola. — Sua voz estava carregada de preocupação.

Confesso ter me sentido sempre suficientemente próximo a Louisa, mas naquele momento eu me senti como o pior irmão do mundo, aquele que se afasta da irmã e a esquece completamente na multidão.

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