Em outra vida
— Mulher, essa legging te deixa com uma bunda muito bonita, com todo o respeito! — Pelo que parecia, Lucca não se sentia mais tão inseguro como antes para conversar com Ruth.
Finalmente, ele havia conseguido fazer a mulher dar um passeio pela vizinhança idosa da mini cidade isolada e escondida de todo o resto da humanidade. Os dois estavam realizando uma caminhada debaixo do sol quente, e obviamente Lucca só conseguiu esse grande feito com muita insistência.
— Por que tá olhando pra minha bunda, homem? Se respeita, Lucca! — Ruth bateu na nuca do seu chefe que a acompanhava.
Lucca riu e se esquivou com atraso, resultando num arranhão por conta das unhas enormes — É inevitável, tá realmente bem redondinha.
— Cara de pau… — Ruth ergueu uma sobrancelha. Ela estava ofegante, já que fazia 20 minutos que estava correndo por aí com Lucca. Mesmo agora, caminhando, seu corpo ainda se desgastava. Por conta do calor, ela se via obrigada a usar um top atlético, e isso era algo que não se via naquele fim de mundo. Os habitantes não disfarçavam os olhares, que eram bastante diversos. Uns até gostavam do que viam, já outros pareciam julgadores.
No caso de Lucca, quase não havia olhares julgadores, mesmo o homem estando completamente nu em seu tronco. O calor estava tanto que Lucca nem pensou duas vezes antes de tirar a camisa, mesmo que sua tatuagem ficasse à mostra. Naquele lugar, ninguém entendia o que aquele símbolo significava, afinal.
— Devíamos voltar? — Ruth parou embaixo de um arco contornado de flores e trepadeiras em meio a uma área deserta. Esse arco fornecia alguma sombra, além da área ter um lindo gramado bem verde. Uma boa característica daquele interiorzinho.
— Tá cedo, não? — Lucca a olhou com desaprovação, e em seguida, se sentou no chão que continha algumas pétalas de flores murchas — Senta aí, descansa um pouco.
Ruth revirou os olhos e fez o que foi sugerido.
Lucca a observou pelo canto dos olhos antes de fechá-los para sentir a brisa leve que trazia um pouco de alívio.
— Bom, né?
— É.
Lucca sorriu para a mulher, mas se sentiu desanimado ao não ter sido correspondido. Ele desviou o olhar, sem graça. Ruth ainda estava diferente, talvez, a moça ainda estivesse abalada pela morte da babá. Ou talvez ela só tenha se desanimado com a vida após a experiência traumática que viveu.
— Como você tá, Ruth? — Lucca perguntou observando as silhuetas aleatórias que passavam bem longe de onde estavam. Aquele lugar era próximo a um sítio, então dava para ouvir os sons de cachorros latindo e cabras berrando.
— Com muita sede. Tipo, muita mesmo — Ruth respondeu fingindo seriedade.
Lucca sorriu levemente e entregou uma garrafa transparente de água para a amiga. Estava pela metade.
— E você? Como tá? — Ruth devolveu a pergunta antes de erguer a garrafa em sua boca.
— Sinceramente… eu estou bem, mas, estou confuso também.
— Todos estamos.
— É… — Lucca estava sorrindo, mas por dentro, se sentia muito angustiado — Ruth, use toda sua sinceridade.
A mulher o olhou. Ela já sabia o que vinha quando Lucca começava qualquer frase assim.
— Você sente vontade de seguir uma vida diferente dessa? Acha que existe essa possibilidade pra você?
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Goodman [BL]
RomanceO filho do falecido manda-chuva do maior grupo criminoso da história da cidade de Lilorang, agora se via quase falido ao ter o peso de carregar e manter como legítimo todos os acontecimentos antigos, cruéis e temerosos que tal grupo ordenhou. Por 10...