Capítulo 7

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NARRADORA

Carla parecia ter sido arrastada de volta para o seu pior pesadelo, e o mesmo pavor que havia sentido durante sua infância voltava a envolve-la de forma assustadora. Seus músculos estavam tencionados, suas mãos tremiam, sua respiração falhava e seu coração batia mais rápido que o normal. Estava tendo uma crise de ansiedade, e aquela ameaçava ser a pior que já havia tido. Sentindo seu corpo finalmente reagir ao olhar malicioso do homem que se aproximava de si, Carla tenta correr para entrar no carro, mas novamente é pega de surpresa ao ver o mesmo correr em sua frente e bloquear a passagem com seu corpo.

- O que foi, gatinha? Está tentando fugir de mim?

- P-Por favor, n-não...

A professora implora com o único fio de voz que parecia ter no momento enquanto sentia as lágrimas começarem a se formar em seus olhos.

- Vai ser rapidinho, vamos nos divertir...ou pelo menos eu vou!

O pânico tomava conta de Diaz, e em um movimento totalmente desesperado Carla corre para longe. As gotas grossas de chuva caíam com força e embaçavam sua visão enquanto a loira tentava fugir do homem que continuava a persegui-la. Flashs do seu passado se misturavam ao pavor que sentia naquele momento, e antes que pudesse continuar a correr para se ver livre daquele pesadelo, uma mão grande e calejada segura seu braço com violência.

- NÃO! N-NÃO ENCOSTA EM MIM! NÃO! 

O grito de Carla carregava uma agonia fora do comum. Fazia anos que não era tocada por um homem, e as lembranças que tal gesto trazia lhe causava sensações mil vezes piores das que havia vivido. As lágrimas se misturavam com a chuva que molhava todo seu corpo enquanto a mesma continuava a se espernear em uma tentativa desesperada de se soltar do homem que a puxava violentamente em direção a um beco escuro.

- Pode gritar, gatinha! Eu adoro as selvagens! 

Diaz sente o nojo se alastrar por seu corpo diante das palavras maliciosas do homem a sua frente, e em uma última tentativa Carla grita o mais alto que pode, desejando fugir dos demônios que a arrastavam novamente até a escuridão.

- SOCORRO!

MINUTOS ANTES

ARTHUR

Entro em meu carro após um longo turno no corpo de bombeiros e encosto minha cabeça no banco enquanto respirava fundo. Minhas noites estavam sendo intensas, e tudo o que meu corpo almejava era algumas horas de sono. Após a recusa de Carla tentei pensar em um jeito de continuar a ajudar na reconstrução da escola de uma forma que ainda pudesse respeitar o seu espaço, e foi daí que surgiu a minha ideia. Eu trabalhava durante o dia e quando a noite chegava eu usava a madrugada para ajudar nas obras sem que fosse visto por ninguém. É claro que tenho sentido os efeitos das noites mal dormidas, mas de alguma forma surpreendente eu não me arrependo do que faço. Vejo as gotas de chuva começarem a cair do lado de fora e logo começo a dirigir até minha casa. Devido a chuva, trabalhar na escola hoje seria uma missão impossível, e por mais que estivesse animado com as obras, eu sabia que uma noite de descanso me faria bem. Continuo a dirigir atentamente até ter meus pensamentos guiados diretamente a uma certa loirinha de olhos castanhos. Os sentimentos que Carla despertava em mim chegavam a me assustar, e mesmo nos conhecendo à pouco tempo, o efeito que ela tem sobre mim é inegável. Sua gentileza me encanta, e suas complicações me atraem ao invés de me afastar. Nada nela é previsível, e mesmo sabendo que posso estar me lançando de cabeça em um buraco negro, por Carla vale a pena correr esse risco. Volto minha atenção para o caminho que percorria até ouvir um grito alto me obrigar a parar o carro em um rompante. A chuva caía intensamente do lado de fora, mas não demoro a ver um automóvel familiar parado do outro lado da rua. O silêncio repentino no local deserto começava a me fazer acreditar que estava ouvindo vozes, mas antes que pudesse voltar a dirigir para longe ouço um último grito carregado de dor me obrigar a sair do carro automaticamente. Corro em meio a chuva tentando procurar a dona daquela voz até sentir meu sangue ferver de raiva com a cena diante de mim. Um desgraçado se encontrava sobre uma mulher enquanto tentava a todo custa a agarrar à força, e sem esperar nem mais um segundo corro até o beco e deposito um soco forte em seu rosto, não demorando avançar de vez sobre ele. O sangue escorria por sua face a cada soco que lhe dava, e após algum tempo derramando sobre ele toda minha indignação o vejo desmaiar no chão sujo. Volto a realidade ao ouvir um choro baixinho ecoar no local e rapidamente corro para ajudar a mulher que havia sido atacada, não demorando a sentir meu coração falhar um batida ao finalmente conectar meu olhar aos olhos assustados que me fitavam cheios de pavor.

Fire - CarthurOnde histórias criam vida. Descubra agora