"A " FESTA

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O fim das férias, o real adeus ao ensino médio, foi celebrado entre nós com uma festa, a última do ano, onde tudo era possível e permitido. Um marco e tanto na vida de qualquer um. Um evento que simboliza a passagem da adolescência para a vida adulta. A ocasião que transformava o certo, no errado e o errado, em mais errado ainda.

Todos estavam muito animados naquela noite, alegres e completamente bêbados. Havia copos de plásticos espalhados por todos os lados, assim como, pessoas se beijando, se jogando na piscina e dançando como se o mundo fosse acabar.

A música estava alta, e as luzes multicoloridas rodavam e se refletiam nas paredes e no chão.
A euforia e a tesão do momento parecia ser palpável.
Todos estavam ali, curtindo e vivendo sua liberdade.

Eu e minha irmã, estávamos no centro de tudo. Exatamente no local em que todos os olhares se concentravam. E pela primeira vez, nós duas éramos cobiçadas, e desejadas, de forma igual. Diferentemente de todas as outras vezes, onde uma beijava, se esfregava, dançava e transava descaradamente, e a outra se escolia pelos cantos, conversando e debochando com seu único amigo. Mas não naquela noite, onde ninguém sabia quem era quem.

Todavia, com o passar das horas, as coisas começaram a ficar estranhas.
O ar até ficou gélido e pesado. O Descontrole das pessoas era evidente, e a sensação de que aquela noite acabaria mal, parecia se tornar real para mim. Aos poucos comecei a ficar sufoca. As risadas me incomodavam, e as piadinhas me deixavam tonta. Sem contar que meu amigo não estava ali.

Em busca de ar, me afastei da multidão.

Desci a grande escada de pedra que dava para a praia particular, e por alguns segundos fiquei olhando para o mar. Ainda dava para ouvir a música tocando, mesmo que parecesse distante.
A sensação de paz e tranquilidade me tomou.
Porém, não durou muito.

Até cheguei a me assustar, quando do nada, uma voz saiu por de trás de mim.

— O que esta fazendo aqui? — perguntou ao sorrir.
— O que você esta fazendo aqui? — retruquei, levantando a sobrancelha.
— Mas que caralho! Larga de ser chata. Só vim te fazer companhia.
— Olha seu estado.
Uma risada alta explodiu logo em seguida.
— Ah, para!
— Me desculpe por estar preocupada com você.
— Ok! Mas saiba que se preocupar comigo, não vai te ajudar a transar hoje.
— Chega! Você precisa ir embora.
— Qual é irmãzinha, eu sei que me ama.
— E você, me ama?
— Claro que sim. Se eu não te amasse, não me esforçaria ao máximo para te deixar assim...
— Assim como? — Perguntei, ao interrompe-la.

Saltitante, deu a volta e jogou os cabelos para o lado, ficando á minha frente.

— Não vem que não tem. Você só é quem é por mim.
— Claro, porque você é incrível, e eu uma pobre coitada.
Ouvi uma risada irônica soar.
— Vai pro inferno! Se tem uma coisa que você não é, é uma pobre coitada. Muito pelo contrário, é linda, e muito inteligente, engana todo mundo direitinho. O problema é que...
— O quê? — interrompi mais uma vez.
Dava para notar a raiva com que as palavras foram proferidas.
— Que se dane! Eu não quero perder tempo com você hoje.
— Quer saber? Não precisa da minha ajuda. E esses vestidos iguais, que você escolheu, são bregas. Não sei porque aceitei fazer isso.
Ela me encarou e sorriu.
— Porque, no fundo, você queria se diferenciar, pelo menos por uma noite.
— É melhor essa conversa acabar por aqui. Estou alterada, e você, obviamente mais do que eu.
Suas mãos seguraram meu braço.
— Não fuja como sempre.
— Fugir? Eu? Olha quem diz! A garota que se esconde atrás de um personagem.
Houve um silêncio momentâneo.

Sentida, mas orgulhosa demais para admitir, apenas assentiu.

— Você tem razão. Mas não se esqueça, você também não é quem aparenta ser, irmãzinha.
Com os olhos cheios de lágrimas, sussurrei:

— A culpa é sua.
— A culpa é nossa.
Respirei fundo.

— Não sou boa o suficiente para você, não é?
— Ninguém se importa com você. Essa é a questão.
— CALA Á BOCA! — Explodi em um grito cheio de raiva.
Uma risada, carregada de deboche se fez ouvir.
— É aí que as nossas diferenças começam.
— Vou sair daqui, agora! — exclamei com urgência
Afetada, mordeu o lábio inferior.
— Ok! Pode ir irmãzinha. Mas, você sabe que eu tenho razão.

Nenhuma palavra mais foi ditar depois disso.
O silêncio que se instalou entre nós duas era ensurdecedor.
Virei, dando-lhe as costas, pela primeira vez.
Tudo naquela noite estava acontecendo pela primeira vez.
A primeira briga de verdade.
A primeira vez que saíamos iguais.
A primeira festa, justas, e a primeira decepção.

(...)

Estava furiosa comigo mesma. De uma única vez, ultrapassei todos os meus limites.
Pisando duro, entrei na primeira porta que vi.

Já havia bebido muito, estava fora de mim, porém, não o suficiente para me considerar bêbada.

Assim entrei no que parecia ser uma sala de jogos, vi uma silhueta parada perto da janela. Mesmo de uma certa distância conseguia sentir seu perfume amadeirado tomar conta do espaço. Sem fôlego, e totalmente afetada, o encarei profundamente. Vi o exato momento que seus olhos acenderam. Devagar veio até mim. Sorri, e em um impulso, o beijei.

Desesperada para sentir qualquer coisa, que não fosse raiva, deixei que o momento me consumisse.

(...)

Quem eu era?
Quem eu fui?
Quem eu seria?

A única coisa que eu sabia, é que depois dessa festa, nada seria igual.

DOSE DUPLAOnde histórias criam vida. Descubra agora