Amarrei o cadarço do meu tênis esportivo — "Caro demais para algum dia ser usado" dissera Judith certa vez — com uma confiança nem um pouco típica. Eu costumava me exercitar bastante em casa, mas não para criar músculos ou algo do tipo. A atividade física era uma válvula de escape quando eu não podia jogar meus sentimentos em uma tela com tintas. Afinal eu costumava pintar apenas nas noites e madrugadas, quando conseguia finalmente usar uma das mais conhecidas armas do artista: a tinta.
Me alonguei, sentindo meus cabelos macios fazerem cócegas em minha orelha esquerda. Bem, talvez já estivesse na hora de cortá-lo.
— Pelo visto quem está bem determinado hoje é você. — Observou Cassie, sentada em um tronco caído não muito longe de mim. Ela comia um sanduíche seco do café da manhã.
Felizmente não estávamos "estranhos" devido a conversa da noite passada. Quando acordei essa manhã, Cassie já estava acordada escrevendo algo naquele pequeno caderno. Lembro-me dela sorrir para mim assim que percebeu que eu estava acordado, como se nada houvesse acontecido e seus olhos... Eles não brilhavam radiantes, mas não estavam mais cinzentos.
— Eu vou correr por nós, a equipe roxa vai ser a vencedora hoje! Escreva isso.
Cassie sorriu, engolindo o último pedaço de sanduíche.
— Espero que você seja tão rápido quanto um rato.
— Pode apostar.
A prova de hoje era uma corrida. Uma não tão longa volta, o primeiro a alcançar a faixa cinza amarrada entre duas árvores na entrada do acampamento, vencia. Eu não costumo me exercitar correndo, mas minhas pernas longas e — Levemente — definidas concerteza vão me ajudar em algo.
Apenas um participante de cada equipe participaria e assim que a prova foi anunciada quando todos estavam pegando o sanduíche integral — Café da manhã — Cassie pediu para que eu fosse o corredor, já que segundo ela eu concerteza sou mais rápido e preparado que ela.
— Eu vou ganhar essa prova para você, vai ser tão glorioso que ninguém vai se lembrar daquela rosa estúpida de ontem. — Murmurei quebrando o silêncio.
Cassidy apenas assentiu, com um semblante de quem gostaria de estar em casa. Não a julgo. Se arrependimento matasse, todos que concordaram em vir nesse acampamento estariam mortos, inclusive a madame Auristela.
Eu e Cassie caminhamos em direção aonde começaria a prova, a qualquer momento entraríamos em posição e Auristela usaria aquele maldito apito. Eu estava até confiante, isso até ver ninguém menos que Miranda Barsh com um shorts esportivo e uma postura mais do que confiante, presunçosa eu diria. Suas perns eram tão musculosas que estremeci com a ideia de um dia ela decidir me chutar. Seus cachos loiros estavam amarrados em um rabo de cavalo alto e organizado. Assim que me viu chegar, a "tigresa" se aproximou como um caçador pronto para abater a caça.
— Pronto para comer poeira? — Miranda arqueou uma sobrancelha, analisando Cassidy ao meu lado enquanto amarrava uma faixa vermelha na cintura. — Belos shorts de cintura alta, Stewart.
— Ah obrigada! Você está linda como sempre, desejo boa sorte para a prova. — Cassie respondeu gentilmente com sinceridade.
— Eu não tiraria conclusões tão precipitadas, Miranda. — Respondi sua provocação com um sorriso ladino.
De repente lábios macios encostaram em minha bochecha e braços carinhosos envolveram meus ombros, corei intensamente sentindo um repentino desconforto.
— Bom dia, Louis. — Florence sorriu para mim se afastando logo em seguida.
— O-oi. — Cocei a nuca.
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Primaveril
RomanceLivro 1 da duologia "Irmãos Theodore". Cassidy pertence a primavera, Louis tem certeza disso. Desde que aqueles olhos castanhos esverdeados se cruzaram com os opacos olhos castanhos de Louis, ele soube que aquela garota estaria de alguma forma em se...