Fire - Carthur

Capítulo 40

UM MÊS DEPOIS 

CARLA 

Caminho entre as cadeiras da sala de aula e acaricio o cabelo de um dos meus alunos enquanto continuava a supervisionar a realização das provas. Continuo focada no que acontecia na sala de aula até sentir minha mente voltar a navegar em todos os acontecimentos do mês que já havia se passado. O tempo parecia ter voado como num piscar de olhos, mas eu ainda lembrava da incrível sensação de acordar sentindo o calor do corpo de Arthur colado ao meu. Há alguns anos atrás imaginar ser tocada novamente por um homem era o suficiente para me fazer afundar em terríveis crises de pânico, mas hoje toda vez que os braços do meu namorado me envolvem, tudo o que consigo sentir é segurança, paz e amor...

Muito amor! 

Arthur havia chegado em minha vida para me ajudar a superar todos os traumas que me perseguiam, e agora percebo o quanto valeu a pena me abrir aos poucos para esse sentimento que só faz crescer dentro de mim. Nossa primeira noite de amor havia sido mágica, e a cada vez que me perco em seus braços volto a sentir a mesma paixão continuar a arder em meu interior como nunca antes. Durante esse mês passei a cuidar mais de mim, e após iniciar minhas consultas na ginecologista, me permiti finalmente procurar ajuda psicológica. O amor do Arthur havia trazido vida à minha alma, mas ainda assim as experiências terríveis que vivi não podem ser apagadas como num passe de mágica. No início tentei evitar esse assunto, mas após muito insistir Arthur acabou me convencendo a procurar ajuda profissional, e hoje vê-lo me esperando no final de todas as consultas tem sido um combustível para que eu continue me abrindo para a terapia que tem me feito tão bem. Desperto dos meus pensamentos ao passar pela cadeira de Maria Clara, não demorando a sentir a preocupação voltar a tomar conta de mim ao me deparar novamente com o desânimo que tem se tornado tão frequente em seu rosto. Nos últimos meses as notas dela vinham caindo cada vez mais, e apesar de me preocupar com isso, era o seu comportamento que mais me afligia. A alegria que costumava brilhar em seus olhos todas manhãs passava a diminuir a cada dia, e sua animação para brincar havia desaparecido. Por diversas vezes tentei me aproximar para tentar entender o motivo de sua mudança, mas Maria Clara parece fugir de todos à sua volta, inclusive de mim. Meu coração se apertava ao vê-la assim, e bem no fundo eu sabia que o que sentia por ela ia muito além do carinho que uma professora nutria por seus alunos. Eu queria protegê-la, cuidar dela e lhe dar todo o amor que eu havia descoberto guardar dentro de mim mesma. Como num estralar de dedos o tempo volta a se passar e o período das aulas chega ao fim. Com um sorriso amoroso nos lábios me despeço dos meus alunos na medida em que recebia as provas, não demorando a ver a sala vazia com exceção de uma única criança. Decidida a descobrir o que estava acontecendo, volto a caminhar até Maria Clara, não demorando a vê-la se levantar da cadeira rapidamente ao ver eu me aproximar.

- Querida, você está bem? Tenho te achado tão tristinha ultimamente. Você sabe que pode me contar qualquer coisa, né? 

NARRADORA 

A professora declara em um tom de voz suave, respirando fundo ao não receber nenhuma resposta da pequena.

- Clarinha, eu...

- E-Eu preciso ir, meu papai já deve estar chegando, eu não posso me atrasar! 

Sem dar chance para Carla terminar de falar, a criança entrega a prova para a loira e pega sua mochila, voltando a correr para fora da sala logo em seguida. Totalmente frustada e preocupada Diaz desliza a mão pelo rosto e encara o papel em suas mãos antes de voltar a se sentar em sua mesa com a intenção de corrigir as provas. Os minutos pareciam voar para longe, mas por mais que tentasse focar naquilo que estava fazendo, a mente de Carla parecia estar à quilômetros daquela sala de aula. Um pressentimento ruim tomava conta de seu coração, mas antes que pudesse continuar perdida em seus próprios pensamentos, um cheiro familiar toma conta do local, fazendo a jovem sorrir bobamente ao sentir duas mãos tamparem seus olhos de repente.