Capítulo XXXI: Amor e Cura

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POR QUE O SOL PARECIA BRILHAR MAIS QUANDO ela estava pura tempestade? Era a pergunta que não saía da cabeça de Clio ao se deparar com a estrela radiante no céu enquanto saía da torre carregada por Vênus.

Vênus queria ter aquela conversa à beira do rio Crescente, onde elas se conheceram, mas seria humilhante demais ficar mais tempo ainda nos braços dela, então Clio se recusou e Ismini a ajudou, argumentando que atrapalharia a melhora dela ficar tão exposta. Por fim, as três chegaram em um consenso e as duas garotas desceram para a clareira.

A humana cuidadosamente a deitou na grama como se ela fosse um cadáver, desenrolou a toalha que elas usavam em seus piqueniques na colina Nascente, a moveu para cima do tecido e se sentou ao lado dela, os cotovelos apoiados nos joelhos dobrados e o olhar fixo no horizonte. Um silêncio insuportável se instalou entre elas. Depois de dez minutos, Clio percebeu que a humana estava esperando que ela o rompesse.

Demorou mais dez minutos para que Clio conseguisse falar.

― O quanto da minha conversa com Ismini você ouviu?

― Toda ― respondeu, sincera. Clio quis que um raio caísse em cima dela. ― Astro me chamou para bisbilhotar e eu tive medo que Ismini pegasse pesado contigo. Queria tanto estar lá caso você precisasse que nem pensei que podia escutar algo que não devia.

― Mas você não saiu quando Ismini começou a chorar.

― Vai me culpar por ser curiosa?

― E nem parece surpresa porque não existe nenhuma benção. ― Clio a ignorou.

― Eu já sabia.

― Assim como sabia que eu estava apaixonada por você?

― Eu descobri as duas coisas ontem de madrugada, Clio. Pouco antes de você simplesmente sumir ― Vênus disse, soando pela primeira vez impaciente. Excelente. Clio queria receber seu descontrole, seu ódio. ― Toda a minha vinda eu pensei que nunca poderia amar ninguém. Imagine só receber carinho da sua mãe ao mesmo tempo que sabe que ela tem medo de que você vire um monstro quando ficar mais velha. Me sentia uma pária, uma alienígena. Só comecei a duvidar de que talvez não fosse bem assim quando conheci mestre Andreas Cair-da-Noite. Ele sabia da benção e mesmo assim me tratou como uma filha. Agora eu sei que eu também o amo como se fosse meu próprio pai, mas eu só soube disso depois que você me beijou.

"Eu gostei de você desde que eu te conheci, com suas túnicas e chapéus coloridos, seu jeitinho exótico e seu humor ácido. Desde o início fiquei pensando que, se eu pudesse me apaixonar por alguém, de todas as criaturas, eu queria que fosse por você. Quando você saiu do quarto depois de me beijar, eu chorei muito, me perguntando por que eu era condenada a não sentir nada tendo alguém tão legal querendo ficar comigo. Daí eu notei que eu não não sentia nada. Eu amo Andreas, amo minha família, amo Ismini, amo Astro, acho que amo até Ketu e, principalmente, eu amo você. Céus, eu amo você, Clio. Só não amo do jeito que você quer que eu te ame."

― Por quê? ― Foi a única perguntou que Clio aguentou fazer. A outra ficou presa em sua língua.

Por que eu não sou suficiente para você?

― Eu não sei ― Vênus reconheceu. ― Mas não é nada pessoal. Lembra de quando eu te falei que sempre achei graça das histórias de amor que contavam no acampamento? Não importava quão emocionantes elas fossem, eu só as achava fofas. No máximo queria que o casal ficasse junto. Nunca suspirei como as outras pessoas faziam ou quis aquilo para mim. De primeira, eu achei que tivesse a ver com a benção, mas agora eu vejo que faz parte de mim. Eu sinto amor, mas não sinto paixão. Quem sabe foi por isso eu tenha passado tanto tempo para perceber que a benção era uma mentira. O mundo me fez acreditar que não me apaixonar significava que eu tinha um coração de gelo, ou de ferro.

VÊNUS SEM AMOR [concluído]Onde histórias criam vida. Descubra agora