I'll be there

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Não nos beijamos depois daquelas palavras. Apenas ficamos ali, sentados, sentindo o calor das nossas mãos encostadas. Estávamos de frente um para o outro, Michael com uma perna em cada lado do banco e eu com pernas cruzadas para o lado do lago. Ele envolvia minhas mãos nas dele e, como ambos olhávamos para baixo, estávamos com as testas encostadas.  Não sei quanto tempo passamos ali, mas quando senti o vento de chuva nas costas, sai do transe:
    - Acho melhor ir para casa antes da chuva.
    - O que você vai fazer hoje a noite?
    - Hoje? Nada... só tenho sessão da peça amanhã à noite, por quê?
    - Bom, hoje é sexta... geralmente os jovens saem para se divertir.
    - Você parece um senhor de 90 anos falando assim "os jovens saem para se divertir"...
Tentei imitar a voz dele, obviamente sem sucesso, o que o fez rir. Eu amava ouvir a risada dele.
    - Ok... é sexta e NÓS jovens saímos para nos divertir. Melhorou?
    - Um pouco... pra onde um astro da música vai quando quer se divertir? Cassinos? Boates?
Sabia que nada daquilo fazia o tipo dele...
    - Não!! Já tente ir a danceterias, mas é só eu chegar que passam a tocar apenas músicas minhas! Eu nem consigo curtir.
    - Que baita problema! - eu ri... não aguentei.
    - Ah... é chato!
    - Bom, o máximo que posso fazer por você é te chamar para ir em casa comer pizza e assistir algum vhs... mas não sei se...
    - Isso é diversão! Posso levar um vinho?
Opa? Michael Jackson quer tomar vinho na minha casa na sexta à noite? Isso era engraçado...
    - Vinho? Sua mãe sabe que você toma vinho? Não vou te acobertar!
    - Ah, palhaca!! E aí? Vamos?
Oi? Era sério?
    - Quer ir agora?
    - Ah... bom, só se não te atrapalhar...
    - A mim não... eu não tenho um disco para gravar... mas como você faz essas coisas? O bairro que moro não é como esse... quero dizer, há pessoas nas ruas, e não sei como elas reagiriam...
Michael já tinha um plano, dava pra ver pelo leve sorriso no canto da boca.
Voltamos à casa. Katherine estava vendo tv na sala. Michael anunciou:
    - Mãe, vou tomar um banho e sair com a Sarah. Acho que volto tarde tá?
    - Ok... vai dirigindo? - perguntou ela, com um certo receio na voz.
    - Hummm... não sei...
    - Vamos com meu carro, aí eu trago você depois. - propus, para o alívio da senhora Jackson.
    - Vocês são muito preocupadas... ok. Vou ligar para o Niko e pedir para ele me buscar depois. Já desço Sarah!
Michael foi falando e subindo as escadas, pulando de dois em dois degraus. Fiquei ali, de pé ao lado do sofá, sem saber nem para onde olhar. Para minha surpresa, Katherine desligou a Tv e, de um modo muito doce, me chamou para sentar ao seu lado.
    - Sabe Sarah... faz algum tempo que não via esse meu menino tão animado. Mas espero que entenda a preocupação de uma mãe, ainda mais se tratando do meu filho.
    - Sim senhora Jackson, eu imagino e compreendo. - achei que era o melhor a dizer. Katherine estava com uma almofada no sofá, e passou a distrair-se fazendo desenhos no veludo. Ela também estava pensando no que dizer. O que eu poderia dizer a ela para acalma-la?
    - Eu não sei como posso ajudar, mas penso que o melhor modo de eu mostrar que quero o bem de Michael é com minhas atitudes e não com palavras, não é?
    - Sim, sim! Gosto de saber que você é pé no chão. De certo modo, é gente como nós. Saímos do subúrbio, mas também não pertencemos totalmente a este lugar. As pessoas que Michael convive não olham para o meu filho, olham para o vocalista dos Jacksons, entende? Michael tem um coração de ouro. Ele é um menino especial, mesmo. Sei que toda mãe diz isso, mas no caso dele eu vejo bem: ele é o 7º de 9 filhos. Cada um é de um modo, apesar de termos criado a todos do mesmo jeito, mas Michael, ele funciona diferente... e de certo modo, talvez o fato de você também ser diferente, como ele me contou, te ajude a entendê-lo de verdade.
O que eu responderia?
    - Bom, para começar, estou tentando fazer ele comer...  - Katherine riu alto. Uma risada tão contagiante quanto a de seu filho.
    - Garota, se você soubesse como já gosto de você por saber que faz esse menino comer! Depois da adolescência ele pegou corpo e fica todo preocupado com o peso... diz que é dançarino, que tem que ser leve...
    - Mas também tem que ser forte. A resistência muscular é tão importante quanto à leveza! - eu já falava com voz de brava. Que ideia ridícula de ter problema com o corpo! Eu tinha um problema com o corpo dele: era difícil olhar para outro lado.
    - Isso ai Sarah. Você é professora não é? Professoras são boas em convencer. Se você fizer isso, já tem muitos pontos comigo.
    - Mais do que a branquela? - perguntei, pois sabia que a faria rir. E eu acertei.
    - Ah mais!!! Muito mais!

Michael Jackson - E se... - lado AOnde histórias criam vida. Descubra agora