Capítulo XVII: Coração e Benção

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NADA ACONTECEU A CLIO, ao menos por alguns dias.

Ela ajudava Vênus com Cura nos dias de duelo e a levava para a colina depois de assisti-la treinar nos dias de folga. Com a quantidade de tempo que elas passavam juntas, Clio não sentia necessidade de ir para o torneio, e nem Vênus insistia no assunto.

Seguir uma rotina dava um senso de propósito a Clio. A garota ficara tão acostumada com ela que deixara de checar a posição do sol. Um estranho instinto lhe alertava quando a hora em que Vênus e Ismini (e Ketu quando a ave ia com elas) chegavam se aproximava. Obviamente, esse instinto nem sempre acertava.

― Você está atrasada ― Astro avisou ao entrar no quarto.

Clio levantou da toalha e foi apressada até o lavatório-barra-umidificador. Ela tinha passado a última hora adicionando água à argila endurecida que restara na sua gaveta, tentando fazê-la útil novamente, sem conseguir. Nada de novo sob o sol de Atera.

Talvez fosse a hora de se aposentar da sua carreira fracassada como ceramista.

― Há quanto tempo? ― ela perguntou enquanto lavava as mãos.

― Uma meia hora.

Ela engasgou.

O quê?! Por que você não me falou antes?

Antes que Astro pudesse se explicar, Clio disparou para a escadaria, subindo os degraus de dois em dois, tão preocupada em não tropeçar e cair que quase esbarrou em um borrão preto no topo das escadas.

Clio freou um segundo antes de bater de frente com Ismini.

― Olhe por onde anda, Clio. Você sabe que não deve usar as escadas correndo ― a bruxa a repreendeu. Na mão dela estava uma poção de Cura recém-feita, radiando um vermelho intenso. 

― Desculpa... ― Por ter subido as escadas correndo. Por ter te ignorado nas últimas semanas. Pelo incidente da sala de estar. Por existir e por ter arruinado a sua vida. ― Mãe...

Ismini levantou a palma da mão.

― Não é necessário. Eu sei. ― A bruxa ajeitou uma mecha do cabelo da filha para trás da orelha dela. Clio arregalou os olhos com o gesto. ― Eu falei o que não devia e você também. Vamos deixar tudo essa confusão de lado. Aqui, leve isso para Vênus. Ela está no quarto dela. ― Ismini estendeu a poção para ela que a pegou involuntariamente.

A híbrida abriu a boca para falar mais, mas Ismini já tinha ido embora.

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Clio bateu três vezes na porta do quarto de Vênus.

― Pode entrar!

A híbrida abriu a porta e a fechou atrás de si. Sentada no sofá, Vênus vestia uma camiseta larga e calças de linho enquanto limpava um ferimento no seu tornozelo.

― Ei, eu já estava me perguntando... ― Ela ergueu a cabeça quando Clio se aproximou. Um corte enorme cruzava seu supercílio, mas ela não aparentava se importar ou sentir dor. ― Nossa, sua cara parece a de quem viu um fantasma. Aconteceu alguma coisa?

― Acabei de falar com a minha mãe.

Elas ficaram em silêncio por um momento.

― E então...? ― Vênus indagou por fim.

Clio apoiou a poção em uma mesa de canto, atualmente ocupada pela armadura de Vênus, e deixou escapar ma longa e pesada expiração.

― Ela reconheceu que nós duas erramos e disse para deixarmos tudo de lado. Você acha que está tudo bem agora?

VÊNUS SEM AMOR [concluído]Onde histórias criam vida. Descubra agora