The lost ones

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De todas as opções que ela não tinha, aquela não estava entre nenhuma. Não fazia sentido, mas nada fazia sentido de verdade agora.

Wendy sentiu o corpo cair. Pensou que explodiria de arrependimento da ideia estúpida e então entraria em desespero. Pensou que odiaria cada decisão burra ou talvez repensasse sua vidinha idiota através dos olhos, em flash.

Não foi bem assim. Foi mais calmo.

O que ela pensou que viria como um grito de desespero, veio como um grito de adrenalina, como quando gritamos numa montanha-russa, sem o medo expresso da morte, mas a dose clara do desespero. Seus olhos não ameaçaram abrir, covardes demais, mas ela sentiu tudo, desde o ar frio da madrugada de Seattle ao bater de suas costas em uma água morna, parecida com banhos de banheira e a repentina falta de sons. Não doeu. Para falar a verdade, aquilo não... parecia água. Era água. Era líquido. Era vazio. Leve. Sem densidade. Sem nada.

Wendy apertou as mãos. Sua mochila, de repente, não tinha peso. Seu próprio corpo não tinha peso. Não existia a concepção de peso.

Os sentimentos seguintes não fizeram e nem nunca fazem sentido para ninguém.

Começou sendo água. Ela tentou, com todas as forças, se impedir de respirar, mas depois de girar no nada puramente líquido do infinito por longos minutos, a confusão e o pânico trinaram seu ar. Quando Wendy ofegou, pensou que estava acabada, afogada, mas oxigênio fraco — rarefeito, mas limpo — encheu seus pulmões.

Seus olhos se abriram sozinhos, para encarar um infinito líquido de estrelas brilhantes, brancas na escuridão roxa e azulada, justamente quando o universo inteiro pareceu perder o senso. Wendy se lembrou de quando dava muitas cambalhotas debaixo d'água e sua mente perdia o senso de direção e horizonte. Tudo se inverteu e rodopiou. As estrelas infinitas se chocaram. As cores explodiram, perdidas.

Então, ela caiu da água. Não fazia sentido e, ainda assim, ela definitivamente caiu para fora da água e mergulhou numa brisa fria, ainda caindo.

Abraçando o próprio corpo, Wendy deixou seus pés se debaterem no ar. Seu cabelo quase todo no rosto enquanto ela caía tornava as mechas parte das bordas de sua visão, como cortinas histéricas, sobre uma imagem clara de um céu azul bebê coberto de nuvens rosas.

Ela ainda estava caindo. Deus, e caindo. Quanto tempo para o chão? Quantos quilômetros até a superfície amassá-la por completo? Wendy não queria a resposta, por mais que a parte racional de sua mente pensasse nas perguntas. Seu corpo todo estava em tanta confusão, desespero e euforia que não conseguia gritar ou lutar ou ter uma única reação sensata. Era apenas o silvo do vento em seu ouvido e mais nada. Wendy, por algum motivo, estava em silêncio.

Seus olhos se fecharam outra vez. Ela tremeu, assustada.

Alguém passou os braços por sua cintura e Wendy abriu os olhos, por reflexo com a surpresa. Peter. Os braços eram de Peter, que — diferente dela — parecia perfeitamente confortável.

"Ei, coisa linda", ele ronronou, sorrindo como uma criança. "Você parece familiar, já vi você por aqui?"

Wendy arregalou os olhos, desacreditada que ele tivesse capacidade para brincar. E ele tinha, mais que capacidade. Peter se desvencilhou dela para rodopiar no ar, aproveitando a queda livre. Wendy o assistiu, pasma, enquanto ele girava e girava e a fitava com naturalidade o suficiente para ambos estarem numa roda-gigante ao invés de mergulhando para morte súbita.

The Peter PanOnde histórias criam vida. Descubra agora