Cap. 06 [ Segunda vida - Uma visita a rua baixa ]

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Finalmente voltamos ao marquesado, contei para Claire tudo o que aconteceu no grande baile imperial deste ano, e enquanto eu narrava todos os detalhes fazíamos um pequeno lanche noturno, Claire me surpreendeu quando eu contei que o Conde Olavo agarrou meu braço, em um ataque de fúria Claire jogou um garfo na parede, e o garfo perfurou-a violentamente, ficando lá, pendurado, na hora foi assustador, mas depois rimos muito daquilo.

— Tem certeza senhorita?

— Sim Claire.

É madrugada e estamos enterrando uma grande caixa azul em um dos jardins do marquesado, com todas as lembranças que eu tenho do duque Owen, roupas, cartas, retratos, brinquedos, livros, céus, a caixa é enorme e pesada.

— Não seria melhor queimar tudo Claire?

Pela deusa bondosa, ela carregou essa caixa enorme e pesada como se estivesse levando uma pluma!

— Tudo bem senhorita, pense neste buraco como uma cova para a caixa das recordações ruins.

— Claire, o que você fazia mesmo antes de virar a babá de mamãe?!

Eu pergunto por uma curiosidade óbvia, mas Claire apenas sorriu.

— Trabalhava com toupeiras?

Nós gargalhamos e eu quase soltei a lamparina.

As recordações não são ruins, mas precisam ir embora dessa vida para sempre.

Mais três meses passaram voando e muita coisa mudou, demorei apenas sete meses para recuperar a resistência muscular da minha vida passada, meus movimentos com a espada estão fluindo naturalmente agora, ah, eu estou trocando cartas com o príncipe herdeiro, Claire só faltou morrer quando o primeiro envelope dourado chegou no nosso marquesado!

— Eu vou sozinha Claire, não há necessidade de uma escolta...

Estou tentando sair do marquesado sem chamar atenção pois tenho assuntos pendentes a resolver...

— A senhorita não vai.

— Claire, confie em mim, eu também preciso ser livre para ser feliz e você viu as minhas habilidades com a espada... mesmo que uma escolta me acompanhe eu ainda seria mais forte que ela! Seria inútil e só chamaria atenção.

Dessa vez eu atingi o alvo em cheio, Claire até suspirou!

— Tudo bem, mas terá que colocar roupas de plebeia! E esconder o cabelo também!

— Feito.

Apertei a mão de Claire e ela acenou concordando.

Às vezes ela me confunde, fico na dúvida se Claire é a minha babá, melhor amiga, cúmplice ou a minha segunda mãe, talvez ela seja uma para cada ocasião!

E aqui estou eu na rua baixa, carregando uma espada curta e indo na direção de uma pequena ferraria chamada "Valente".

Preciso obter algo que será muito valioso no futuro, a espada lendária do guerreiro Noir! Na minha vida passada Cristian a obteve seis meses após o nosso casamento, por uma coincidência do destino, isso seria mais ou menos em dois anos a partir de agora, eu ficava mais tempo com essa espada do que com o próprio Cristian e ela só saiu do ducado uma única vez, foi quando a guerra com o reino de Deviant estourou, mas ainda é muito cedo para isso, seria em um pouco mais de três anos, além disso nós ganhamos essa guerra em apenas um ano! Cristian ficou famoso no continente inteiro depois disso!

De acordo com os registros do ducado a espada lendária estava decorando a parede da ferraria valente por muitas décadas, essa ferraria também é um pequeno negócio de família que foi passada de geração em geração, e nem eles souberam dizer ao certo quando a espada parou na parede.

Nos registros de Cristian a ferraria fica localizada na rua baixa, essa rua fica longe da capital e é frequentada por plebeus, eu não sei o que Cristian fazia na rua baixa, mas essa espada caiu da parede chamando sua atenção, Cristian é um mestre da espada, com certeza ele sentiu alguma coisa quando entrou nesse estabelecimento, ou até mesmo antes disso!

— Vocês não podem fazer isso! Eu vou pagar tudo! São apenas duas moedas de ouro! Não podem me vender para o bordel assim! Eu pagarei, falta pouco para completar! Me dê apenas mais um mês, eu suplico, o meu filho só tem a mim!

— Hahahaha!

— Não adianta implorar vadia!

— Esse menino também vem no pacote, considere isso uma dedução dos juros pelo atraso do pagamento.

— Mamãe! Não!

— Por favor, alguém me ajude! Por favor! Foi o meu falecido marido quem fez essa dívida! Por favor! Eu imploro! Tenham piedade!

Eu vejo uma pequena aglomeração de pessoas e os gritos de uma mulher e de uma criança se sobressaem, merda, tem cinco bandidos ao redor deles, onde demônios estão os guardas?!

— Eu pago as duas moedas! – Gritei me aproximando.

— Quem é você mulher?

— Fique fora disso se não quiser acabar vindo junto.

— Você não me escutou escória? Pagarei as duas moedas de ouro que ela deve!

Hah... Eles estão rindo... Não há possibilidade de negociação aqui, nunca houve, dane-se, eu estou de capuz, ninguém vai me reconhecer se eu der uma surra neles.

Eu retiro a espada curta da bainha e fico em guarda.

— Essa espada na sua mão não é um brinquedo mulher.

— Ela deve ser uma mercenária de Deviant.

— Uma mercenária? Hahaha, pare de beber tanto imbecil.

— Pensando bem, a gente pode se divertir com ela também.

Eles estão me subestimando... Falo alguma coisa ou apenas corto suas carnes podres?

Com um giro preciso a minha espada decepa a mão do bandido que estava prestes a tocar o meu ombro.

— Ahhh! Maldita!!

— Peguem ela! Matem-na!

Os outros quatro me atacaram ao mesmo tempo! Ah, são fracos e bem lentos, cortei a barriga do segundo, desarmei o terceiro e cortei o tendão direito do quarto homem que caiu ajoelhado.

Mil vezes merda, é tanto sangue, acho que vou vomitar, não! não posso demonstrar fraqueza, seja forte Lili!

— Pode vir quinta escória! Eu juro pela deusa que vou cortar fora as suas partes baixas em um único movimento!

Eu lanço um olhar desafiador para ele, dos cinco bandidos dois já estavam no chão.

— Minha mão! ah!

— Vamos embora! Rápido! Essa mulher é um espadachim!

Oh céus, de onde apareceram tantas pessoas? Isso é mal, muito mal.

Observo os bandidos saindo sorrateiramente da rua baixa por um beco paralelo, carregando os que não podem andar.

Deixo-os saírem assim? As pessoas estão me aplaudindo, mas eu estou quase vomitando, ah, estou tremendo, nunca brandi minha espada contra um inimigo real, é mais fácil do que pensei e isso está me assustando, ainda sinto a sensação de cortar a carne humana percorrer meu corpo.

— Obrigada senhorita!

Eu escuto uma voz infantil me agradecer.

Que voz fofa...

A mulher veio até mim segurando o seu filho dos braços, eles estão me agradecendo tanto que eu estou começando a ficar envergonhada, pelo menos parei de tremer.

— Obrigada por nos salvar senhorita!

— Olhos vermelhos...

Ah não, estou sem capuz, eu nem percebi, deve ter caído no giro!

Vermelho ObsessãoOnde histórias criam vida. Descubra agora