Capítulo XX: Barganhas e Subornos

54 2 0
                                    

― QUAL O NOVO PLANO?

― Quer falar mais baixo? ― Clio lançou um olhar zangado para Astro. ― Eu vou lhe contar, só não quero que a torre inteira fique sabendo também.

― Desculpa. ― Ele se sentou no tapete do quarto. ― É que você está fazendo tanto mistério. Eu fiquei curioso.

Astro estava sendo dramático. Ela só não contara ainda sobre o seu plano porque não tivera tempo. Depois que ela teve sua epifania na biblioteca, não demorou muito para que Ismini e Vênus chegassem. Ela passou a noite conversando e brincando de ler cartas com a humana ― no caso, Vênus tentava interpretar as cartas e Clio julgava se suas figuras eram bonitas ou não ― e o dia fazendo poções para a sua mãe. O único momento que ela tivera para planejar fora na madrugada passada. Enquanto ele dormia, ela ficou andando de um lado para o outro do quarto, aproveitando a insônia para pensar e tramar.

Nessa noite, ela estava sozinha com Astro. Vênus e Ismini tinham ido dormir cedo, como sempre faziam na véspera dos duelos. Ainda assim, Clio decidira não arriscar e não acendera nenhuma lamparina no seu quarto. Se guiando apenas pela luz da lua, ela tateou o interior do seu guarda-roupa.

― Eu vou para Vésper hoje ― ela disse, vestindo calças de linho folgadas nas pernas e apertadas nas panturrilhas. ― Vou tentar encontrar alguma bruxa que saiba mais sobre os mecanismos de uma benção.

― Espera aí ― Astro a interrompeu. ― Você sabe onde encontrar uma bruxa dessas ou o plano é simplesmente vagar por aí até topar com uma?

― Não vou vagar por aí. ― Talvez ela tivesse que vagar por algum tempo, mas essa era uma parte que ele não precisava saber. ― Dizem que Vésper tem todo tipo de criatura. Não deve ser difícil achar uma bruxa ou alguém que conheça uma. De qualquer jeito, é muito mais produtivo do que vasculhar os livros velhos de Ismini. Pensando bem, eu até posso averiguar as bibliotecas de Vésper ― ela ponderou.

Clio terminou de se vestir e pôs a sua bolsa tiracolo. Mais cedo, a híbrida tinha colocado nela uma porção de itens que poderiam vir a calhar durante a sua excursão: um cantil de água, duas maçãs e as quinze pratas que tinham sobrado das suas economias ― não era muito, mas era para emergências, de qualquer jeito. Por cima dos ombros, ela passou a sua capa, um pouco empoeirada pelo desuso. A adaga dela estava guardada em um compartimento da roupa por precaução.

A híbrida olhou no espelho a sua silhueta iluminada pela luz azul da lua. Vestida daquele jeito, ela parecia mais velha, mais perigosa, mais do que ela realmente era. Para dar um toque final, Clio penteou o seu cabelo para trás com as mãos, deixando as orelhas pontudas à mostra. O foco daquela noite era encontrar uma maneira de ajudar Vênus, mas ela não conseguia deixar de se sentir orgulhosa por mostrar o que pareciam ser suas verdadeiras cores.

Atrás dela, Astro a encarava pelo reflexo do espelho.

― Parece arriscado, Clio ― ele disse, temoroso.

A híbrida se virou.

― Vale a pena por Vênus.

Clio desceu as escadas na ponta dos seus pés descalços com Astro tentando manter as patas silenciosas enquanto a seguia. A respiração de ambos só voltou ao normal quando eles finalmente chegaram no térreo. Quase lá.

A híbrida tirou as suas botas do armário e as calçou. Astro a observou ansioso. Ela franziu o cenho para ele. Quando ela foi até a porta e ele continuou a segui-la, ela entendeu o que estava acontecendo.

― Você não vai comigo, Astro.

― O quê?! ― ele exclamou em um sussurro.

― É perigoso demais.

VÊNUS SEM AMOR [concluído]Onde histórias criam vida. Descubra agora