Capítulo 19

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Foi extremamente fácil conversar com mamãe e Louisa.

Contei a verdade, o que não surpreendeu muito Louisa. Já mamãe, ficou levemente surpresa quando contei que não estava mais com Florence e que estava apaixonado por outra garota.

Não vi Lewis aquela noite, já que logo após conversar com Rachel, eu me joguei na aconchegante cama do meu quarto e desmaiei — literalmente — de cansaço.

Despertei, meio grogue, com Louisa me chamando para ir escola. Lembro-me de murmurar um "só mais 5 minutinhos" e ela me deixar dormindo.

Quando acordei de verdade me dei conta que já era 10:30 da manhã e já não tinha mais chances de entrar na escola.

E sim, eu estava com um terrível resfriado.

Só depois que saí do banheiro molhado e despertado, que me dei conta dos acontecimentos da noite anterior. Céus! A euforia que me tomou foi tão livre de vazios e medo, que mal me vesti e corri para meu "estúdio" de pintura.

Observei a pintura, que ainda era incapaz de expressar a beleza única da minha garota.

Apesar de poucos, alguns retoques a tornaram ainda mais especial.

Assim que terminei, a coloquei delicadamente apoiada sobre minha elegante mesa de mogno — já manchada com diversas cores de tintas — e sorri, imaginando a reação de Cassie quando ganhasse aquele presente feito com tanta paixão.

Assoei o nariz em meu lenço branco e senti meu estômago roncar.

Meu humor estava maravilhoso, era como se não existisse mais problemas em minha vida e tudo fosse feito de rosas — ou melhor, tulipas — e todos os dias seriam de puro sol e euforia.

Assim que vi Judith preparando o almoço e cantarolando alguma canção antiga, me aproximei em uma dança silenciosa e depositei um beijo em sua bochecha, a assustando.

— Louis! — Ela exclamou surpresa. — Eu fiquei muito preocupada com você ontem a noite, você saiu e não avisou ninguém de nada.

Peguei uma maçã sobre a mesa de centro da cozinha e a mordi com muita fome.

— Eu estou bem, Judith... Atchim! Só com um resfriado chato.

— Eu sei de um chá ótimo para o seu resfriado meu querido, é aquele que você sempre tomava quando era pequeno.

Sorri para Judith com carinho.

Desviei o olhar para a janela da cozinha, observando algumas flores nascendo no verde da grama do nosso vasto jardim. As pequeninas florzinhas brancas, inocentes e frágeis me lembraram de minha irmã.

Suspirei pesadamente em pensar sobre a aproximação de Louisa e Andrew. Não me preocupa as intenções dele com ela, o conheço o suficiente para saber que ele nunca a olharia com outros olhos que não aqueles de pura afeição.

O que me preocupa são os sentimentos de Louisa, seus pensamentos... A forma como ela o olha, como o admira e fala sobre ele, é sem sombra de dúvidas preocupante, Louisa não pode se apaixonar por Andrew, pois se isso acontecer... Ela vai se machucar profundamente.

Desviei os olhos da enorme janela da nossa luxuosa cozinha e encontrei novamente o olhar de Judith, que me olhava com desconfiança e preocupação.

Aquele olhar lembrou-me de Lewis, que eu não via a muito tempo. Era estranho não encontrá-lo pelos corredores ou biblioteca, por quê ele quase não estava mais em casa? Aquilo era tão estranho que me deixou por um momento com medo de Lewis estar tramando algo.

— Judith... Cadê Lewis? — Perguntei colocando a maçã sobre a primeira bancada que vi assim que me levantei. — Eu quase não o vi desde que voltei do acampamento.

Judith se virou rapidamente para o fogão, parecia tensa.

— Ele só está trabalhando demais, meu filho. — Ela se virou e me deu um sorriso forçado. — E eu preciso trabalhar também.

Eu sabia que Judith estava escondendo algo de mim, mas resolvi não insistir naquele assunto pelo fato de que minha vida andava muito tranquila.

Não ver Lewis me deixava mais calmo e tranquilo, parecia que as preocupações e crises de ansiedade não existiam mais, mesmo que eu soubesse que elas voltariam em algum momento.

Com cuidado, ajeitei o papel acizentado com várias tulipas amarelas desenhadas a mão, aos poucos fui o enrolando na pintura que daria a Cassie.

Já estava na hora de ir até a cafeteria, logo logo Cassie seria liberada do expediente e eu a levaria para o campo de tulipas amarelas, um lugar maravilhoso no qual eu ia bastante na infância, aquele lugar parecia ter sido feito especialmente para Cassidy, já que ela era apaixonada por tulipas daquela cor tão vivaz.

Não havíamos trocado mensagens, então eu estava muito ansioso para vê-la e principalmente para beijá-la.

Antes de sair de casa, me certifiquei de procurar Louisa e ver se ela estava bem.

A encontrei tirando fotos de alguns insetos no jardim.

— Louisa, estou de saída.

Ela parecia extremamente concentrada em sua tarefa de fotografar uma borboleta prestes a sair do casulo, apenas joguei um beijo no ar me afastei.

Caminhei tranquilamente pelas ruas, tão radiante quanto o sol sobre minha cabeça que estava prestes a se pôr.

A primavera nunca esteve tão bonita, ou talvez, eu nunca estive apaixonado por uma garota que pertencia inteiramente de corpo e alma a primavera.

Durante a caminhada, observei o verde vivo do parque, o rosa das cerejeiras que me lembravam minhas pinturas com aquarelas e escutei o canto melodioso dos pássaros avermelhados, que por ali voavam tomados pela euforia da liberdade. E eu me sentia livre como um pássaro.

Quando avistei a Glass Bead Coffee, não pude deixar de sorrir e acelerar meus passos, queria o quanto antes encontrar minha Cassie e entregá-la o presente que fiz tomado por tanta paixão.

Assim que entrei na cafeteria, a vi, perfeita como sempre.

Cassie retirava o avental e desfazia o coque, soltando seus cabelos castanhos escuros. Ela se despediu de uma moça no balcão e pegou um pacote com algumas coisas.

Assim que me viu, seu sorriso fora indescritível de tamanha beleza.

— Louis! Você chegou muito cedo, nem vai dar tempo para me arrumar. — Ela murmurou em um tom de brincadeira, se aproximando de mim.

— Pois eu cheguei no momento certo — Murmurei envolvendo sua cintura com uma das minhas mãos. — Aliás, todos os momentos para encontrá-la são bons, você é perfeita em qualquer lugar, hora... em qualquer roupa ou penteado.

Não me importei com as pessoas na cafeteria, selei nossos lábios em um beijo casto.

— Vamos? — Sussurrei com o rosto próximo a seu pescoço.

Ela concordou baixinho e caminhamos até o estacionamento de bicicletas, que ficava ao lado da adorável cafeteria.

— Então você sabe andar de bicicleta... — Cassie murmurou em um tom brincalhão.

— Mas é claro que eu sei! — Respondi fingindo estar ofendido.

Ela sorriu e tirou a bicicleta do local, a empurrando para a rua.

— O que é isso? — Ela perguntou apontando para a pintura embrulhada em minhas mãos.

— É o seu presente, mas você só vai abrir quando chegarmos no nosso destino.

Cassie mordeu os lábios inferiores em ansiedade e curiosidade.

— Ah, Louis!

Ignorei os seus protestos subindo na bicicleta rosa e colocando a pintura na cestinha delicada. Senti os braços de Cassie rodearem minha cintura.

— Só não me mata, em. — Ela sussurrou roçando o nariz em minha nuca, um arrepio gostoso percorreu meu corpo com sua carícia.

Eu só sou capaz de mata-lá de amor, minha doce Cassidy.

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