O passado, de volta
O forte cheiro de tabaco inundava a residencia de "família", não importava a ocasião ou período do dia. Às vezes, o aroma relativamente desagradável ocupava o lugar por completo durante poucas horas; às vezes o dia inteiro. De uma forma ou de outra, o cheiro de tabaco era uma das características mais marcantes do lugar.
Aquela casa era grande e luxuosa demais para apenas Lucca e o seu pai, mas Romar nunca fez questão de esconder sua ambição. Os dois andares espaçosos pertenciam ao Goodman, mas sempre estavam preenchidos por pessoas. Todos os tipos de pessoas.
Não foi diferente naquele dia. O pequeno Lucca de apenas 10 anos, estava se camuflando entre a quantidade absurda de gente que estava em sua casa, após voltar da escola. Ele sabia que estava encrencado apenas por ter despistado o motorista que sempre ia buscá-lo. O que lhe restava fazer era inventar uma ótima desculpa para justificar não só o problema com o motorista, mas também o seu atraso.
Ele se esbarrou com o homem a caminho do escritório do mesmo. O pai olhou para baixo com uma expressão neutra — Venha aqui com o seu pai.
A criança tremeu na hora.
O pequeno Lucca foi levado pelo seu pai para uma das salas do casarão, e pelo visto, não havia um cômodo vazio no momento. Ele sentou em um grande sofá ao lado de seu pai, cercado por homens e mulheres festeiros. O som estava ligado, nem tão alto, nem tão baixo. Haviam muitas latas de bebidas alcoólicas espalhadas pelos móveis e o cheiro do ambiente era uma mistura predominante de maconha e cerveja.
A criança já estava acostumada, então ficou sentado observando os adultos conversarem sobre muitos assuntos inadequados para sua idade. Romar cumprimentava sentado, alguns conhecidos e amigos enquanto fumava, como de costume.
O pai finalmente deu atenção ao filho — Você chegou atrasado de novo, moleque.
— Desculpa, pai! A professora acabou liberando mais tarde hoje! — O menino respondeu, nervoso.
— Então, acho que preciso ter uma conversa com ela. Horário é horário — O homem estava bolando um, antes mesmo de terminar de fumar o cigarro por completo.
Lucca já sabia o que significava "conversar" no linguajar de seu pai. Ele já testemunhou muitas conversas e definitivamente não as achava legal, então ficou ainda mais nervoso — A culpa não é dela! É que os alunos são desobedientes, pai!
— Você é desobediente, meu filho?
— Não… — Lucca negou com a cabeça, encarando o chão.
— E mentiroso? Você acha certo mentir pro seu pai? — O homem afagou os curtos fios de cabelo da cabeça semi raspada da criança.
— Não. — O menino se encolheu involuntariamente, e olhou para o maior.
— Eu sei o que você anda fazendo. O motorista me conta tudo, sabia? — Romar brincou com o cigarro em suas mãos, olhando fixamente para o filho.
Os olhos de Lucca se encheram de lágrimas repentinamente. Ele queria esconder, olhando para baixo, mas a mão do seu pai não saia de sua cabeça.
— Ah, Lucca, você está chorando de novo?! Você é bicha, por acaso?!
— Não, pai. Eu não tô chorando! — Lucca tremeu de medo, derrubando, sem querer, uma lágrima de seus olhos azuis. Seus pequenos dedos se encarregaram de enxuga-la de imediato
— Continua mentindo, que decepção... — Romar tragou o cigarro com força, tirando a mão da cabeça do menor — Você nunca aprende, meu filho. Papai não gosta de te castigar, mas eu não posso deixar você virar uma menininha. Como você vai crescer e assumir meu lugar sendo desse jeito?
VOCÊ ESTÁ LENDO
Goodman [BL]
RomanceO filho do falecido manda-chuva do maior grupo criminoso da história da cidade de Lilorang, agora se via quase falido ao ter o peso de carregar e manter como legítimo todos os acontecimentos antigos, cruéis e temerosos que tal grupo ordenhou. Por 10...