Capítulo XXV: Obsessão e Inquietação

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A PRIMEIRA DESCOBERTA QUE CLIO FEZ AO BEIJAR VÊNUS foi que estranho não necessariamente significava ruim.

Beijar era estranho. O silêncio repentino, a sensação de uma respiração contra a dela, de lábios encostando, de narizes raspando e da clavícula de Vênus subindo e descendo sob as palmas dela. E, claro, o cheiro da essência de jasmim a envolvendo como um abraço. Jasmim, jasmim, jasmim por todo lugar.

Era estranho. Era fenomenal. Era bizarro. Era mágico. Sem contradições, apenas encontros de respirações e de lábios e de narizes e da clavícula de Vênus com as mãos de Clio e dos dedos da humana com a cintura da híbrida.  Era imperfeito. Era o mais próximo de perfeição que Clio já tinha encontrado. Sem contradições.

A segunda descoberta foi que o beijo não quebrou a maldição de Vênus.

Ele chegou ao fim, deixando Clio com seus sentidos dopados, seu pelos arrepiados e sua mente em frenesi. Enquanto isso, Vênus, que era gentil demais para se afastar abruptamente, delicadamente tirou as mãos da híbrida da sua clavícula assim que o enlace delas se desfez. Foi sutil. Foi o suficiente. Nada havia mudado.

― Você... sanou a sua dúvida? ― Vênus perguntou, hesitante, mas com a respiração inalterada. 

― Sim. Creio que sim ― Clio gastou o resto de coragem que lhe restava para respondê-la. ― E-eu vou deixar você dormir. Até mais tarde, Vênus.

Ela se levantou do sofá e saiu da sala-quarto antes que Vênus dissesse qualquer outra coisa. Ela não tinha a intenção de voltar ali tão cedo.

Lágrimas desciam pelo rosto de Clio enquanto ela subia as escadas aos gritos da sua consciência.

Garota burra, burra. Você realmente achou que toda essa baboseira de beijo de amor verdadeiro iria vingar? Não passa de uma história de ninar para crianças tolas e estúpidas, que nem você.

Ela entrou em seu quarto e fechou a porta, desejando que também houvesse uma forma de trancar seus pensamentos lá fora.

― Clio? ― Astro perguntou por ela. Os olhos dele se arregalaram com a visão das lágrimas dela.

― O que é?! ― Ela esfregou o antebraço no rosto para enxugá-lo.

― A gente... ― Ele respirou fundo e endureceu o semblante. ― A gente precisa conversar.

― Eu não estou a fim de ter nenhuma conversa alentadora sobre os meus sentimentos e blá blá blá ― ela disse e passou a água do umidificador na face, lavando as provas de que ela estava chorando. ― A única da qual preciso agora é ir dormir e esquecer que eu existo.

― Eu estou falando sério, Clio. ― A híbrida ia dizer que ela também estava quando ele adicionou: ― Eu ouvi a sua conversa com Vênus.

― Você o quê?!

― Não foi por querer! ― ele se defendeu. ― Você estava demorando e eu fui checar lá embaixo se você já tinha chegado. E eu não ouvi tudo. Eu saí quando vi que as coisas estavam ficando mais... intensas. Ele desviou o olhar por alguns segundos e depois voltou a encará-la com um misto de raiva e... decepção. Clio ouviu algo dentro dela quebrar. ― Eu ouvi o bastante para saber que o que você está fazendo não está certo.

― Você bisbilhota a minha conversa particular com Vênus e quer vir com papinho moralista pra cima de mim?!

Astro latiu. Clio emudeceu na mesma hora que percebeu que era para ela.

― Não, Clio, eu não vou deixar você fazer isso de novo! Você sempre briga comigo e faz parecer como se eu fosse o errando quando a única que eu quero, a única coisa que eu sempre quis, foi te proteger, mesmo que seja de você mesma. ― Aproveitando que Clio permaneceu calada pela primeira vez, ele continuou. ― Eu tenho muito o que te falar e agora você vai me escutar.

VÊNUS SEM AMOR [concluído]Onde histórias criam vida. Descubra agora