FUGA

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É impossível enfrentar a realidade o tempo todo sem nenhum mecanismo de fuga.
A rotulação de o próprio ser, ter mais de uma personalidade, me deu margem a uma fuga sem culpa. Eu poderia ser o Colin inteligente, sensível, amigo, sereno. Mas também, era o Colin selvagem, misterioso, cheio de luxúria, e raiva.

Cada um, sempre teve o que merecia de mim. Isso, desde criança.
Juan meu irmão, por exemplo, era meu parceiro.
A nossa diferença de idade, por ser pouca, nos unia.
Minha melhor versão, consistia quando o tinha ao meu lado.

Contudo, um certo dia, enquanto brincávamos de esconde, com nossas amigas, ele me traiu.
Quando vi, ele e Evie trocando um selinho, meu coração quebrou pela primeira vez.
Me escondi, observei, absorvi, e fui embora. Naquele momento, descobri o que era ódio.

Em vez de explodir, guardei tudo para mim. Até o momento em que senti a dor.
Nesse momento, uma chave mudou na minha cabeça.
Quando a oportunidade chegou, eu aproveitei.

Juan vestia um short marrom, e uma blusa listrada. Estava descalço, e com um brinquedo na mão. Justamente o brinquedo que Evie me deu. Meu sangue ferveu, e determinado, segui em sua direção. Seu corpo estava perto do início da escada. Calculista, espalmei minhas mãos em suas costas. Fiquei parado, olhando ele rolar pelos degraus. Depois, desci, e fiquei encantado ao vê-lo rodeado por um vermelho escarlate, brilhante.

Em êxtase, gritei, sai correndo, não para pedir ajuda, ou por desespero, como pensou minha mãe, mas por poder alegria. Um obstáculo a menos para mim, afinal.
Cresci, sem ele, tal como, sem remorso. Todavia, um pouco mais recluso. 

A morte do meu irmão acabou derrubando um muro dentro do meu ser, libertando-me. Meus pais, se afastara de mim, devido ao luto, para minha felicidade. Sem eles na cola, poderia ser mais eu. E como ambos, deixaram de ir para a casa de campo, a usei como refúgio. Lá o meu lado ruim podia sair. Por isso, quando percebia que minha pior versão, afloraria, ia até ela. Obviamente, não poderia contar para ninguém meus pensamentos obscuros, então, os pintava. Foi assim, que dei vida a minha obra: irmão morto. Consequentemente, mais tarde, ao : Vadia morta. 

Cauteloso, ao  me misturar com a sociedade, reprimia o que não era bom, e  tornava-me o exemplar Colin Baker. O melhor amigo, o melhor aluno, a melhor pessoa.

Evie Smith era a minha direção, minha contenção, meu objetivo, meu objeto de desejo, meu tudo. Tê-la do meu lado, fazia meus pensamentos se abrirem, afastando-me da maldade. Até porque, não tinha mais obstáculos. Ou melhor, quase não. Precisei também, afastar a gêmea grudenta. Como? Instigando-a a ser quem eu queria que fosse.

Lembro-me do dia em que ela veio se declarar.
Sendo totalmente prepotente, eu sabia dos seus sentimentos. E a odiava por isso.
Não deveria ser ela a gostar de mim.

Tínhamos 14 anos.
Dei-lhe um fora magistral nela. Disse que, para mim, não era nada, nem ninguém, sequer existia. Quando me perguntou o motivo, disse que ela nunca seria a irmã. Ava bem que tentou me convencer do contrário, mas não sabia como fazer, o que a levou a falhar. Fui sincero, direto, e deixei meu lado maléfico surgir.

— Vaza! Não existe chance. Você é fraca. — Dei-lhe um, tapa no ombro. — Vai procurar ser alguém que as pessoas notem. Desperte o interesse, dos outros em você. — Dei de ombros. — Nem que para isso, tenha que controlá-los — Sorri, e me abaixei. — E nunca comente sobre — Apontei dela para mim. — Com ninguém. E lembre-se, Evie é melhor que você.

DOSE DUPLAOnde histórias criam vida. Descubra agora