Capítulo 2

734 50 13
                                    

CARLA

Me sento na cama em um movimento brusco e tento normalizar minha respiração ofegante enquanto sentia as lágrimas se misturarem às gotas de suor que escorriam por meu rosto. Anos já haviam se passado, mas eu não conseguia lembrar de uma noite sequer em que havia conseguido dormir sem ter meu sono invadido pela escuridão do meu passado. Tudo me lembrava do trauma que eu tanto queria esquecer, e haviam dias em que a dor parecia ser maior do que eu podia suportar. Olho para a janela do quarto e vejo o sol brilhar do lado de fora enquanto uma borboleta batia as asas ali por perto. Em um passado muito distante lembro que minha mãe costumava me chama assim...

Borboleta!

Mas diferente da menininha que ela havia dado à luz, minhas energias haviam sido totalmente sugadas pela crueldade do mundo. Sentido meu corpo pesar uma tonelada me levanto da cama em um movimento lendo e caminho até o banheiro, não demorando a me jogar debaixo do chuveiro. As gotas de água escorriam por minha pele enquanto minha alma implorava para que ela levasse para o ralo toda a dor que eu ainda sentia. Percebendo que minha prece não seria atendida, desligo o chuveiro e começo a me arrumar para mais um dia de aula. Meu trabalho era uma das poucas coisas capazes de pôr um sorriso em meus lábios, e eu não podia negar o quanto aquelas crianças me faziam bem. Em um piscar de olhos termino de me preparar para o longo dia que teria pela frente, não demorando a dirigir até a escola. De alguma forma minha aversão ao toque desaparece totalmente quando sou abraçada por meus alunos, e sei que além de Viviane e Mara, a inocência que existe por trás desse gesto de carinho é real. Vejo as crianças correrem em minha direção, e após recebê-las com um sorriso, levo todas até a sala, iniciando minha aula logo em seguida. Eu as amava, e saber que de alguma forma sou responsável por fazer bem à elas, diminui um pouco a dor que um dia me fizeram. Eu faria qualquer coisa para proteger meus alunos, e por eles eu seria capaz de tudo. 

[...]

NARRADORA

O tempo volta a se passar rapidamente, e antes que percebesse, o final do turno já se aproximava. Carla visitava Mara toda a semana após a aula, e para ela não seria diferente naquele dia. Pouco tempo após ter se formado, a professora havia decidido encontrar uma casa para si mesma. E apesar de sentir falta de morar com a mulher que havia a acolhido como mãe, a loira sabia que aquilo era necessário. Mara havia tido um papel fundamental em sua vida, mas entre todos os ensinamentos que havia aprendido com a mais velha, recomeçar a vida de forma independente era um deles.

- Professora, Carla! 

A jovem desperta de seus pensamentos ao ouvir uma voz suave chamar seu nome, e logo direciona sua atenção até uma de suas alunas.

- Oi, Clarinha! Já terminou sua atividade? 

Diaz questiona carinhosamente enquanto caminhava até a mesma. Havia passado um pequeno exercício para as crianças, e agora via todos os pequenos permanecerem concentrados no que faziam em seus cadernos.

- Já sim, professora! Posso ir ao banheiro?

- Claro, querida! 

Ainda sorrindo Maria Clara entrega a atividade e sai da sala de aula. Carla se prepara para corrigir as questões respondidas em sua mesa, mas antes que pudesse chegar até lá, uma batida na porta chama sua atenção.

- Viviane? O que faz aqui? Precisa de ajuda em algo? 

A loira questiona ao ver sua amiga ali, e logo caminha até a entrada da sala para que pudesse conversar em particular com a jovem.

- Oi, amiga, preciso sim! Acredita que os danadinhos dos meus alunos esconderam o meu piloto para que eu não escrevesse no quadro? 

A morena murmura indignada, conseguindo arrancar um riso da amiga.

Fire - CarthurOnde histórias criam vida. Descubra agora