NADA ACONTECEU A CLIO, ao menos por alguns dias.
Ela ajudava Vênus com Cura nos dias de duelo e a levava para a colina depois de assisti-la treinar nos dias de folga. Com a quantidade de tempo que elas passavam juntas, Clio não sentia necessidade de ir para o torneio, e nem Vênus insistia no assunto.
Seguir uma rotina dava um senso de propósito a Clio. A garota ficara tão acostumada com ela que deixara de checar a posição do sol. Um estranho instinto lhe alertava quando a hora em que Vênus e Ismini (e Ketu quando a ave ia com elas) chegavam se aproximava. Obviamente, esse instinto nem sempre acertava.
― Você está atrasada ― Astro avisou ao entrar no quarto.
Clio levantou da toalha e foi apressada até o lavatório-barra-umidificador. Ela tinha passado a última hora adicionando água à argila endurecida que restara na sua gaveta, tentando fazê-la útil novamente, sem conseguir. Nada de novo sob o sol de Atera.
Talvez fosse a hora de se aposentar da sua carreira fracassada como ceramista.
― Há quanto tempo? ― ela perguntou enquanto lavava as mãos.
― Uma meia hora.
Ela engasgou.
― O quê?! Por que você não me falou antes?
Antes que Astro pudesse se explicar, Clio disparou para a escadaria, subindo os degraus de dois em dois, tão preocupada em não tropeçar e cair que quase esbarrou em um borrão preto no topo das escadas.
Clio freou um segundo antes de bater de frente com Ismini.
― Olhe por onde anda, Clio. Você sabe que não deve usar as escadas correndo ― a bruxa a repreendeu. Na mão dela estava uma poção de Cura recém-feita, radiando um vermelho intenso.
― Desculpa... ― Por ter subido as escadas correndo. Por ter te ignorado nas últimas semanas. Pelo incidente da sala de estar. Por existir e por ter arruinado a sua vida. ― Mãe...
Ismini levantou a palma da mão.
― Não é necessário. Eu sei. ― A bruxa ajeitou uma mecha do cabelo da filha para trás da orelha dela. Clio arregalou os olhos com o gesto. ― Eu falei o que não devia e você também. Vamos deixar tudo essa confusão de lado. Aqui, leve isso para Vênus. Ela está no quarto dela. ― Ismini estendeu a poção para ela que a pegou involuntariamente.
A híbrida abriu a boca para falar mais, mas Ismini já tinha ido embora.
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Clio bateu três vezes na porta do quarto de Vênus.
― Pode entrar!
A híbrida abriu a porta e a fechou atrás de si. Sentada no sofá, Vênus vestia uma camiseta larga e calças de linho enquanto limpava um ferimento no seu tornozelo.
― Ei, eu já estava me perguntando... ― Ela ergueu a cabeça quando Clio se aproximou. Um corte enorme cruzava seu supercílio, mas ela não aparentava se importar ou sentir dor. ― Nossa, sua cara parece a de quem viu um fantasma. Aconteceu alguma coisa?
― Acabei de falar com a minha mãe.
Elas ficaram em silêncio por um momento.
― E então...? ― Vênus indagou por fim.
Clio apoiou a poção em uma mesa de canto, atualmente ocupada pela armadura de Vênus, e deixou escapar ma longa e pesada expiração.
― Ela reconheceu que nós duas erramos e disse para deixarmos tudo de lado. Você acha que está tudo bem agora?
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VÊNUS SEM AMOR [concluído]
FantasyQUE SEU CORAÇÃO DE FERRO SEJA SUA ARMADURA, TE PROTEGENDO PARA SEMPRE DA LÂMINA DO AMOR. Clio é filha de Ismini, uma das bruxas mais poderosas do condado de Atera. Sua linhagem deveria fazê-la tão respeitada quanto sua mãe, mas o sangue humano de se...