Summer Storm

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Falam não ter
relâmpago mais brilhante
que o de tempestade de verão
— Unknown




As torres da Casa na Árvore surgiam como a comida — perfeitamente fabricadas a partir da purpurina dourada e ciente das fadas. Levavam um período bem mais longo, cada centímetro meticulosamente de pó dourado acima de pó dourado, geradas pela magia de criação mais antiga, sutil e incompreensível da Terra do Nunca: magia de pixie.

A torre oito tinha três andares. Começara sendo um só, mas mudara ao longo dos anos.

O interessante nessa questão era: comumente, antes que qualquer alteração nas torres fosse feita, Peter devia ser devidamente avisado por suas pixies — que tinham em sua natureza ancestral, servir à ele e àqueles que ele escolhia cuidar.

A ironia estava no princípio: Peter nunca tinha sido informado de nenhuma das reformas da torre oito. Toda vez que descobria, já tinham sido feitas. As pixies tinham certa personalidade, sim, com ele podiam ser um tanto... dramáticas, mas dificilmente contrariavam seus instintos de subordinação. Sempre que lhe negavam alguma coisa ou paravam de atendê-lo, tinham suas próprias razões. Convencê-lo a dobrar suas roupas ou limpar os pés direito no tapete. Para Nenzi, porém, ele nunca tinha sabido de nada assim.

Era um tanto irônico. É claro que Nenzi as dobrava. Peter não sabia como, mas ele conseguia convencê-las a fazer mudanças em seu quarto e na estrutura original de sua torre sem qualquer consulta à ele ou ninguém. E simplesmente faziam como ele pedia, sendo tão discretas quanto ele desejasse.

Por isso, a oito era um mistério, uma graça interna da Casa na Árvore, o tipo de ponto misterioso que deixava as crianças curiosas, constantemente espetando os olhinhos pelas janelas com aro de ferro, amassando os canteirinhos de cosmos da noite dos beirais ao tentar espiar alguma coisa.

Nenzi era o Boo Radley da Terra do Nunca. Sempre esquivo, sem jeito com as crianças e sério demais para ser gostável. Os mais novos se dividiam entre aqueles aterrorizados e os que o achavam descolado. Back e Ever tinham certo medo dele, Andy e Zack queriam testar se all-black ficava legal neles também, algum dia.

Peter, claro, nunca tinha se deixado intimidar por essa fachada. Não. Nenzi não podia intimidá-lo, não como gostaria, e Peter tinha a péssima mania de querer ser notável. Era um hábito idiota, de menino com ego crescido, mas ele tinha completa noção de que — pelo menos, para o padrão de humanos — não passava disso. Era o que sua fachada de príncipe feérico se tornava ao redor daquelas criaturas interessantes.

Como agora, bem diante da torre oito, onde ele sabia que não devia estar e mesmo que insistisse em bater na porta, não seria recebido. Nenzi provavelmente estava em espiral de isolamento outra vez e não se deixaria ser interrompido no processo. Claro, Peter também se conhecia bem o suficiente para saber que não o impediria em nada. Ele queria ver Nenzi e faria de qualquer jeito, porque... bem, era um idiota.

O jovem príncipe ergueu a mão em um movimento fluido, mas pesado no pulso. Ar, sinuoso e escorregadio, difícil de conter, deslizou pelos arredores da construção até encontrarem abertura através de seu comando.

Por mais que tivesse nascido com a habilidade de encantar cada elemento da natureza, ele sempre fora melhor com seu fogo, e enxergava o próprio poder como uma chama. De fogueira, de vela, de tasco, não importava. Uma chama que queimava, infinita, em seu peito. E, no momento, que andava fraca, maleável, e ele passara os últimos tempos tentando descansá-la, como quem cobre a ponta da vela com a mão ou o corpo na tentativa de não exaurir a chama.

The Peter PanOnde histórias criam vida. Descubra agora