Dancing Machine

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- E é isso. O prêmio vai ser entregue em um evento no mês que vem.
Michael tinha acabado de contar a grande novidade. Era engraçado como ele tentava manter-se tranquilo enquanto todo mundo aplaudia e gritava.
- Meu filho... eu tenho tanto orgulho de você! Nem sei o que dizer! Deus te abençoe... - As palavras de Katherine eram cheias de carinho, e o abraço entre eles foi uma lindíssima cena.
Joe, tinha um outro modo de expressar sua satisfação:
- Você aprendeu com os melhores, meu filho. Absorveu o conhecimento e o aperfeiçoou. Escolheu as pessoas certas e se dedicou. Não tinha como ter outro resultado. Você é o maioral. Meus parabéns.
Joe era emocional, mas parecia sempre forçar-se a colocar a razão em primeiro plano. Eu conseguia ver nos olhos claros dele que havia um desejo enorme, tão grande quanto o de Katherine, de abraçar o filho e beijá-lo, mas por alguma razão ainda desconhecida para mim - e para Michael - ele não o fazia. Ao invés disso, sintetizava tudo numa frase racionalmente perfeita, que resumia o enorme processo de sangue, suor e lágrimas de Thriller.
- Obrigado Joe. - foi a resposta de Michael.
- Precisamos sair e comemorar!! - disse Lá Toya, que já tinha saído do seu ciclo de amargura e desconfiança - O que acha Janet?
- Apoio totalmente! Onde vamos?
- Epa, epa... depois de amanhã eu volto para a estrada meninas! Preciso descansar... - respondeu Michael, sorrindo pela alegria delas, mas ponderado nas decisões.
Porém, no fundo, eu também achava que uma comemoração era merecida.
- Michael, vamos combinar: você não vai dormir hoje até estar caindo de exaustão. Acho que sair e dançar seria bom e merecido. - argumentei, para a alegria das minhas cunhadas.
- Uau!! Fechado! Vou fazer umas ligações, ver o que está rolando hoje aqui em Los Angeles! - disse Janet, já deixando a mesa e subindo as escadas.
- Quem está de plantão? Niko? - perguntou Toya.
- Hey, hey! Calma aí! Eu nem concordei ainda, nem avisei ao Quincy e nem ninguém da equipe... - dizia Michael, tentando ser ouvido.
Meus pensamentos arquitetaram um plano em menos de dois minutos. Ali não seria possível compartilhar com, mas algumas palavras bastariam para ele entender.
- Acho que uma comemoração só nossa, pelo menos hoje, pode ser divertido. - disse a ele, piscando discretamente.
Ele entendeu.

- Janet, este lugar é bom mesmo? - perguntava Toya, animadíssima no banco de trás do carro.
Decidimos que iríamos disfarçados e que ficaríamos num camarote mais isolado. O contato de Janet garantiu que não seríamos importunados e - igualmente importante - a playlist da noite não seria alterada. Michael detestava ter que dançar apenas as próprias músicas quando chegava a uma festa.
- Tenho bons contatos, minha irmã! Confie! - respondeu Janet que estava ao seu lado.
Michael dirigia o Mercedes da família, já mais confiante em pegar as rodovias para evitar ruas menores, e eu ia ao seu lado. Nossos disfarces eram hilários e precisamos ter saído de um filme B de Hollywood: Toya prendeu o cabelo castanho e cacheado embaixo de uma peruca loira e lisa, na altura dos ombros. Janet colocou um boné virado pra trás e tranças rastafari. Eu estava com uma peruca estilo black power adornada por uma faixa. Michael era o único que se salvava com seu disfarce, antigo, mas ainda incógnito, de Joe. Todos completavam suas produções com grandes óculos escuros.
Claro que não dava para simplesmente confiar em um disfarce e então no carro atrás de nós estava Niko e mais dois seguranças.
No toca fitas, Thriller, claro! Em alto e bom som.
- Acho que temos que baixar este volume. Vão acabar nos descobrindo quando estacionarmos. - disse Michael, rindo, mas preocupado.
- E o que você quer ouvir? Prince? - perguntou Janet, fazendo todos nós cairmos na gargalhada.
- Não! Prince não! - respondeu Michael, também aos risos.
Não que ele tivesse algo contra o moço, mas Michael sabia das suas qualidades musicais e, apesar de achá-lo meio exagerado, sabia que era um bom rival. E o espírito competitivo de Michael adorava este tipo saudável de rivalidade.
Ao chegarmos ao local, era possível ver uma enorme fila. Fila essa que não enfrentaríamos .
- Oi Roy! Valeu por conseguir o camarote assim tão em cima da hora!
Janet agradecia ao seu amigo, que a tratava com enorme gentileza, a ponto de atrair os olhares ciumentos do irmão. Estávamos num estacionamento privativo, embaixo do imóvel, e ainda assim era possível ouvir o som da música ao longe.
- Que isso princesa! Dispensei meia dúzia de ricaços brancos e chatos para ter vocês nessa noite. Foi um prazer fazer isso!
Feitas as apresentações, Roy, que parecia ser o dono da discoteca, nos conduziu por uma estreita escada que nos levava direto para o mezanino onde ficava o camarote. Havia outras pessoas no local, mas nossa "reserva" nos garantia um excelente espaço, com uma pista de dança privativa, sofás e uma certa separação dos demais frequentadores. Niko e mais dois seguranças garantiam, quase discretamente, essa separação.
Quando entramos, era Beat it que tocava. Michael já revirou os olhos.
- Meu amor... não adianta reclamar: o que pode ser feito se as pessoas gostam da sua música? Se continuar assim, vai acabar quebrando o recorde de vendas, hein?! - cochichei em seu ouvido, fazendo-o rir.
- Ok, ok... vamos dançar!
Michael estava feliz. Animado. Janet, Toya, Michael e eu fizemos uma fila e dançamos a coreografia de Beat it quase inteira. Na hora de simular a briga, caímos na gargalhada com Janet e Toya fingindo ter um canivete cada uma.
As vezes eu cutucava Michael:
- Hey, dá pra dançar menos bem? Vai acabar nos denunciando!
Ele sorria, e mesmo com os dentes tortos da prótese que ele tinha medo de retirar e ser reconhecido, era um sorriso lindo de se ver. Lindo por tudo o que significava.
Não foram só as músicas do Michael que tocaram naquela noite. Muitos sucessos, dos anos 70 e atuais, nos embalaram. Mas era perceptível que, quando a música era de Michael, ou dos Jacksons, a pista se enchia e inflamava.
- Uau! As pessoas gostam mesmo né? - perguntou-me, um momento que nos debruçamos na grade do camarote e olhávamos para baixo.
Era lindo: ele tinha os olhos brilhantes de alegria em ver que a sua arte entretinha mesmo as pessoas.
Eram quase 20 anos de estrada e ele ainda se maravilhava com isso.
- Sim! Você tem um dom. E agora ele está sendo reconhecido! - respondi.
- Sou grato a Deus por isso, sério! Não parece real.
Eu o olhava com tanta admiração...
- Se pra você não parece real, imagine para mim?!
Então PYT começou a tocar.
- Ahh!!! Eu amo essa canção!!! Dança comigo! - pedi.
- Estou sendo tirado para dançar, não dá para negar!
E nós dançamos. Felizes, jovens, saudáveis, ainda que cada um levasse em seu corpo as próprias marcas e máculas. Tínhamos uma vida e podíamos vivê-la juntos. Isso era uma benção tão enorme quanto a conquista que ele tinha acabado de conseguir. A alegria fez a gente esquecer da discrição: cantávamos e dançávamos tão livres e a vontade quanto naqueles dias na casa de Diana.
Mas dançar com Michael sendo Michael Jackson tem suas consequências.
- Hey, vocês dois! Estão chamando atenção demais! - Janet disse no meu ouvido.
Quando abri os olhos, dei de cara com um grupo de garotas que nos olhavam por trás das costas dos seguranças.
Opa.
Disfarçamos e diminuímos o ritmo, até nos sentarmos.
A certa altura, quando as canções mais lentas começam a tocar, Michael quis arriscar novamente.
- Tem certeza? Será que não é melhor sairmos e deixarmos as meninas? - perguntei.
- A última vai. Já estamos aqui...

Michael Jackson - E se... - lado AOnde histórias criam vida. Descubra agora