Cap. 38 [ A odisseia em mim - Keiko instável ]

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— Perdão senhorita, tenho que me retirar agora, lem-lembrei de algo urgente que requer atenção imediata.

Deveria ter sido menos honesta? Pela deusa bondosa, ele quase caiu quando se levantou e está suando muito, não posso rir, não posso rir, não posso... merda.

— Sim, é claro duque Owen, agradeço a visita.

É muito engraçado vê-lo assim, o quê? Ele está olhando pra mim com uma cara idiota de novo, eu também me levanto, já que ele está de pé.

— Eu... posso visitá-la com mais frequência Lili?

Hum?

— Si-sim vossa graça.

— Por favor me chame de Cristian... somos amigos de infância afinal...

Ele está corado? Hã? Mas eu não estou em um vestido justo agora, estou em um vestido cheio de laços que quase me cobre até o pescoço, ele sequer marca a minha cintura, então porque diabos Cristian ficou corado? E por que demônios ele está beijando a minha mão tão delicadamente agora?

— Como desejar Cristian...

Fiz uma reverência, ele me acompanhou a entrada principal do marquesado em silêncio e se foi.

O que é isso? Esse é mesmo o Cristian? Tem algo errado, eu pensei que ele detestasse vestidos com laços e adorasse peitos, merda Cristian.

Estou me segurando para não pular na caixa das recordações ruins agora, mas também não posso enterrá-la ou queimá-la como se eu quisesse fazer isso, pois não quero, mas também não quero ficar tentada a abrir a caixa de pandora sempre que olhar para o guarda-roupa.

Pela deusa, concentração Lili, faça pequenas mudanças, veja com cuidado o que está deixando passar, calcule friamente até onde você pode mudar as coisas.

Alguns dias se passaram desde a visita de Cristian ao marquesado Normand, e estou me concentrando em retomar mais uma vez a minha condição física, meu punho precisa de força física para ser eficaz, como sempre foi.

Eu tenho quase certeza de que a obsessão do Eliot começa quando eu dou início ao meu treinamento, mas agora eu não ligo, sou o rato vermelho, posso muito bem me cuidar sozinha.

Eu não vou deixar de fazer as coisas que amo ou me esconder por causa de um filho da puta obsessivo, se o Eliot vier até mim como das outras vezes...

Eu fechei meu punho e sorri pensando nas possibilidades.

Cristian me enviou um envelope azul ontem, na carta ele escreveu que me visitaria esse final de semana.

Céus, eu não o entendo, a cabeça desse homem é um enigma que está em constante mudança.

E lá estão os braços de Scariont em uma das árvores, gravando o meu treinamento com a Keiko, acabo de decidir, vou dar ao príncipe herdeiro um presente especial nessa vida.

Vou ameaçá-lo, intimidá-lo para que nunca ouse chegar perto de mim, mostrar a ele que sou poderosa e que poderia facilmente esmaga-lo como a formiga lunática que ele é, eu ainda sou o rato vermelho! Então balancei a Keiko e com um único golpe cortamos ao meio a árvore onde Scariont estava escondido.

Ah não, mil vezes merda! Em vez de cortar apenas a arvore de Scariont acabamos cortando dezenas! Ou...centenas? Raios, a Keiko está ficando cada vez mais poderosa, até a sua cor mudou, ela está quase branca, merda, mil vezes merda, e lá está o pobre e diligente Scariont, esmagado como um inseto entre os galhos.

— Pela deusa Keiko, mais um pouco e você cortará uma montanha ao meio.

— Desculpe Lili, estou instável ultimamente.

— Você está bem Keiko?

— Sim Lili.

— Jura?

— Eu juro Lili!

— E você acha que o Scariont está bem?

— Aquilo é o mago bisbilhoteiro do príncipe? Pensei que fizesse parte da árvore.

— Você está ficando muito engraçadinha.

Mestres da espada no reino de Noir não podem esconder o seu poder da realeza, independente do mestre ser nobre ou plebeu, atualmente Noir só possui um único mestre da espada, Cristian. Eu sou apenas um gênio espadachim, a Keiko é quem me empresta sua mana divina e me faz ir muito além do nível de um mestre, a ponto de derrotar facilmente Cristian.

Sem a Keiko eu sou apenas a segunda melhor do reino já que consigo derrotar Sir. Cassius com a minha própria habilidade, mesmo assim não somos nada comparados com um mestre da espada, a perícia é facilmente subjugada pelo poder bruto e puro, nascer com ou sem mana é como a diferença entre o céu e a terra.

Mesmo que Cristian não fosse habilidoso, o que não é o caso, a sua afinidade com mana faz com que ele tenha uma agilidade sobre-humana, além da força física, reflexos, regeneração e etc...

O meu feito de hoje com certeza traria consequências para o marquesado em circunstâncias normais, mas se Eliot revelasse o meu segredo levianamente isso também significaria admitir a espionagem de uma mulher nobre por motivos escusos, e isso seria mal visto pela nobreza de Noir, é certo que Eliot tentará chegar até mim de alguma forma ou revelar as minhas habilidades por outros meios, ou até mesmo me chantagear com isso, mas eu também não pretendo ficar parada.

Acho que estou sendo racional demais com um lunático.

Eu observo o estrago que fiz.

Raios, eu acho que isso não foi uma maldita pequena mudança, até parece que cortamos ao meio a porra de uma floresta inteira, a culpa é do Eliot, ele me tira do sério.

— Scariont, quer ajuda?

Ele está com os olhos tão arregalados, parece que viu um fantasma, ele está correndo agora, Scariont sempre foi bom nisso.

Mato ele? Merda, o Scariont já sofre tanto.

E aqui está o meu prêmio, hahaha, achou que eu deixaria você escapar com a pedra de mana depois do meu pequeno... descontrole emocional? Deixarei uma coisa divertida para o Eliot da próxima vez, algo que lhe fará ter pesadelos comigo.

Faz apenas alguns dias que reiniciei o loop temporal e definitivamente bati um recorde, estou sentada no jardim do marquesado com o príncipe herdeiro em uma cadeira e Cristian na outra, eles estão me mirando com se me perguntassem: "O que demônios está acontecendo aqui Lili?" 

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