Cap. 30 [ Na sombra da loucura - A tristeza que me persegue ]

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O que Cristian está fazendo ali?!

Meu corpo congela, sinto a garganta fechar.

Ele está olhando para mim agora, aquele azul tão límpido escureceu novamente, ele está com aqueles mesmos olhos inundados de infelicidade e melancolia, me fazendo esmorecer, fazendo meu coração afundar na amargura.

Lembrei da minha primeira vida com ele, é o mesmo sentimento, ele quebrou e eu também estava a ponto de quebrar. Cristian virou desconcertado e saiu, Eliot parou de me beijar, ele olhava pra mim extasiado por causa do beijo, logo após eu inventei uma desculpa e fui pra casa chorar, eu só queria abraçar a Keiko... eu tinha guardado o antídoto no meu anel e consegui tomá-lo entre os meus soluços.

O vestido da rosa negra não tinha significado a morte ou o recomeço naquela noite, e sim o luto, e o cortejo fúnebre do meu coração deu início.

Eu recebi a carta dourada com a aprovação da anulação do nosso contrato em quatro dias, Cristian deve ter ido pessoalmente falar com o rei, e em uma semana a notícia da morte de Eliot tomou a capital, e em seguida todo o reino de Noir. O rei decretou luto oficial de um ano e o boato entre os nobres era de que Eliot havia morrido de causas naturais.

Dessa vez Scariont não bateu na porta do marquesado Normand e nem Cristian, nesse ano ele não me procurou e tão pouco tive coragem de ir atrás dele. Dois anos depois a princesa Cecilia assumiu o trono e se casou com Cristian, os boatos que corriam na nobreza sobre eles não eram nada bons, ele se mudou para o palácio principal e eu só o vi uma única vez, foi no baile imperial daquele ano, ele estava acompanhando a Imperatriz Cecília.

Eu compareci ao baile esperando encontrá-lo miserável, tão infeliz quanto ele era quando se casou comigo na minha primeira vida, e foi exatamente assim que eu o encontrei, desolado, naquele momento eu tive a certeza de que eu não merecia ser feliz... porque eu não queria que Cristian fosse feliz sem mim, eu gostei de vê-lo amargurado, me deliciei observando o vazio dos seus olhos. Naquela hora eu não sabia, mas era a última vez que veria Cristian nesta vida, se eu soubesse teria mirado ele por mais alguns segundos.

Mas assim que vi aqueles olhos azuis lamentáveis fui pra casa andando, depois de horas eu cheguei no marquesado com os pés sangrando, e me tranquei no quarto novamente, no fundo eu sempre soube, eu não o mereço, eu não suportaria vê-lo feliz com outra mulher, a verdade que estava me devorando é que eu senti alívio quando vi sua dor, seu desamparo, eu sorri, eu sorri, eu...sorri.... eu sorri por que ele ainda estava tão desgraçado quanto eu, eu sorri por que o que eu sinto por ele não é amor e sim uma obsessão doentia, porque se fosse amor de verdade eu pediria a deusa bondosa pela sua felicidade, não pela minha. Eu teria entrado naquele salão torcendo para que ele estivesse sorrindo, com um brilho nos olhos e sendo o homem mais feliz desse mundo...

Alguns meses depois a guerra estourou e a notícia da morte de Cristian percorreu toda Noir enquanto eu definhava em cima da minha cama, ao lado da Keiko, eu não sei o que senti naquele momento.

Agora estamos em guerra há alguns anos e estamos perdendo, não tardará muito para o nosso reino ser invadido por Deviant. Que patético... eu estou morrendo da mesma maneira que eu morri na minha primeira vida... pelo menos eu ainda conversava com a Keiko, ao contrário de agora... ela está falando comigo nesse momento, está triste, desesperada, mas eu não consigo respondê-la... não tenho forças... eu não quero...

— Senhorita, está acordada?

— ...

— Aconteceu alguma coisa senhorita? Eu estou entrando.

— Senhorita, está acordada?

— ...

— Aconteceu alguma coisa senhorita? Eu estou entrando.

— Senhorita, está acordada?

— ...

— Aconteceu alguma coisa senhorita? Eu estou entrando.

— Senhorita, está acordada?

— ...

— Aconteceu alguma coisa senhorita? Eu estou entrando.

— Senhorita, está acordada?

— ...

— Aconteceu alguma coisa senhorita? Eu estou entrando.

— Senhorita, está acordada?

— Aconteceu alguma coisa senhorita? Eu estou entrando.

— Senhorita...

[...]

Está escuro, estou sozinha, não sei há quanto tempo estou aqui, faz frio.

Eu estou caminhando nessa escuridão sem rumo, é difícil organizar o meu pensamento, eu só estou andando e não espero chegar a lugar algum.

Nessa escuridão um pequeno brilho sempre chama a minha atenção, mas eu nunca me aproximo, sempre que o vejo me afasto em direção ao lado mais frio e mais escuro, eu não sou digna de mirar esta luz.

O pequeno brilho apareceu novamente e eu escuto o choro de uma criança, é um choro tão familiar, quem é? Eu me aproximo dessa luz lentamente, pensei em desistir muitas vezes, mas ela parecia estar sofrendo tanto que eu não pude voltar.

O brilho foi tomando forma a medida em que eu me aproximava, era um espelho do meu tamanho, aceso no meio daquela escuridão, eu mirei seu reflexo e vi a mim mesma pisando em cadáveres, segurando uma espada negra que escorria sangue, eu estava vestindo uma camisola branca e meus pés estavam desnudos, esse reflexo macabro se aproximava de mim, até ficar cara a cara comigo, só quando ela estava muito perto percebi que estava chorando lágrimas de sangue.

— Lili...

— Keiko...

Não era eu, era a Keiko, eu chamei aquele nome sem pensar, mas assim que o proferi lembrei de um passado distante... então eu sentei naquela escuridão fria e chorei, não sei por quanto tempo estou chorando, mas meu corpo está parcialmente submerso na água.

— Você não precisa amar o Cristian e você não precisa do amor dele.

— Ah...o Cristian...

— Ele não é digno do seu amor Lili...

— Eu não sou digna de amor...

— O destino não quer que Lili seja feliz, então mate-o Lili, me use para perfurar seu coração, retalhe o destino com as suas próprias mãos!

— Eu não...eu...eu não consigo Keiko... Eu não tenho forças...

— Use a minha força Lili, use o meu poder para colocar o destino de joelhos aos seus pés, eu estou aqui por você, sempre estive e sempre estarei, nunca vou te abandonar Lili, eu estou te esperando Lili... por favor... não me deixe sozinha...

Keiko coloca uma das mãos no espelho e olha pra mim, suas lágrimas de sangue estão escorrendo pela camisola branca, ah, eu detesto o vermelho no branco.

— Lili, você não quer o Cristian?

— ...

— Você não acha que já sofreu o suficiente Lili?

— ...

— Lili... você não quer mais ser feliz?

Sinto uma pontada no meu coração, tudo parece desmoronar ao meu redor.

— Segure a minha mão Lili, eu prometo que vou achar a sua felicidade.

Eu vejo Cristian no reflexo, ele está sorrindo para mim.

— É ele, ele é a minha felicidade Keiko!

— Então pegue-o! Pegue Lili, ele é seu!

Eu me levanto, a água congelante está quase me cobrindo, mas meus dedos conseguem tocar o espelho.

— Não pare Lili, não tenha dúvida, o destino dele é ser infeliz, você viu isso com seus próprios olhos! Então não pense em mais ninguém, só em você, pegue Lili! Pegue! Ele é a sua felicidade! Ele é seu Lili! Só você importa Lili! Seja feliz Lili! Nem que seja por um momento! Não me deixe sozinha Lili! 

 FIM DA PRIMEIRA TEMPORADA 

 ~ Sky

Vermelho ObsessãoOnde histórias criam vida. Descubra agora