GIRLFRIEND (POR MICHAEL JOE JACKSON)

105 14 5
                                    

Por um minuto, ou menos, foi como se nada no mundo se encaixasse e eu estivesse vendo uma parte de um roteiro que eu não conhecia.
Mas não era roteiro. Era real.
Sarah estava em chamas e eu era a pessoa mais perto dela.
Era como se eu mandasse minhas pernas se firmarem, mas o comando demorasse tempo demais para chegar a elas, e isso nunca tinha acontecido. Eu não estava machucado, por quê não me levantava?
Quando finalmente cheguei até ela, Niko e Jermaine chegaram junto comigo. Niko batia o blazer nela, tentando abafar o fogo e Jermaine fazia o mesmo com as mãos. Seu lado direito queimando. Era possível sentir o cheiro de material sintético e, por Deus, pele queimando.
Eu não tinha a frieza dela diante dessas situações. Eu apenas gritava.
    - Sarah! Fala comigo, Sarah!
Seus olhos se abriram tanto que pareciam que se soltariam das órbitas, tamanha devia ser a dor. Mas depois, quando eles começaram a se fechar, lentamente eu fiquei ainda mais assustado.
Segurei a mão esquerda dela com força, e ao invés de acalmá-la, eu só conseguia berrar:
    - Não, Sarah, não vai... fica aqui, fica aqui!!!
Em uma olhada rápida não era possível discernir o que era pele, o que era roupa. Me lembrava que ela vestia uma jaqueta preta de vinil e que seu cabelo estava solto, mas... agora parecia preso...

Em poucos minutos alguém trouxe gelo enrolado em uma camiseta, e depois de mais algum tempo, que me pareceu uma eternidade, avisaram que a ambulância tinha chegado. Seus olhos estavam fechados e ela não respondia. Eu estava apavorado. Não conseguia ouvir o que diziam à minha volta.
Tudo que eu pensava era que eu não tinha feito o suficiente por ela. Aliás, eu não tinha feito NADA por ela. Eu a estava escondendo, mantendo-a como um segredo, enquanto ela merecia tudo. Enquanto ela me dava TUDO.
Eu não queria sair do lado dela, e continuei segurando sua mão esquerda enquanto os paramédicos a colocavam na maca. Saí dos meus pensamentos quando Marlon sussurrou ao meu ouvido:
   - Mike, os médicos vão levá-la. Você não pode ir junto cara, vai ser um tumulto...
Então me dei conta que eles a tratariam como alguém comum. Ela não tinha pais, irmãos e nem ninguém que estaria lá para ouvir o que tinha acontecido, para receber as notícias, para dizer "olá" quando ela, por Deus, acordasse.
Não seria um tumulto que me impediria.
     - Eu vou Marlon. Avisa a mãe. Fala pro Jhon e pro Frank que eu quero o melhor hospital.

O Centro Médico Cedars-Sinai era um bom hospital, mas eu não sabia se era o melhor.
Enquanto Sarah recebia os primeiros cuidados, eu fui colocado para esperar em um quarto... me lembrei dos dias que visitei Sarah enquanto ela cuidava da senhora Jhonson. Eu tinha um telefone à minha disposição, e fiz um monte de ligações... precisava falar com alguém...

    - Alô.
    - Diana! Oi, sou eu. Pode falar?
     - Michael? Oi! O que aconteceu?
     - A Sarah... ela sofreu um acidente... eu estou no hospital com ela. - era inevitável chorar ao relembrar a cena.
Falei com Diana, que tentou me acalmar o quanto pode, enquanto minha mãe não chegava. Os rapazes tinham ido buscá-la.
Era engraçado falar com Diana sobre Sarah. Engraçado pensar que, menos de um ano antes, era ela a dona de meus pensamentos e sonhos. Agora tinha virado a confidente sobre meus sentimentos pela garota que representava minha salvação.
Mas eu não tinha sido capaz de salvá-la de mais aquela tragédia.

Mamãe chegou com os meninos uns 40 minutos depois. Eles foram encaminhados ao quarto em que eu estava e não foi preciso nenhuma palavra para ela ver o que eu sentia.
Apenas ela e Sarah tinham plenamente essa capacidade.
    - Ah querido... vem cá. - disse minha mãe, envolvendo-me em um abraço e me fazendo chorar de novo. Senti os braços dos meus irmãos me envolvendo também.

Cerca de meia hora e um calmante depois, eu já conseguia ouvir o que me diziam.
     - Parece que foi uma fagulha dos fogos... pegou no cabelo dela e na jaqueta. - disse Randy.
     - Cara... ela tinha lido o rótulo do spray de cabelo que a gente tinha usado um pouco mais cedo... até brincou que dava para fazer uma bomba com ele de tanto produto inflamável que tinha. - contou Jermaine.
      - Ia pegar em você cara. Por isso que ela te empurrou. O lugar que caiu era justamente onde você estava. Acho que ela lembrou desse negócio do spray e, rápida como a cabeça dela é, correu pra te tirar de lá. - concluiu Marlon.
      - Ela só não conseguiu ser rápida o suficiente para sair também. - terminou Tito.
Jackie tinha ido atrás da equipe médica em busca de informações. Niko, que tinha queimado a ponta dos dedos, foi para casa e Bill estava do lado de fora da sala.
      - Ela me salvou mãe. Me salvou e agora está lá... - era o que eu conseguia dizer.
     - A Sarah é um anjo de Deus na sua vida meu filho... Ele está tomando conta dela.
As palavras da minha mãe me fizeram lembrar das palavras do pastor: "ela é como um soldado que te da cobertura".
Quando Jackie entrou acompanhado de um médico, todos ficamos em pé.
    - Olá a todos, as notícias são boas.

Michael Jackson - E se... - lado AOnde histórias criam vida. Descubra agora