Michael Jackson - E se... - lado A

You rock my world

Não sei se Jhon percebeu alguma coisa quando entrou na recepção, afinal não havia acontecido nada, mas se eu estivesse com a mesma cara que Michael estava, ele certamente pensou que sim.

Tudo bem aqui gente? - perguntou Jhon, ainda com ares de professor do jardim da infância.
     - Sim. Você comeu Jhon? Tem bastante coisa aqui ainda. - respondeu nosso "chefe".
     -Ah, eu vim comendo um lanche no caminho. Não vai me perguntar da fita?
Jhon estava desconfiado e Michael era tão ruim quanto eu para disfarçar...
      -Ah claro! Estava pronta?
Em resposta Landis tirou o K7 do bolso.
      -Vocês ainda têm 5 minutos. Vou colocando a fita no ponto.

Depois de ir ao banheiro e colocar os saltos altos, estávamos prontos. Jhon queria ver até onde tínhamos ido no ensaio passado. Michael e eu sabíamos, mesmo sem trocar uma palavra, que essa era a parte difícil.
Fizemos toda a primeira parte, e nosso "professor" parecia bem satisfeito. Quando chegamos no ponto do choque da semana anterior, conseguimos seguir com o que tínhamos pensado: Michael passava o braço por cima dos meus ombros e eu me aconchegava em seu peito. O problema é que parecíamos bonecos de madeira sem articulações: totalmente artificial. Jhon interrompeu na hora...
      -Ah não! Estava excelente, excelente: o gingado de vocês, a troca de olhares, o movimento síncrono... Michael só precisa dançar um pouco mais perto da Sarah, mas ok. Agora, este abraço está horrivel! Parece que vocês tem espinhos na roupa!

Ouvimos calados, realmente como crianças ganhando uma bronca.
       -Ãh... certo... e como você prefere Jhon? - perguntou Michael, talvez na esperança do diretor ter outra ideia para a movimentação. Mas falhamos:

      -Eu quero um abraço de verdade! Até porque vocês precisarão se abraçar na primeira parte também, depois que ele te der o anel. Sarah, você é a atriz formada aqui. Michael tem essa timidez dele, mas espero que você quebre isso e me faça acreditar que há sentimento na cena.
"Ah, Jhon... acho que há muito sentimento, este é o problema..."
       -Ok Jhon. Vamos fazer. - dei uma certeza que mal era minha, e não tinha ideia se era de Michael, mas ele captou.
      -Sim. Vamos lá. Do início. - completou Michael com convicção.

Repetimos do início e, desta vez, aguentamos o baque, porque sim, o baque veio, como em todas as vezes anteriores: o choque na pele, o arrepio, a sensação de dormência nas pernas e a vontade de desfalecer. Se Michael sentiu o mesmo? Não poderia afirmar naquele momento, mas houve o arrepio, e houve uma pressão, não tão leve na minha cintura. Praticamente nos apoiávamos um no outro para não cair, e disfarçamos tão bem que Jhon não percebeu.

       -Aí!! É isso que eu queria! Ficou fantástico! - depois da 3ª tentativa, nosso diretor comemorava enquanto eu me sentia totalmente esgotada e como se estivesse queimando na savana africana.
Mesmo com o calor óbvio que fazia - mesmo Jhon já tinha tirado o paletó e estava com a gravata pensa e a camisa por fora da calca - Michael continuava ali, com seu suéter rosa. Ele também estava com calor, mas o máximo que se permitia era dobrar as mangas da blusa. Quis perguntar mais de uma vez, na verdade quis pedir para ele tirar o casaco, tal como eu fazia com meus alunos, mas achei que seria invasiva demais.
Depois de mais umas 4 passadas, incluindo as falas iniciais, Jhon decretou:
      - Bom crianças, acho que por hoje está excelente. Vamos pra casa. Michael, semana que vem, no mesmo horário? Como está a agenda?

Michael secava o suor do rosto com uma toalha de rosto que eu emprestei - "você tem mesmo tudo nessa bolsa!" - e olhou para o nada, como se estivesse pensando.
        -Jhon, eu acho que não... tenho quase certeza que vou estar em Nova York semana que vem.
        -Seria bom vocês continuarem ensaiando com mais assiduidade: do jeito que estavam duros no início, acho que se ficarem mais de dois dias sem se ver, capaz de terem que começar do zero de novo! Só você mesmo Michael... - Jhon terminou a frase rindo, como que deixando o pensamento solto, sem concluir. Michael percebeu, mas não pediu para ele completar. Achei que eu precisava dizer alguma coisa para ajudá-lo.