YOU ARE NOT ALONE

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   - Tem um monte de repórter lá fora né?
Eu nem acreditava: mesmo com o maior cuidado do mundo para manter a data da minha alta em sigilo, a informação vazou. Michael tinha razão: sempre há alguém que vende esses furos para os tabloides, e nunca saberemos quem foi.
    - A gente pode dar um jeito de despistar eles... - disse Michael, tentando parecer otimista.
Eu não queria fugir. Tinha impressão que se fizesse isso uma vez teria que fazer pra sempre.
   - Acho melhor falar com eles...
   - Tem certeza? Todo mundo vai entender se você não falar... não se sinta obrigada.
   - Michael, esse pessoal está só fazendo o trabalho deles né? E todo mundo deve estar curioso mesmo, então, acho que não custa. Só dizer que estou bem, agradecer a preocupação, sei lá...
Eu odiava ter que fazer aquilo, mas odiava também protelar algo que teria que ser enfrentado mais cedo ou mais tarde.
Quando percebeu que não teria como me dissuadir a desistir, Michael foi pedir para Bill e Niko prepararem um local e organizar quem iria entrar. Eu estava terminando de me arrumar, mas não estava fácil.
Algumas das roupas que Bella tinha feito já estavam prontas, e escolhi um conjuntinho estilo Princesa Diana para essa primeira "aparição": saia e blazer verde água, com detalhes de estampa africana em alguns pontos. Elegante, mas com personalidade. Era isso que eu queria. Minhas tranças africanas contrastavam com a roupa, e fazia com que o visual tivesse uma identidade.
Confesso também que eu estava feliz pelo tempo estar mais frio e ser possível ficar com o blazer.
Em pouco tempo,  Bill avisou que a equipe do hospital tinha preparado uma grande sala para a imprensa e que podíamos ir assim que quisessemos.
Meu coração gelou.
   -Nós vamos juntos, vai dar certo.
   - Não Michael. Não precisa. Eu falo com eles.
Depois de alguns minutos de argumentação, ficou decidido: estaríamos juntos, mas eu iria falar. Michael não precisava se desgastar com isso.
Afinal, cada vírgula insignificante que ele falava diante de um microfone tinha potencial para virar uma manchete manipulada.
Assim que fui encaminhada para a passagem que dava acesso ao púlpito de palestras - que era num pequeno auditório - já ouvi a movimentação de repórteres e equipamentos. Pouco antes de entramos, Michael me ofereceu um óculos escuro:
    - Você vai ficar cega com os flashes.
Eu entendia a preocupação, mas queria olhar os olhos das pessoas e que elas olhassem os meus olhos. Aceitei o cuidado dele, mas sabia que assim que eu começasse a falar iria acabar tirando.
Antes mesmo de colocarmos os pés no tablado, os flashes começaram.
Minha vida particular passava a ter que lutar para existir a partir daquele momento.
"Senhorita Brown!"
"Sarah, aqui!"
"Michael! Michael!"

Lembrava o lançamento de Thriller, mas sem tanta alegria e com mais curiosidade.

Ao chegar diante do microfone, ergui minha mão esquerda (a boa) e a mantive no alto: era algo automático que eu fazia na sala para ter a atenção dos alunos sem precisar chamá-los. Não me impressionou que com adultos desse certo também.
Assim que o silêncio se estabeleceu, me aproximei do microfone e iniciei:

"Boa tarde, a todos! Agradeço a presença e a preocupação de vocês.
Eu sei que há milhares de perguntas, mas espero que entendam o fato de eu não estar muito disposta pra respondê-las hoje. Mas sei que os milhões de fãs do Michael estão malucos pra saber quem é essa maluca que pulou no fogo e agora é a namorada dele."

Ouvi alguns risos na sala. Inclusive os de Michael.
Retirei os óculos.

"Vocês me conhecem do vídeo Thrillher. Michael também me conheceu ali. Claro, eu o conhecia. Assim como vocês fãs o conhecem. Iniciamos uma parceria que se desenvolveu para uma amizade até compreendermos que estávamos nos dando bem demais para sermos apenas amigos e colegas de trabalho. Eu prometo que, assim que eu estiver menos parecida com a múmia de Tutancamon, concederei uma entrevista para algum jornalista sincero e de bom coração que se comprometa a escrever apenas o que eu disser, e então contarei mais a respeito."

Michael Jackson - E se... - lado AOnde histórias criam vida. Descubra agora