ÚLTIMO SUSPIRO

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Cansada de imaginar uma vida que ainda não me pertencia, tomei um banho na água fria. Com isso, pretendia voltar para a realidade. Demorei exatamente dez minutos para secar os cabelos, vestir um vestido, e deitar no sofá.

Só depois que parei, e fiquei em completo silêncio, é que pude escutar golpes na porta.
Abaixei o volume da música, e prestei mais atenção. Três novas batidas soaram.
Um sorriso logo se formou no meu rosto. Apesar de não esperar sua presença, justamente na minha casa, naquele horário, estava feliz, pois sabia quem era.

Corri até a janela só para ter uma confirmação.
Puxei a cortina para o lado. Por alguns segundo fiquei perdida. Senti um frio na barriga, e em seguida um arrepio na espinha. Sem demora, destranquei a porta.

Um beijo feroz que chegou a me machucar, me surpreendeu. Havia força bruta, como se fosse um desejo incontrolável. Tentei falar, mas fui bruscamente interrompida por toques íntimos e desesperados. Fechei os olhos e resolvi esvaziar a mente. Então, fui conduzida para um dos quartos. Ao estar dentro do cômodo, fui empurrada contra a cama. Agarrando-me pelos cabelos, sussurrava frases avulsas:

— Eu preciso de você! Te desejo, mais-que-tudo. Quero te ter. Sem você eu morro, ou mato.

Algo estava diferente. Talvez a intensidade dos acontecimentos e das palavras. Mesmo assim, deixei que as coisas seguissem seu curso.

Quando o ato sexual terminou, um alívio me atingiu. Não foi como das outras vezes, e eu não entendia o motivo.

Esperei alguns segundos, em completo silêncio, apenas observando.

Momentos depois, seus olhos voltaram-se para mim. Busquei seu foco, e com sua atenção novamente, tendei entender sua atitude.

— O que aconteceu?
— Do que esta falando? — Tentou desconversar.
— Você estava fora de si quando chegou aqui. Com raiva. Quero saber, por quê?
Seu corpo começou a se agitar de novo. Suas mãos foram parar no meu rosto, fixando nossos olhares.

— Escuta! Tem uma pessoa que descobriu sobre a gente.
Pisquei tão rápido, que mal tive tempo de pensar.

— Quem, e como?
Um suspiro longo saiu da sua boca.
— Eu não sei. Mas, fiquei fora de mim. Você sabe que ninguém pode saber.
Me sentei na cama, cobrindo-me com o lençol, enquanto minha companhia se vestia.
— E se... — Engoli em seco. — E se finalmente contássemos sobre nós?
Como um raio, pulou da cama, e vi o exato momento em que suas pupilas dilataram.
— DO QUE CARALHO ESTA FALANDO? — Gritou.
— Eu só... — Me encolhi. — Estou cansada de ficar escondida. Não sou assim.
— Claro! — Riu amarguradamente. — Como sempre pensando só em você.
— Isso é mentira. — Aumentei o tom, levantando-me. — Aceitei tudo para ficar do seu lado.
— Do meu lado, ou na minha cama?

Antes mesmo de raciocinar, abri a palma da mão, e lancei um tapa em seu rosto.
— VAI PRO INFERNO. — Disse, enquanto tentava atingir outra parte do seu corpo.
Com raiva, segurou meus pulsos com força.

Seu olhar mudou. O brilho sumiu e um sentimento novo surgiu.

— IDIOTA é uma boa palavra para mim. — Refletiu em voz alta. — MAS ME ESCUTA! NINGUÉM VAI SABER. MINHA VIDA NÃO PODE ACABAR POR ISSO. — Olhou para nós, juntos.
Uma facada doeria menos.

— E se eu mesma contar? — Ameacei.
— Não daria tempo. — Sussurrou.

De repente, me soltou de uma vez, fazendo-me cair. Humilhada, com o ego e os sentimentos feridos, fiquei ali parada, vendo sua presença de desfazer.

 Vinte minutos foi o tempo que levei para me trocar e ficar com meus pensamentos.
Estava olhando pela janela, quando ouvi novamente passos. Ao me virar, a agressão começou.

Nem sequer tive tempo de reagir.

Levei um, tapa na cara e fui jogada no chão. Enquanto me puxava para o centro, eu agitava as pernas freneticamente. Naquele momento, todas as minhas ideias românticas desapareceram, dando lugar aos meus instintos de sobrevivência. Tentei escapar, mas recebi um chute enfurecido na barriga, fazendo-me perder o ar.

Seus olhos me fitavam com ódio.
Mesmo fraca, busquei por uma explicação:

— Porque esta fazendo isso comigo? Porque você?  — sussurrei.  — Eu te amo!

Meu questionamento só aumentou sua fúria. Em um só movimento, me levantou e segurou minha cabeça para trás. Sem piedade, arrancou mechas dos meus cabelos com os dedos. Me rebati ao máximo, até tomar impulso e me livrar. Contudo, antes mesmo de chegar perto da cama, minha cabeça foi atingida por uma estrutura dura. Automaticamente, minha visão ficou turva, minha audição comprometida, e as pernas bambas, fazendo-me tombar.
A dor era lancinante.

Seu corpo caiu sobre o meu.
Suas mãos frias passaram pela minha face, e seus lábios foram até meu ouvido.

— Quer saber por quê? Porque eu tenho vergonha de você, sempre tive, sua vadia. Quer saber outra coisa? Eu nunca te amei, na verdade, eu te odeio — Declarou de modo frio.
Apesar de estar ferida e sangrando, fui deixada ali, desfalecida.

Vi quando se afastou e voltou com algo na mão. Não demorou muito, meu pescoço foi tomado por uma pressão estrangular. Arfei em busca de ar, mas sem sucesso. Embora meu corpo não conseguisse mais reagir, fiz questão de não perder contato visual. Aos poucos a dor desapareceu, e aliviada dei meu último suspiro.

Fui assassinada em um sábado á tarde, dentro da minha própria casa, por uma pessoa que pensei que me amava, acima de qualquer defeito ou erro.

DOSE DUPLAOnde histórias criam vida. Descubra agora