Thank me later

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(+16)

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Carter

"Muito bem, vinte e cinco", declaro, soprando o apito, alto o suficiente para Wendy ouvir de onde caiu acabada resfolegando como um animal sedento no chão. Vou até ela. Sua careta enojada de quando me vê é engraçada o suficiente para me fazer rir. "Meus parabéns, Darling. Vinte e cinco minutos e cinquenta e oito segundos. Novo recorde."

Ela não me responde. Está ocupada demais sufocando no chão diante de mim.

"Sabe, acho que toda essa tribulação romântica está deixando você mais focada. Torço para que continue."

Wendy me lança mais uma de suas caretas enquanto se senta. Sei que ela tem respostas venenosas para todas as minhas provocações, mas em geral está cansada demais para se dar ao trabalho. Acho muito engraçado.

Enquanto Wendy se levanta e caminha para a arquibancada, eu a acompanho com o olhar. Parte de minha atenção — ou parte de mim para ser mais exato — está em Anthony ainda no circuito. Noto tudo com atenção. Bons movimentos, mas continua vacilando nas aterrissagens de seus saltos e usando mais da força do que recomendável. O lado lobo de Ant ainda é tanto um mistério para ele que não posso culpá-lo por não saber administrar corretamente. Ainda assim, sinto minha segunda projeção suspirar, frustrado, quando ele quebra um dos obstáculos ao invés de desviar dele. É um mal hábito que simplesmente não sei o que fazer para que suma, ou sequer diminua.

Deixo parte de minha atenção calculando listas de possíveis materiais que poderiam ser colocados nos obstáculos para que Ant não pudesse quebrá-los, mas que não fossem pesados, tóxicos ou impossíveis de serem transportados.

Enquanto isso, uma parte mínima de minha atenção está na terceira projeção que luta contra Free. Parece presunçoso dar tão pouca atenção a isso, mas a verdade é que nem Free está se esforçando muito. Ele anda em humores meio sombrios ultimamente e todo mundo sabe que isso piorou depois que a festa de outono — a sua festa — foi cancelada com ordens estritas de Peter. Seus chutes são ritmados, seus socos, medianos, mas a frequência está boa e ele parece determinado a fingir que não tem nada demais. Logo apenas bloqueio golpes e o acompanho na luta até que ele se canse. Não é difícil.

Tive anos para aprender a ser eficiente assim com minhas divisões. Lembro-me por um segundo o quanto era caótico aprender a controlar minha consciência dividida em muitas partes e multitarefas. Me dá calafrios só de pensar, sim, mas tenho orgulho do resultado dessa tortura. Minha mente está dividida em três nesse exato momento e não sinto sequer um desconforto. É como mexer os membros do corpo, tão razoável que sei que poderia me dividir mais algumas vezes antes de começar a sentir dor de cabeça.

Wendy está bebendo água diante de mim, sentada na arquibancada. Ela parece cansada, mas sei que ainda não está no limite. Sei reconhecer quando está e muito provavelmente ela ainda voltaria para o circuito hoje se não estivéssemos no fim do treino. Tenho um orgulho presunçoso dela, por mais que não admita muito. Wendy é meu projeto mais ambicioso — tirando Nenzi, que foi, e ainda é, o melhor de todos os meus lutadores. A evolução dela é aterradora. Uma imagem completamente distante da garota que conheci ao chegar na torre sete, com olheiras profundas e se escondendo de leve sob os ombros de Peter.

The Peter PanOnde histórias criam vida. Descubra agora