A hint of green

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Há um número limitados de criaturas no universo cuja lista de adjetivos que se encaixam nelas é tão extensa que acaba sendo impossível ditar. Alguns seres são um universo inteiro mesmo nos atos mais involuntários e mais simples.

Aquele garoto parecia uma dessas criaturas. Ele tinha alguma coisa ao redor de si mesmo e em si, sobre tudo. Tinha cara de arrogante, mas de alegre e de assertivo. Parecia sério, mas aberto, livre e ainda assim nervoso e curioso enquanto dava o primeiro passo para dentro da sala como se esperasse pela sua deixa de entrar na cena. Muitos adjetivos e nenhuma conclusão.

Muito teatral, pensou Wendy, assim que levantou os olhos do caderno de desenhos por um segundo, apenas para assistí-lo acenar para o ar e se meter entre as fileiras de mesas. Todos na classe assistiram, em silêncio curioso, enquanto ele vinha e sentava na cadeira de Neitan. Ao lado de Wendy. Três segundos se passaram antes do professor bater com sua régua na mesa e começar a aula, tornado a presença do garoto insignificante.

O que era tudo, menos verdade.

Primeiro começaram os cochichos, então os olhares, os cumprimentos discretos e, ao fim, a aula estava perdida. Nada era mais importante do que o garoto gato de cachos dourados que batucava a lapiseira na beirada da mesa, fingindo não notar o alvoroço envolta de si mesmo. Só fingindo mesmo, pois era impossível que não notasse. Até o final da aula, seu bolso já devia estar transbordando de bilhetes.

Antes disso, porém, aconteceu o momento mais esquisito da vida de Wendy. Ela não tinha feito mais do que tirar a atenção do caderno uma única vez e, mesmo assim, enquanto a aula seguia seu caminho, não pôde deixar de perceber o momento em que o garoto repentinamente olhou para o lado, para ela, e pareceu surpreso. Viu alguma coisa, notou algo talvez.

Só houve uma pequenina questão que tornou aquilo uma vergonha alheia absoluta. A partir dali, ele não parou mais de olhar. Por minutos e minutos seguintes. Será que estava piscando? Tinha de estar, não é? Alguém teria intervido até agora se percebessem que o garoto novo estava encarando uma aluna intensamente, sem piscar, certo? O desconforto de Wendy já devia estar palpável no ar e mesmo assim ele não parava de maneira alguma. Deixava de ser estranho e começava a ficar assustador.

Wendy, sem conseguir se conter, olhou de volta, confusa, esperando que — ao ser flagrado olhando-a — ele enfim parasse. No segundo seguinte em que decidiu fazê-lo, ela sentiu o choque que os olhos dele sempre costumam causar a primeira vez. O garoto tinha órbitas verdes quase fluorescentes, dolorosamente brilhantes e intensas. Aquilo não eram olhos, eram esmeraldas perfeitamente lapidadas coladas no rosto dele, refletindo a luz que vinha da janela. E seu cabelo era de uma cor tão mista, disforme. Um único instante e Wendy já notava. Era uma espécie de castanho bem claro que, visto em alta luz, tornava-se loiro. Qualquer um que analisasse os fios de forma meticulosa só conseguiria pensar em mel, sol e um toque ardente de ouro.

The Peter PanOnde histórias criam vida. Descubra agora