UM "SER" PECULIAR

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Apesar de ser nova, Ava já havia vivido muitas coisas. Colecionar experiências, era algo viciante para ela. Mente aberta, como poucas pessoas, buscava constantemente experimentar de tudo. Sem preconceitos, excesso de moral, ou decência.

Como uma leoa, simplesmente se jogava na vida. Sem medo, sem preocupações, sem filtros.
Tudo o que tinha para fazer e dizer, ela fazia. Não se importava com as opiniões alheias. Ninguém a parava. Sua personalidade forte, atraía as pessoas. Com ela era 8, ou 80. Ou á amavam demais, ou a odiavam demais. A única pessoa que conseguia estabilizá-la, entre os dois extremos, era eu. Segundo a própria, eu representava seu limite, e seu porto seguro.

Mas, ao contrário dela, eu não estava preparada para viver. Sempre muito doce, romântica e emotiva, não via maldade em nada, nem em ninguém. Por isso, residia em um mundo só meu, onde minhas fortalezas, eram minha família, meu amigo, e meus livros. Me negava fielmente a pensar negativo, vivia em um círculo vicioso, onde colocar as pessoas que eu amava a minha frente, era prioridade. Por mais que às vezes Ava parecesse cruel, ela tinha muitas qualidades e aptidões. Seu plano para o futuro era grandioso.

Quando á tiraram de mim, minhas esperanças, bem como, minha fé estremeceram.
Já não sabia demonstrar sentimentos, como antes. Estava emocionalmente bloqueada. Em pensar que quando crianças, era diferente.

Aos 5 anos, eu era a menina falante, para frente e extrovertida. Mas, quando Colin e Juan se mudaram para casa ao lado, as coisas mudaram. A presença deles deixou Ava mais confiante, o que fez sua timidez desaparecer. Ela se juntou a nós, destacando-se como líder. Com isso, eu me inibi. Mesmo assim, crescemos felizes e unidos até a morte de Juan. Depois, quando entremos no ensino médio, novamente tudo se transformou. Já não éramos um trio. A ascensão instantânea da minha irmã na faculdade, assim como, sua popularidade expansiva, á afastou. Colin começou a ficar diferente com ela, levando (ambos) a se ignorar definitivamente. Foi aí, que minha amizade com ele se afunilou.

Sorri involuntariamente, com a lembrança, repentina.

— Sorrindo, quando deveria estar de luto? — perguntou minha mãe. — Você é inacreditável.
— Não posso chorar a vida toda, mãe. — Retruquei.
— Sei que não. — Deu de ombros. Mas, esperava mais.
— Não liga filha. — Meu pai tentou amenizar, enquanto Soraia se retirava.
— Está tudo bem, já acostumei.
— Isso vai mudar. É só que, alguns levam mais tempo, para lidar com...
— Podemos parar de falar nisso? — O encarei. — Uma hora, vamos ter que parar, né?
— Sim, querida. — Ele beijou carinhosamente minha testa, e mudou de assunto. — Vai te ônibus, ou o Colin vem te pegar?
— Vou de ônibus.
— Não quer que eu te leve? — Arqueou a sobrancelha
— Claro que não. — Peguei uma, mação e fui em direção a porta.
Meu pai deu uma risadinha de leve.
— Deveria tirar sua habilitação.
— Eu tentei, 5 vezes, e não consegui. — Falei sobre os ombros.
— Não pode desistir porque é difícil. Agora pode ser diferente.
Mais uma lembrança foi desbloqueada:
Eu e minha irmã, juntas, indo tirar a habilitação. Com maestria, Ava foi aprovada de primeira. Com ela era sempre assim, tudo o desejava, conseguia. Ver seu triunfo constante, me deixava amedrontada e nervosa. Sendo o oposto dela, como de costume, não passei. Depois, fiz várias tentativas falhas, do mesmo. Até que por fim, desisti. Era desse jeito comigo. Ao me sentir pressionada, abandonava a causa.

(...)

Caminhei feliz analisando o céu, e a paisagem em volta.
O dia estava lindo.
A verdade é que eu gostava de andar. Respirar, e me sentir parte do exterior, supria uma necessidade bizarra de pertencer a algo.

DOSE DUPLAOnde histórias criam vida. Descubra agora