Adaptation phase

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A chuva tinha parado completamente quando Wendy botou os pés na ponte da torre cinco. Tudo na paisagem ao redor ainda se encontrava molhado e reluzente, cheirando a frescura, vida nova.

Ela tomou banho e trocou de roupa depois de almoçar com Reis, Anthony, Mare, e um Free cabisbaixo e silencioso. O garoto não fez mais que acenar ou negar em concordância à assuntos aleatórios e deixar a mesa assim que terminou de comer. Wendy quis ir com ele, descobrir o que havia de errado, mas Reis a impediu, alegando que era melhor deixar Free com seus pensamentos por enquanto. Entendendo que Reis sabia de algo que ela não, Wendy caiu de volta na cadeira.

Seu amigo cacheado também não se juntou a ela depois da torre sete, sumindo tão rápido quanto Free. Por isso, Wendy tomou banho e trocou de roupa no amplo silêncio de sua torre. Era uma sensação tão estranha, estar sozinha de novo, que ela não perdeu tempo em correr para a torre cinco, como Reis a instruíra, assim que ficou pronta.

Ao atravessar a ponte de corda, Wendy se deu conta de que reconhecia a torre cinco como a primeira torre que vira quando abriu os olhos na Terra do Nunca. A torre em que acordou depois da viagem e onde sua vida como estava hoje começou. A número cinco tinha sido entalhada para dentro do tronco da árvore gigante, tão larga que guardava cômodos confortavelmente espaçosos em seu interior rodeada apenas por varandas circulares recheadas de lanterninhas que se iluminavam ao mero baixar do sol no horizonte.

Quando Reis falava dela, chamava-a de "sala da árvore", num tom doce de acolhimento.

Wendy passou pelas portas duplas da torre, adentrando o primeiro andar e encontrou apenas o silêncio de um cômodo familiar, coberto pelo cheiro de madeira, papel e pinho molhados. Não era ruim, sinceramente. Mas o recinto estava vazio, então, Wendy subiu com cuidado as escadas de casca grossa. Suas pernas tremiam e reclamavam, queimando a cada degrau.

Lá, no segundo andar, ela reconheceu o espaço em que acordou em seu primeiro dia, mas que não teve tempo de analisar. Eram os mesmos candelabros de ferro retorcido antigo, tinha certeza, o mesmo chão laminado estranhamente bem encerado e as mesmas prateleiras embutidas nas paredes. Ela não se lembrava, no entanto, da mesa perto da janela ou das cadeiras estofadas de modelo antigo.

Lembrava-se devidamente, porém, do divã estampado — também antigo, vintage, talvez um dia dourado — em que fora colocada desacordada. Lugar, agora, onde ela observava Nenzi, no completo silêncio calmo, ler um livro sob a luz da janela. A poeira voava ao redor dele, exposta pela luz cinzenta pós-chuva, e Wendy acreditaria que analisava uma pintura romântica se não notasse, mesmo de longe, os olhos de castanho e mel dele se movendo enquanto liam.

Tempestade suave, poderia ser o nome. Alguém pagaria por ela, era certo.

Ela piscou, afastando o olhar com certa preocupação. Talvez estivesse ficando maluca. Ou melhor, era certo que estava maluca, com certeza, pensou. Quando olhou Nenzi outra vez, notou que ele estremeceu, de leve, quase imperceptivelmente, então olhou em sua direção.

Wendy piscou. Um calor terno tomava seu rosto, e ela o afastou depressa. "E aí?", saudou, incerta de onde colocar as mãos.

Pelo Nunca, lamuriou-se a vozinha dentro dela, você é péssima, espero que saiba.

Não ajudou muito o fato de que a expressão de Nenzi tornou-se uma carranca mal-humorada em sua direção.

"Está atrasada", murmurou ele, apenas, marcando a página do livro nas mãos com uma fita de seda.

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