Cap. 08 [ Segunda vida - O lado dele ]

35 8 8
                                    

A minha vida se transformou no verdadeiro inferno quando a conheci, Liliam Normand Casper, esse era o nome do demônio com muitos laços que me perseguia desde criança. Por causa de um contrato de casamento eu estava sendo obrigado a me casar com uma garotinha que tinha problemas mentais.

Ainda lembro vividamente da sua pequena figura me seguindo para todos os lados na minha infância, como uma sombra maligna de outro mundo Lili sempre me encontrava, não importava onde eu me escondesse, não importava o quão longe eu fosse, um vermelho aterrador sempre sugaria todas as minhas esperanças.

O demônio dos laços me enviava pilhas de cartas desde criança, presentes estranhos e pinturas de si mesma, eu sequer tinha empregados leais na propriedade principal do ducado Owen, exceto pelo meu mordomo pessoal Louis, pois todos os outros empregados eram espiões contratados por Liliam Normand Casper para me vigiar vinte quatro horas por dia.

Ela também enterrava bonecos estranhos que se pareciam comigo no meu próprio jardim, e toda vez que eu desenterrava algum deles o meu corpo inteiro estremecia como um cão miserável.

Os bailes eram puro caos, ela grudava no meu braço e falava como uma criança, sim, com uma voz infantil insuportável, ainda sinto pesar por todas as mulheres que ousaram se aproximar de mim em algum momento da minha vida, isso também inclui crianças e nobres idosas do reino de Noir...

Por causa da minha falecida mãe o meu pai era complacente com tudo, ele me ameaçou de não me passar o título de duque, e antes de se isolar o meu pai deu sua palavra de honra que devolveria o título a coroa se eu não me casasse com Liliam ou continuasse a implorar sua intervenção.

Falando francamente, eu nem sei como consegui convencê-lo de me passar o título antes disso, devo ter ameaçado me jogar de um penhasco ou algo parecido, eu não lembro do que aconteceu naquele dia, recordo apenas do olhar apavorado de meu pai.

Assim que me tornei o novo duque Owen comecei a enviar inúmeros pedidos de anulação ao marquesado Normand, na esperança do demônio de laços assiná-lo e enfim ter a minha tão sonhada liberdade.

Eu já estava no meu limite, desesperado seria a palavra mais correta, tinha pesadelos constantes e tomava uma grande quantidade de chás com efeitos calmantes, nos últimos anos sofri com insônia severa devido ao efeito colateral dos chás em excesso.

Como se não bastasse tanto tormento, a minha mente também estava a beira do colapso, eu não podia escutar o nome de Lili que eu começava a suar frio, a minha boca secava, eu sentia falta de ar, um mestre da espada que tinha ataques de pânico...

Tão humilhante... e ultrajante...

Preso neste labirinto amaldiçoado apelei para o divino, confesso que nunca fui um crente fervoroso da deusa, pois desde criança eu implorava aos céus para anular o meu compromisso com Lili e nunca fui atendido, porém situações extremas requerem medidas extremas.

Eu pedi a deusa um sinal, um alento, estava prestes a dobrar meus joelhos quando o milagre da minha vida aconteceu, assim, sem mais, nem menos.

Recebi um envelope vermelho e envelopes vermelhos são exclusivos do marquesado Normand, eu recebi inúmeras cartas de Lili, todavia, todos os envelopes estavam rabiscados de corações então eu sequer os abria, mas aquele não, era liso, impecável, sem nenhuma dobra ou rabisco, normalmente seria do marquês, entretanto o abri com um sentimento estranho tomando meu peito, eu estava certo, era o milagre que eu estava implorando a deusa desde criança, era a anulação assinada pelo demônio de laços! Eu estava livre da boneca sem alma.

Na hora eu fiquei em dúvida, "é falso?", entretanto Louis, meu mordomo fiel, confirmou sua veracidade, e junto com a anulação estava uma carta com poucas palavras, era a letra de Lili, sua escrita era inconfundível mesmo sem os desenhos de flores, laços e corações: "Seja feliz, pois eu também serei!".

No primeiro momento fiquei intrigado, é uma ameaça? Ela vai me matar e depois se matar em seguida? Tentei não pensar nisso pois eu já estava há um passo da insanidade.

Demorei quatro meses para acreditar que aquilo era real, ela não me procurou e todos os seus espiões foram embora do ducado, e por falar nisso, tirando Louis todos os empregados do ducado eram mesmo espiões, Louis trabalhou muitas horas extras para contratar novos empregados e Lili não enviou sequer uma única carta depois disso, ninguém me procurou e ela não respondeu as minhas cartas de agradecimento.

Ela mudou... Algo aconteceu...

Ela... mudou...

Os meus espiões no marquesado Normand começaram a relatar muitas coisas incomuns acontecendo, desde o dia em que ela assinou a anulação, eles relatavam que Lili praticava esgrima todos os dias pela manhã e segundo o relato a filha do marquês Normand era um gênio manejando a espada.

Eles também relataram que o demônio de laços fazia compras regularmente, ia para restaurantes e joalherias com a sua babá, até mesmo que Lili não usava mais vestidos de laços e que milagrosamente tinha virado uma beldade sedutora, confesso que subestimei os relatórios, até mesmo ri deles, decidi comprovar por mim mesmo no dia do grande baile imperial.

Quando Lili entrou com o marquês eu quase caí, minhas pernas cederam e eu tive que me apoiar em uma das pilastras do grande salão, eu, um mestre da espada e da mana, como diabos eu mal consegui ficar de pé?

Não era um ataque de pânico, a sensação era completamente oposta, um sentimento desconhecido fazia meu corpo vibrar, eu estava estupefato perante a atmosfera de Lili, perplexo de emoção, havia algo incompreensível ali, uma alma habitava aquele corpo e ver Lili agora era como ver um milagre vivente.

Estou tentando explicar um sentimento inexplicável, como se você estivesse procurando por algo a sua vida inteira e ele do nada chegasse até você.

Lili estava completamente diferente de antes, era muito mais do que estava escrito nos relatórios! Uma beleza indescritível! Uma atmosfera que fazia o meu coração palpitar, ela tinha ganhado vida e eu também!

O vestido que ela usava no baile estava tão justo, marcava cada curva daquele corpo exuberante e ela era bem volumosa, me perguntei quando Lili tinha virado uma mulher...

Eu não sei responder quando aqueles lábios se tornaram tão carnudos e nem quando aqueles olhos se tornaram tão atraentes, mas definitivamente não era mais o mesmo vermelho que me perseguia nos meus pesadelos, era o vermelho de uma rosa pronta para ser colhida, quis tomá-la alí mesmo, na frente de todos aqueles filhos da puta que a ansiavam tanto quanto eu.

Meu corpo fervia de desejo e minhas veias pulsavam, eu precisava tomar um ar para pensar no que estava acontecendo comigo, eu estava confuso, aquela mulher não parecia real, não parecia ser a Lili, eu estava sendo vítima de algum tipo de magia proibida?

Eu precisava me acalmar, fui para uma das varandas e vi Lili na sacada da varanda ao lado da minha, meu corpo se moveu sozinho e eu acabei me escondendo entre as cortinas, tal como um cão covarde, foi um impulso instintivo e degradante.

Porra! Eu sabia que era apenas uma atuação, com certeza ela está me perseguindo novamente, tudo não passou de uma trama dessa mulher diabólica para despertar meu interesse, que tipo de imbecil eu sou?! É claro que ela nunca desistiria de mim assim do nada! 

Vermelho ObsessãoOnde histórias criam vida. Descubra agora