Anoter part of me - por MJ

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Quando Sarah me contou sobre o tal garoto, eu não podia acreditar...
   - Uma criança? Eu não pensei que crianças tivessem...
   - E acho que o caso dele é mais extremo que o seu. Podemos perguntar para a médica, se você quiser. - completou ela.

Eu percebia que Sarah tentava, a todo custo, não ser invasiva e respeitar meu espaço. Eu apreciava isso nela, mas não gostava de vê-la com pudores comigo neste sentido.
   - Quero sim! Você ajeita isso?
    - Ok! Deixa eu ver se eu consigo informações. Vou pedir para a enfermeira Rowe, assim ela se ocupa e não vem te rondar. - disse-me sorrindo em seu ciúme divertido.

Sarah saiu mais uma vez. A doutora deveria estar para voltar. Enquanto fiquei ali sozinho, vendo aqueles papéis e aquela pasta, me perguntava se era mesmo aquilo que eu queria. Na verdade, eu sabia que não. Eu queria fazer música, fazer vídeos e viver ao lado de Sarah. Mas conviver com aquela garota me ensinava que não era possível fugir das tristezas, então eu iria encarar.
Só não sabia como.
   - Oi senhor Jackson. Obrigada por aguardar.

Era a drª Lee retornando para a sala. Ela deu a volta na mesa e sentou-se. Abriu uma gaveta em sua mesa e retirou um grande álbum de fotografias.
   - Senhor Jackson, pelo seu relato, e pelo que vi no exame clínico, de fato o que temos é um caso de vitiligo, potencializado pelo lúpus. O que precisamos investigar é se o vitiligo que o acomete é do tipo universal ou misto e acompanhar a velocidade em que se espalha.

Algumas daquelas palavras não me eram estranhas... eu precisava de mais.
     - Doutora, eu confesso que nunca me aprofundei muito em saber... eu ainda tenho dificuldade em aceitar isso. Mas pode me explicar a diferença?
    - Basicamente o tipo misto do vitiligo consiste em manchas aleatórias em todo o corpo, sem um local específico ou padrão. Já o vitiligo universal, que é muito raro, acomete mais de 70% do corpo.

Muito raro. Isso era bom.
   - Certo. E pelo que Sarah e eu estávamos lendo, não há ainda um estudo para a elaboração de um remédio certo?

A doutora deu um breve suspiro, pediu a pasta da pesquisa que estava comigo e abriu em uma ilustração do sistema circulatório, então começou a explicar:
   - Nossos estudos vêm sinalizando para algumas possibilidades e já conseguimos constatar que a doença ocorre quando as células formadoras de melanina , que são os melanócitos, morrem ou deixam de produzir melanina. A grande questão é o motivo. Precisamos entender o que causa essa morte ou perda de função é só aí será possível encontrar um tratamento para paralisar o avanço.
    - Então restituir a cor da pele é impossível?

Eu sabia a resposta. Mas precisava ouvir dela.
     - Sim. Ainda é impossível para a medicina, seja devolver a cor da pele ou parar o avanço. O que cuidamos aqui é para manter a saúde da pele, mapear os avanços, e catalogar casos específicos.
    - E a senhora disse que pode ser o vitiligo universal. Qual a chance de ser?

Drª Lee se levantou. Chegou perto de mim e voltou a olhar as manchas em meu pescoço e rosto.
    - Consegue me dizer se a mancha do rosto subiu da mancha do abdômen ou ela iniciou aqui até mesclar com a anterior?
    - Ela subiu. É como se do centro do corpo estivesse se espalhando para as pontas.

A pequena médica voltou à sua mesa, pegou um papel e um lápis e começou a explicar, fazendo um desenhos simples de um corpo humano.
    - Geralmente o vitiligo se manifesta nas extremidades do corpo, e vai se espalhando, ou estaciona apenas nas extremidades. Esse é o vitiligo mais comum. O seu se manifesta de um modo mais raro de se ver.

Eu sabia o que ela queria dizer.
Ela queria dizer o que os outros médicos não tinham me falado, apesar de saberem.
    - Então, existem chances do meu caso se tratar do tipo universal, é isso?
    -  Sim, há chances.
    - E a evolução? Eu vou ficar todo branco? Em quanto tempo?
   - Infelizmente não há como saber exatamente, mas se as manchas continuarem aumentando na velocidade em que estão, elas chegarão a 70% do seu corpo em cerca 5 ou 8 anos, no máximo.

Michael Jackson - E se... - lado AOnde histórias criam vida. Descubra agora