Cap. 22 [ Quarta vida - A falta de esperança ]

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— Senhorita, está acordada?

Claire...

— Aconteceu alguma coisa senhorita? Eu estou entrando.

Meus olhos estão pesados, o que deu errado? Eu pedi para Claire investigar os espiões do duque e do príncipe herdeiro, ah...eu cheguei a ler o relatório, mas só dei atenção aos espiões de Cristian por causa da quantidade absurda, falando francamente, eu nem lembro do que estava escrito no relatório dos espiões de Eliot, pois eu achava que não tinha feito nada errado, eu não fui ao baile imperial e ele nunca se aproximou de mim na minha primeira vida e nem na passada, além disso a família real tem espiões em todos os marquesados do reino, é claro que com o marquesado Normand não seria diferente.

Como ele se interessou por mim? Foi porque eu comecei a treinar com Sir Cassius? Cristian falou alguma coisa? Se encontrou com ele? Ou quando eu enviei a carta de anulação ao rei de Noir o desgraçado do Eliot me investigou? Sumiram algumas coisas do meu quarto, mas eu pensei que tinha sido Cristian.

Aquele mago da pedra de mana nos guiou ao ducado Owen para despistar minhas suspeitas de Eliot? Ah, como eu sou burra... o que Noir está fazendo na minha mão? Eu sinto seu cabo pulsar embaixo das cobertas, você também está com raiva Noir?

— Senhorita! Por favor olhe pra mim! Você está me escutando?! O que aconteceu? Tem cacos de vidro no chão! Você está ferida? Me responda senhorita, por favor!

Fiquei doente por duas semanas, tive muita febre e quase parti para a minha quinta vida, mais cedo do que em qualquer outra. Quando melhorei fiquei em casa durante quatro meses, sem falar com ninguém, eu não saía do quarto, eu não comia direito, eu só ficava na minha cama, abraçada com a Noir debaixo das cobertas, eu já estava magra, mas agora estou esquelética.

Eu sinto uma dor tão profunda, é parecida com a tristeza que eu sentia na minha primeira vida, como se a esperança estivesse me deixando lentamente, como se não houvesse expectativa de um futuro melhor ou significado na minha existência.

Onde está a minha felicidade?

Eu não posso ser feliz?

Eu não mereço ser feliz?

Quase todas as noites eu tinha pesadelos com o que tinha acontecido na cerimônia, Eliot perfurando o coração de Cristian pelas costas, covarde filho da puta, o sangue de Cristian no meu vestido branco, no meu buquê de rosas brancas... eu não lembro claramente do que aconteceu, é como se fosse um pesadelo borrado, como uma folha em branco sendo maculada por uma gota de sangue, eu devia estar em choque naquela hora, a única coisa que eu tenho certeza é do ódio que eu senti por Eliot, da sensação agoniante do chão debaixo dos meus pés desaparecer.

Eu lembro vagamente de levantar o meu braço e Noir chegar na minha mão, ela estava quente e compartilhávamos do mesmo ódio, como se fôssemos uma, ou como se ela entendesse tudo o que o meu coração mais desejasse, principalmente naquela hora, e com um movimento preciso nós decapitamos Eliot e sua cabeça ruiva rolou pelo chão, ainda lembro dos seus fios ruivos brilhantes se espalharem no ar e caírem lentamente.

Não lembro de como eu morri dessa vez... algum mago ou cavaleiro me matou depois que decapitei Eliot? Eu me matei depois disso? Se sim, como? E por que eu estou viva novamente? ah, foda-se não é mesmo Noir? Você veio até mim nessa vida, você percebeu que eu precisava de você... ah Noir, eu te amo tanto! Seja minha irmã para sempre está bem? Ou minha filha?

— Senhorita, é Claire...

— Entre Claire.

— O duque Owen está aqui para vê-la novamente, mando-o embora como das outras vezes?

Ah Claire, você está com uma cara péssima, não está conseguindo dormir? Me desculpe, eu sei que é minha culpa, papai nem vem mais ao meu quarto, pois ele não consegue parar de chorar quando me vê, eu sei que estou fazendo vocês sofrerem, mas não consigo evitar.

Desde que despertei nesta vida me pergunto porquê estou fadada ao infortúnio, se tudo isto é obra do destino... me pergunto, o que é ele?

É uma sucessão de acontecimentos que não se pode evitar? Uma força misteriosa e controladora que determina as nossas vidas? Ou uma fatalidade que estariam sujeitas todas as pessoas e coisas do mundo? Mas e a minha vontade, onde ela fica nisso tudo? Os meus sonhos? Se eu mudei... porque o meu destino também não pode mudar?

Cheguei a conclusão de que estou sendo escrava dessa coisa e no meu desespero tentei mudar o imutável, eu tento tomar as rédeas da minha própria vida para ter um futuro melhor e fico tentando encontrar um caminho que não me leve ao abismo da miséria, mas o destino deve achar que não sou digna ou ele é apenas um sádico, e eu sigo lutando ferozmente contra o fim que ele preparou pra mim.

Ou costumava lutar...

Hah... Cristian, Cristian, você está aqui novamente...

É engraçado como os pedidos de anulação ainda chegam sem parar no marquesado Normand, é como se Cristian quisesse me irritar deliberadamente, despertei nessa vida faz quatro meses e nem sequer me dei o trabalho de assinar alguma delas, na verdade eu sequer levantei dessa cama incrivelmente confortável.

Como posso ver Cristian com essa cara miserável? Sou um saco de ossos ambulante, é muito humilhante pra mim que ele me veja assim, em um estado tão decadente.

Mesmo que eu permitisse a sua entrada aqui ele apenas ficaria desconfortável e com dó de mim... vá a merda com a sua piedade Cristian! Se eu permitisse a sua visita e lhe contasse tudo o que aconteceu... o que você faria? Riria da minha cara? Pensaria que estou louca? Ou você acharia que tudo não passa de uma história delirante para prender você mais ainda nesse maldito contrato?

Eu estou divagando sozinha, deixando-me levar por meus pensamentos e pensando bem, acho que vou fazer exatamente isso, por que não posso usar Cristian para sair dessa merda? Ele é um duque, é um mestre da espada, conseguiu matar Eliot uma vez, é isso! Cristian é a chave! Se der alguma merda basta eu me matar!

— Senhorita?

— Claire, me ajude a levantar, quero ir até a minha escrivaninha, me dê um dos pedidos de anulação de Cristian e traga o selo da família.

Eu jamais deixaria Cristian me ver agora, sou apenas a sombra do que eu sou, mas eu elaborei na minha mente um plano ardiloso, confesso que estou orgulhosa de mim mesma no momento, estou sentindo a esperança percorrer meus dedos novamente, como uma água refrescante, não é mesmo Noir?!

Eu criei um contrato que obriga Cristian a vir aqui em dois meses e quinze dias para tomar um chá comigo no jardim, e ficar o dia inteiro ao meu lado, escutando tudo o que eu tenho a dizer, em troca de levar ainda hoje o contrato de anulação já com a minha assinatura e devidamente selada, será que dois meses e meio serão o suficiente para eu me recuperar? Ah, terão que ser.

Nesse momento eu vou contar tudo para ele, toda a merda que aconteceu conosco nessas três vidas, com certeza ele me dará uma luz do que devo fazer ou qual caminho seguir, tenho tudo planejado na minha cabeça, mas preciso me recuperar fisicamente primeiro, estou patética. 

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