A vida de um rato é melhor do que a de um Ulin

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Capítulo 1

A vida pode ser muito cruel para algumas pessoas. Enquanto uns estão sentados em morros de riqueza, comendo e bebendo farturas de alimentos deliciosos, dormindo em enormes casas confortáveis; outros estão em celas sujas e apertadas, com uma mísera refeição durante todo o dia de restos nojentos de outras pessoas e dormindo no chão imundo com ratos. Era muito irônico que no mesmo mundo existia um contraste tão grande.

Eu não era um desses privilegiados que possuía essa vida impecável. Talvez um cachorro de rua tivesse uma vida melhor que a minha. Talvez até o rato que compartilha essa cela comigo tenha uma vida melhor.

Suspiro, me mantando encolhido sentado sobre o chão gelado e sujo.

E o que eu fiz para merecer uma vida assim? O que eu fiz para merecer ser acorrentado e maltratado? Eu nasci sendo um Ulin.

Humanos são egoístas, egocêntricos e arrogantes. O fato de ser diferente já os causa aflição e repulsa. Se você não for igual, não será aceito. Então óbvio que uma raça diferente como os Ulins seriam discriminados assim.

Meu povo vive assim. Sofremos ataques de humanos, somos caçados e usados da forma que querem. Não existe algo que nos proteja. Somos como produtos selvagens que podem ser caçados quando quiserem.

Então quando fui pego em minha vila o destino que a minha vida tomou podia ser apenas um: um escravo. Desde pequeno fui trancado em várias jaulas, fui exibido em muitos lugares e me usaram de todas as formas.

Meu corpo era repleto de marcas de manchas roxas do tanto de sangue que tiravam de mim, afinal os Ulins tinham um sangue com propriedades que curavam humanos de qualquer doença ou machucado. Além disso, fui forçado a tomar todo tipo de veneno para testar sua eficácia, já que não morreria por o corpo dos Ulins serem resistentes a venenos. E o pior de tudo, já tive quase meus olhos arrancados por terem uma cor bonita e única, porque Ulins tinham olhos vermelhos como rubis.

Aí no final de tudo me pego pensando, humanos são realmente a escória... malditos humanos...

Eu simplesmente os odeio. Odeio com todas as minhas forças.

— Ei, aberração.— levanto a cabeça com os olhos muito cansados, mal conseguindo deixá-los abertos.— Está na hora de mais uma colheita.

Assim a cela foi aberta e o homem que eu abominava entrou.

Eu não tinha forças. Ontem tiraram tanto sangue de mim que desmaiei e acordei a pouco tempo. Como se não bastasse hoje ele veio retirar mais.

— Nem me olhe com essa cara.— disse sorrindo ao notar meu olhar de ódio ao se aproximar de mim.— Você é só um grande lixo. Deveria estar agradecido por nós humanos estarmos lhe dando alguma utilidade, Ulin.

Ele falou "Ulin" com todo o seu desprezo. Isso não me surpreendia, nem me machucava mais. Estou como escravo a anos e tudo o que tive nesse tempo foi desprezo.

— Não me toque, humano!— juntei toda a minha força e bati em sua mão, onde estava a seringa.

Estava cansado demais, mal possuía consciência, mas ainda pude sorrir satisfeito. Não era grande coisa, mas pelo menos pude quebrar a seringa que agora estava em várias pedaços no chão.

— Seu maldito!— gritou e logo desferiu um grande soco em meu rosto.

Outra coisa normal em meu dia a dia, agressões. Ulins tinham corpos resistentes e por mais que apanhasse a ponto de morrer, não morríamos.

Era quase uma tortura ter um corpo assim.

Para ser sincero, preferia ter morrido logo.

Já estava no chão. Estava sem forças e seu simples soco foi o suficiente para me derrubar. Ele falava muitos xingamentos ao mesmo tempo que me chutava com toda a sua força.

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