SUSPEITAS

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Cresci rodeada pelo caos.
Meu pai abandonou minha mãe, quando eu tinha 6 anos. Mesmo ele sendo agressivo, e completamente inútil, minha mãe sentiu muito sua partida. Com o tempo, ela desenvolveu transtorno de acumulação compulsiva, ou seja, minha casa parecia um museu, repleto de coisas estranhas, por todos os lados.
Era sufocante.

Obviamente, me fechei em mim mesma, negando-me a aceitar minha realidade. Vivi nesse esconderijo por anos, até conhecer Ava Smith. Através dela, me transformei em Rebeca Scott, uma garota vaidosa, estilosa, determinada e popular.

Uma simples trombada no calçadão foi capaz de despertar seu interesse. Fui como um projeto.
Lembro-me da primeira coisa que ela disse. Oi! Querida, gostaria de ser melhor?
Era o que eu mais desejava. 

Logo, deixei para trás a pequena Beca, que tinha um pai drogado, violento, e uma mãe depressiva, doida e distante, para ser Rebeca, amiga da incrível Ava, que rapidamente me inseriu á um grupo de amigos descontraído, bem relacionados, e resolvidos.

O custo da minha mudança, porém, foi alto, pois tive que deixar minhas opiniões, vontades, e expectativas de lado, como segundo plano, para sempre deixar minha nova melhor amiga, satisfeita em primeiro lugar.

Foi o que aconteceu quando conheci Peter Thompson.
Assim que meus olhos bateram nele, me apaixonei. Em meio a uma festa, cheia de pessoas, ele foi quem se destacou. Foi a primeira vez que me interessei de verdade por alguém.

Só que Ava decidiu que ele seria o namorado perfeito para ela.
Bonito, atlético, com uma potencial popularidade, por ser jogador, sensível, e fácil de manipular.  Obvio que ela encontraria algo que pudesse, faze-lo deixá-lo sempre estar ao seu lado, anulando qualquer aproximação de outra garota.

Perspicaz, quis que eu entendesse que, não haveria oportunidades. Sendo assim, convencendo-me a investir em Charles Moore, melhor amigo de Peter.

Eu  tinha tudo, e não queria voltar a ser o que era antes dela. Por esse motivo, fiz o que ela queria. Me submeter era a única opção.

Mesmo grata, com o tempo, comecei a me irritar com essa mania dela de,  querer controlar tudo e todos.  Inclusive, quando descobri que ela estava tento um caso com o meu namorado, precisei engolir no seco a decepção, a traição e a raiva, para não perder o que tinha. 
Feito uma idiota, fingi não saber de nada, aumentando cada dia mais, um sentimento ruim.

Ela não se preocupava comigo.
Justo comigo, que estive do lado dela, em tantos momentos difíceis. Como na ocasião em que tentou se afastar do técnico David, que a ameaçava, ou, no caso do estrupo, que acabou resultando em uma gravidez indesejada. Eu até, fui com ela ao consultório, tirar o bebê. Também dei meu apoio ao seu novo amor. Ava teve muitos casos, mas ao se apaixonar pela primeira vez, coloquei-me a disposição para impulsioná-la. Ao meu ponto de vista, minha amiga, deveria ser grata, ou pelo menos ter consideração. Contudo, no dia da sua morte,  descobri que eu era só mais uma peça descartável do seu grande jogo.

Ela me ligou, e ao chegar na porta do seu café preferido, a encontrei nervosa. Estava do jeito que ficava quando era contrariada. Conhecia bem os trejeitos. Busquei tentar entender o que estava acontecendo, mas ela me tratou mal, e disse claramente:

" Hoje deixei Peter livre de verdade.  Não tem mais volta. Contudo, quero que preste atenção. Não quero você perto dele, ouviu vadia?"

DOSE DUPLAOnde histórias criam vida. Descubra agora