Azul
Dylan estava tão acostumado à rotina agitada, que se sentia um inútil durante a sua estadia no casarão. Não fazia nem cinco dias desde que a vida das pessoas ao seu redor, principalmente a sua, tinha sido drasticamente chacoalhada, mas o tempo naquele fim de mundo parecia passar em câmera lenta. Resumo: A chácara de Cleberzinho era tediosa.
As palavras de conforto de Lucca sempre eram jogadas por aí, a maioria era a ordem de não se preocupar com os novos e antigos problemas, pois tudo iria ser resolvido por ele. Talvez Lucca só estivesse dizendo isso, pois queria que todos se distraíssem dos próprios pensamentos após as coisas que ocorreram.
Dylan poderia até tentar se desvincular por um momento dos problemas em que estava metido, mas seu cérebro sempre estava procurando algo para se ocupar. Qualquer observação, ou acontecimento incomum, que normalmente poderia passar batido, tinha boas chances de se tornar alguma grande coisa em sua mente.
Como, por exemplo: Por que o empregado, Kaiq, não lhe passava uma boa impressão?
Já não era certo o momento em que Dylan tomou consciência de sua leve desconfiança no empregado, mas ele passou a prestar mais atenção quando o mesmo se mostrou confidente de Lucca, quando eles apenas tinham acabado de se conhecer.
O que Kaiq sabia que Dylan não sabia? Por que Lucca, que até então tinha se aproximado bastante do último membro, optou compartilhar segredos com um homem que acabara de conhecer?
Pela tarde, Dylan avistou Lucca entrando em uma sala vazia com o empregado após a saída de Cleber. Inconscientemente, ele cronometrou o tempo em que ambos passaram lá: foram por volta de 35 minutos.
…
O céu já estava escuro e estrelado quando Dylan, que estava sentado em uma mesa do lado exterior do casarão, avistou Lucca passando em direção à piscina, com apenas uma bermuda no corpo. A piscina tinha em média uns 15 metros, e apresentava uma boa largura.
O homem distraído que caminhava calmamente parecia melancólico. A iluminação ao redor da piscina clareava o rosto entristecido, era notável. O azul da água refletindo em seus orbes da mesma essência era algo bonito de se testemunhar, mesmo assim.
Lucca era assim quando ninguém estava olhando, mas Dylan já sabia disso.
Estranhamente, esses momentos de observação fazia-o lembrar de admirar o seu chefe, homem ao qual ele tratava friamente na maioria das vezes.
Os belos olhos tristes se viraram para a direção em que Dylan estava.
O mais novo só se deu conta de que sua presença tinha sido notada após segundos de longa encarada.
— Aí está você. — a voz de Lucca foi ouvida à distância.
— …
— Eu estava te procurando. Ia te chamar para nadar comigo — O chefe sorriu, deixando de lado a expressão pesada de antes.
— Ah… — Dylan desviou o olhar, sem graça, ao ser praticamente pego espiando na calada da noite — De noite?
— É o melhor horário! — Lucca deu três passos para trás e arremessou seu corpo na água, levantando barulho e distribuindo gotas voadoras pelo ar. Ele mergulhou após o salto e voltou à superfície com os cabelos molhados sobre o rosto. Após tirar os fios de seus olhos, ele se escorou na beirada da piscina e sorriu para Dylan — Venha! A água tá uma delícia.
— Acho que não é uma boa ideia…
— Claro que é. Você sabe nadar, não é?
— Óbvio que sei — Dylan respondeu de imediato.
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Goodman [BL]
RomanceO filho do falecido manda-chuva do maior grupo criminoso da história da cidade de Lilorang, agora se via quase falido ao ter o peso de carregar e manter como legítimo todos os acontecimentos antigos, cruéis e temerosos que tal grupo ordenhou. Por 10...