O RETORNO

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Estava sentada na biblioteca da universidade com um livro na mão.
Há um tempo, isso me encantaria. Hoje, porém, a incomodidade do momento me deixava desconcentrada. As expectativas de antes, já não existiam mais, e meus gostos, e vontades estavam sendo usurpados por uma grande agonia. Minhas metas, assim como minha realidade parecia ter sofrido um grande impacto.

Hoje, ao olhar no espelho, e aparentemente ver o mesmo de sempre, não me sentia igual. Através do reflexo que me era dado, algo diferente brilhava. Já não era mais eu.

Apesar de passar meus dias tentando aceitar esse fato, só agora, que voltaria a civilização, é que viveria com essa minha nova versão. Sem Ava, uma parte minha morreu.

Retornar para faculdade depois da perda, deixava-me ansiosa. Não que, eu não sentisse ansiedade ao percorrer aqueles corredores sempre lotados, mas nada se comparava ao medo, a impotência e a culpa que carregava. Entretanto, segundo minha psicóloga, estava na hora de voltar á vida. Só não especificou á qual.

Querendo fugir das minhas próprias paranoias, fechei o livro que ainda estava em minhas mãos, olhei em volta, peguei minha mochila e sai. Imediatamente, olhares atentos começaram a seguir meus passos, assim como os famosos cochichos. Definitivamente, eu não estava mais reclusa.

Com a cabeça erguida e as costas eretas, não parei sequer para verificar os rostos que estavam por perto. Mas, infelizmente, ser invisível não era mais uma opção.
Depois de tudo o que aconteceu, a história das gêmeas se fez conhecida.

Sem muita coragem, me escondi no banheiro mais próximo, para esperar a hora passar. Ali, encolhida em um canto da cabine, chorei por mim, pela minha irmã, pelos meus pais, pelo que viria, e pela verdade que em algum momento seria revelada.
Sempre que possível, tentava fugir de mim. Mas, ao ouvir o sinal, soube que teria que encarar o mundo real novamente.

Por ficar afastada, em atendimento psiquiátrico, havia perdido várias matérias e provas, bem como, ganhado fama de louca. Todavia, o corpo docente, compelido pela situação, prometeu me ajudar. Segundo os professores, logo me recuperaria. Porém, isso não mudava minha posição atual.

Estava a vários passos atrás. E eu odiava ficar para trás.

(...)

Antes de abrir a porta da sala, respirei fundo, concentrei meus sentimentos, e canalizei as minhas emoções. Tentando não vacilar, coloquei uma expressão serena em meu rosto.

Previsíveis, todos que estavam sentados e conversando, ao me notarem, ficaram em silêncio apenas encarando a tragédia do momento.
Segurando as lágrimas, segui diretamente para o meu lugar.
Sem demora, senti mãos pesadas pousarem no meu ombro, e ao me virar, um rosto lindo e feliz me fitou.

— É bom te ter de volta.
Fechei, e abri os olhos em questão de segundos, e ao focar minha atenção, sorri.
— É bom te ver de novo também. — Confessei sincera.

Colin era uma das minhas pessoas preferidas no mundo. Ele era o único que me entendia por inteiro. Com ele as coisas sempre foram fáceis. E eu sabia que se eu desabafasse sobre o que estava sentindo ele me entenderia, afinal, quando criança, também perdeu o irmão mais velho em um acidente na casa da avó. Contudo, envolvida na minha própria dor, até mesmo dele, eu me mantive longe. Mesmo assim, ali estava aqueles olhos angelicais, prontos para me amparar. Com certeza, com Colin ao meu lado, ser um pouco mais eu, seria possível.

Pelo menos era o que eu esperava.

DOSE DUPLAOnde histórias criam vida. Descubra agora