DESCOBERTAS

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Meus pais sempre foram muito religiosos. Até mesmo Charles, apesar de ser da farra, era devoto. Já eu, ao contrário deles, nunca fui de rezar, ou acreditar em um ser superior, que julga o certo e o errado. Por isso, sempre me senti estranha. Era como se Lise Moore, não existisse.

Por ter essa sensação, acabei me convencendo que ser invisível, seria uma boa opção.
Facilitava minha vida, e realmente facilitou. Até Ava Smith me notar.

Quando meu irmão voltou do interior, ele ficou obcecado por ela. Antes dela viajar, eles ficaram. Porém, quando voltou, investiu com tudo no melhor amigo dele. Charles se culpou, por nunca ter contado a Peter sobre Ava, por isso, acabou deixando para lá. Até começou a namorar a chata da Rebeca Scott, que a todo momento parecia fingir ser quem não era. Mas, para a desgraça dele, e da minha, um belo dia, entediada com sua vida perfeita, resolveu atentar meu irmão, de novo. Ele tentou resistir, mas falhou miseravelmente. Por ela, traiu o melhor amigo e a garota com quem estava, e de quebra, me fez ficar em suas mãos. O que, me deixou irritada.

Cautelosa, fazia de tudo para ser discreta.
Contudo, em um descuido, Ava me ouviu no telefone.
Fui seguida, e descoberta.

Com aquele jeito "amiga" do povo, tentou atuar como a compreensiva, que entendia tudo, e tentou me conquistar. Contudo, eu sabia que ela adorava ter as pessoas sobre seu domínio.

Passei a viver com medo. Afinal, se ela contasse o que descobriu, tanto minha vida, quanto minha família cairia por terra.

Ser gay, e ter uma relação com outra mulher, não ficou mais fácil com a modernidade.
Embora, a maioria acredite que é tolerável, sem querer, acabam sendo preconceituosos.
Agora, imagina soltar uma bomba dessas, em meio a uma família tradicional.
Eu precisava dar um jeito de afastá-la, ou de pelo menos, mantê-la sobre controle.

E foi o que eu fiz.

(...)

— Olha só! Ela pensa.
— Alguém nessa família tem que usar o cérebro, né? — Retruquei, ao jogar uma almofada na cara de Charles.
— Está tudo bem?
— Acho que eu deveria estar fazendo essa pergunta. Como ficou sua relação com o Peter, depois dele descobrir, o que ele descobriu.
— Não existe mais relação. — Soltou o ar, pesarosamente. — Estraguei tudo.
— Então resolve. Sei lá, pede desculpas.
— Já fiz isso.
— Sempre disse que a Ava ia te trazer problemas.
Ele revirou os olhos.
— Eu sei! Você estava certa.
— Você foi falar com o Dean, e o Philips?
— Claro que não. — Respondeu, com voz de nojo. — Nem acredito que fui amigo deles por tanto tempo. Como pode? Dois monstros.
— As pessoas nem sempre são o que aparentam.
Seus olhos me encararam com curiosidade.
— Algum motivo especial para essa frase?
Engoli em seco, e meus olhos encheram de lágrimas.

Carinhoso, Charles se levantou e sentou do meu lado no sofá. Acariciou meu rosto, e deu um beijo no topo na minha cabeça.

— Sabe que pode me contar qualquer coisa, né?
— O pior, é que não posso.
— Por quê? Confia em mim.
— Eu preciso ter certeza de uma coisa antes.
— Como quiser! Sempre vou estar aqui.

(...)

Para agir, precisamos ter plena consciência dos nossos atos, bem como, coragem para sustentar nossas decisões. Baseada nisso, me aproximei de Evie Smith, a gêmea sobrevivente. O que no começo começou como um acercamento estratégico, transformou-se e uma amizade.
Contudo, precisava manter o foco.

Nosso contato, acabou me trazendo informações relevantes, como, por exemplo, o fato da mãe dela, ter guardado os pertences pessoais da falecida na garagem da nova casa.
E a minha visita até lá, me ajudou a ter o que precisava. O diário de Ava.
Se Rebeca e Morgan tinham um, a abelha rainha também deveria ter. 
Não estava errada. 

Antes de ler tudo, do começo ao fim, procurei pelo meu nome, e então arranquei as páginas. Haviam duas. Só depois disso, é que comecei a ler ele por inteiro.
A cada folha, uma surpresa. Aquela garota era um poço fundo, de problemas.

Demorei para assimilar, e elaborar meu próximo passo.
Precisaria de ajuda.

Peguei o celular, e disquei um número bem conhecido.
— Alô? — Respondeu do outro lado da linha.
— Precisamos contar o que sabemos. — Fui direta.
— Porquê? Já prenderam o Dean e o Philips pela morte da Ava.
— Mas, você sabe que não foi eles.
— Não! Eu não sei de nada.
— Me desculpa! Eu vou contar, agora tenho com o que sustentar.
— E...
— Não se preocupa, sobre mim, ninguém vai saber.
— Só não vai sozinha.
Sorri.
— Tenho a pessoa certa, para dar a cara a tapa.

(...)

A noite, caiu.
Minhas mãos estavam frias, suando e meu coração acelerado.
Passei meses criando teorias, e agora, finalmente poderia dar o cheque mate.
Toquei a campainha.
Respirei fundo.

— Lise? O que está fazendo aqui?
— Oi! Peter, preciso da sua ajuda.
—  Da minha ajuda? Com o quê?
Deslizei a mão para dentro da bolsa.
Estendi o diário de Ava para ele.
— Isso é..
— Sim! As inseparáveis, tinham diários iguais, cada uma, com sua inicial.
— Onde achou ele?
— Na garagem dos Smith
— Será que a Evie sabia dele?
— Não! Se não, ela não teria ido viajar.
— Por quê? - Arqueou as sobrancelhas.
— É melhor você me convidar para entrar, porque depois do que eu vou te contar, e mostrar, vamos ter que agir rápido.
— É tão sério assim?
— A vida de mais alguém, pode estar em perigo.

SIM! As descobertas que fazemos na vida, às vezes, nos coloca em uma posição em que não queríamos estar. Inclusive, nos obriga a fazer o que não queremos, ou sim.

DOSE DUPLAOnde histórias criam vida. Descubra agora