DESENCAIXE

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Ver Ava Smith morta, me alegrou.
Mórbida? Talvez, mas a raiva que eu sentia dela, era maior que qualquer sentimento. Por quê? Fui traída. Graças a ela, existiam duas Morgan Lee, uma antes contente, esperançosa e feliz, e outra fria, apática e retraída. Em pensar, que quando me tornei sua amiga, me senti segura e confiante, pois ela prometeu me ajudar.

Com o tempo, porém, entendi que com a poderosa Ava, era assim: um segredo, por controle absoluto. O pior é que na época eu concordei com esse jeito. Me abri, deixei ser levada, e passei a fazer tudo por ela, em primeiro lugar. Aguentei comentários idiotas, planos completamente infantis, atitudes desonestas, crendo, que ela só estava querendo viver e ser feliz. Até que um dia, ela tirou a única coisa que eu amava. Mesmo sabendo o quanto havia sido difícil, me aceitar, me entender, e me arriscar.

Jamais vou me esquecer da festa, onde sem nem se importar comigo, ficou com a minha namorada, Lise Moore.

Os sons, o beijo, os toques, voltavam com frequência a minha mente quando fechava os olhos. Eu já sabia qual era minha orientação, mesmo assim, me assumir, e aceitar estar uma relação com outra mulher, era desafiador. Ava acompanhou todo meu processo, e não se importou em acabar com tudo.

Obviamente foi o meu fim.
Contudo, jurei me vingar.

Eu era a única pessoa que sabia do seu novo relacionamento, ao qual, chamava de sério. A vadia chegou a dizer que dessa vez, era amor de verdade. Contudo, ninguém poderia saber. Só que eu, acabei descobrindo, e fiz questão de contar para seu "caso" que eu sabia, e ameacei contar para todos.

Como esperado, a pessoa ficou revoltada, porque não convinha a ela que outros soubessem. Eu infernizei de todos os modos possíveis.

Embora, conturbar a relação tenha me deixado satisfeita, não fiquei feliz.
Eu ainda tinha perdido meu coração, e nada preenchia o vazio que eu sentia.

Enquanto escrevia um poema pensando especificamente na pessoa que estava com Ava, tomei uma decisão. Seria mais agressiva.

Esperei a semana acabar. Então, quando o sábado chegou me preparei, e marchei para a residência Smith. Estava disposta a confrontar Ava. Não iria mais me esconder atrás da pessoa que fui instigada a ser. E não permitiria que o medo de desagradá-la me impedisse de agir, e me defender. Tudo o que havia passado por ela, veio a tona de uma vez, tanto, que ao chegar na sua casa, o sangue ferveu dentro das minhas veias.

Determinada, bati na porta e esperei.
Pela janela eu vi a silhueta de duas pessoas.
Elas estavam se beijando.
A raiva que eu estava sentindo, passou a ser ódio.
Se eu não seria feliz, ela também não seria.

E não foi.

(...)

A culpa acabou me consumindo, embora, não sentisse tristeza pela morte em si, o que me levou a contar o que só eu sabia a mais alguém.

— Confia em mim, vou dar um jeito de não respingar em você, nem em mim.
— Confiar em você?
— Já contei que só fiquei com a Ava para tentar controlá-la, e para manter nosso segredo.
— Às vezes, eu acredito Lise, em outras, fico em dúvida.
— Nunca gostei dela.
— Eu vi outra coisa
— Viu errado.
Dei de ombros.
— Que seja! O que vão fazer?
— Já mostramos o diário para a polícia. Vão agir hoje mesmo.
— E o Peter?
— Pilhado. Ele e a Evie, tinham algo, antes da Ava.
— Jura?
— Sabe quem sabia?
— A Ava é claro.
— Não só ela, né?
A abracei.
— Devia ter feito algo antes.
— Estava tudo desencaixado, mas agora, vai dar certo. Uma vez falhei com você, mas agora, não. Vai dar certo esse jeito que achei das pessoas saberem a verdade. 

Com essas palavras, senti que logo, tudo ficaria bem, por completo.
Ou não.

DOSE DUPLAOnde histórias criam vida. Descubra agora