Capítulo 42

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DIA SEGUINTE

CARLA

Abro os olhos sentindo uma forte dor de cabeça me atingir e volto a me afundar nos lençóis ao lembrar de todos os acontecimentos do dia anterior. Após eu me derramar em lágrimas no meio da delegacia, Arthur havia me trazido para casa e permanecido comigo durante toda a noite até que eu me rendesse ao sono. Eu não conseguia explicar ao certo o misto de sentimentos que tomavam conta de mim, mas toda vez que fechava os olhos ainda podia ver a imagem de Maria Clara implorando para que eu não deixasse que a levassem embora. Eu conseguia reconhecer muito bem todo o medo e desespero que ela sentia, porque há anos atrás eu estive em uma situação mais do que parecida. Eu conseguia me ver em Maria Clara, e mesmo não entendendo o que faria em relação àquilo, meu coração batia forte toda vez que pensava no que aconteceria com ela se ninguém a ajudasse. Eu sempre nutri um carinho especial por cada um dos meus alunos, mas o que sinto por Clara vai além disso. Eu não sabia explicar ao certo o motivo daquilo, mas o instinto de proteção que sentia por ela me fazia lembrar do quanto desejei um dia ser protegida pela minha própria mãe daquela forma. Eu sentia a necessidade de cuidar dela, de lhe dar amor e de ajudá-la da mesma forma que Mara havia me ajudado. Sentindo meus olhos continuarem a arder me levanto da cama com cuidado e saio do quarto com a intenção de procurar por Arthur. Meu corpo parecia ter sido atropelado por um caminhão, mas a dor que sentia naquele momento não chegava aos pés do aperto que parecia esmagar meu coração. Eu não sabia se Maria Clara estava com fome, com frio ou com medo, e isso me matava aos poucos. Sentindo que voltaria a desabar em lágrimas à qualquer momento continuo a procurar por Arthur, não demorando a ser pega de surpresa ao ver outra pessoa na cozinha da minha casa.

- Oh, minha menininha, que bom que você acordou! O Arthur precisou sair para resolver algumas coisas e pediu para que eu viesse te fazer companhia, ele não queria que você ficasse sozinha. 

NARRADORA

Mara declara terminado de desligar o fogão e voltando seu olhar carinhoso para a expressão abatida no rosto da professora.

- O Arthur me contou o que aconteceu com a sua aluna, e....

Antes que pudesse terminar de falar a mais velha vê Carla correr em sua direção e se lançar em seus braços enquanto chorava copiosamente. Em um movimento rápido Mara envolve a loira em um abraço apertado, não demorando a guia-la até a sala.

- Ei, minha criança, o que houve?

- A c-culpa é minha, eu devia ter feito algo antes...ela estava t-tão assustada! A Maria Clara não m-merecia aquilo! 

Sentindo seu coração se apertar diante das lágrimas de Diaz, Mara puxa a jovem para seu colo e continua a acariar os cabelos macios de Carla, fazendo a morena desabar ainda mais em seus braços.

- Se não fosse por você ela ainda estaria presa nas garras daquele monstro. Nada disso foi sua culpa, você salvou aquela criança, querida! 

Mara afirma convicta e abraça Diaz com ainda mais força, a fazendo começar a se acalmar logo em seguida. Os minutos pareciam voar para longe, mas antes que pudesse continuar a consolar a professora com o rosto banhado em lágrimas, Mara ouve o silêncio que tomava conta da sala ser quebrado pelo som da voz da jovem.

- P-Por que você cuida tanto de mim? Por que decidiu levar uma completa estranha para a sua casa? Por que não desviou o olhar quando me viu procurando comida nos sacos de lixo? Por que me tirou das ruas? 

Carla pergunta de repente, e como se houvesse levado um choque Mara observa a loira sentar em sua frente enquanto aguardava uma resposta. Despertando de seus pensamentos a mais velha respira fundo e segura as mãos da professora antes de finalmente voltar a falar.

Fire - CarthurOnde histórias criam vida. Descubra agora