Capítulo 5

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DIA SEGUINTE

CARLA

Enxugo uma gota de suor que escorria por meu rosto e sorrio ao ver a mobilização ao meu redor. Várias pessoas haviam se disponibilizado para ajudar na reconstrução da escola, e ver tanta gente focada em fazer algo bom para as crianças aquece um pouco o meu coração. Alguns dias haviam se passado desde o incêndio, e após receber alta do hospital não demorei a receber um sermão e vários abraços da parte de Mara. Como esperado, a mulher que eu considerava como mãe havia entrado em pânico ao saber do que havia acontecido, e de alguma forma sua preocupação fazia eu me sentir alguém importante. Eu sabia que ela me amava, e apesar de sentir o mesmo, não conseguir expressar tal sentimento me destróia cada vez que não conseguia dizer o tão esperado "eu também te amo". Passei toda minha infância sentindo nojo de mim mesma e acreditando que nunca seria digna de qualquer tipo de amor. E mesmo lutando para manter todos os meus traumas no passado, não conseguir expressar o que sinto é uma das consequências de todas as feridas que já foram abertas em mim. Volto a retirar os pedaços de madeira do chão e por um momento permito que minha mente me leve de volta a alguns dias atrás, especificamente no exato segundo em que meus olhos se cruzaram com os do homem que havia salvado minha vida. 

Por que diferente de todos os outros homens, sua presença havia me trazido uma breve sensação de segurança? 

O que havia de diferente nele? 

Por que meus pensamentos não conseguiam fugir dele? 

E o principal...

Por que bem no fundo sinto vontade de vê-lo novamente? 

Balançando a cabeça negativamente em um movimento rápido, tentando a todo custo deixar aquela loucura para trás. Durante toda minha vida eu construí um penhasco que me separasse de qualquer homem, e para me manter segurança preciso continuar assim. De alguma forma o meu trauma me protege, e não suportaria passar pelo que passei novamente. Todos os homens são egoístas, maldosos, frios e interesseiros. No fundo o Arthur deve ser como todos os outros, e com certeza não vai querer investir mais em uma mulher totalmente aversiva ao toque masculino. 

Afinal, qual a probabilidade de alguém aceitar entrar em um relacionamento com uma pessoa que entra em crise ao somente imaginar ser tocada? 

Uma parte de mim gostaria de acreditar que existe nesse mundo alguém capaz de me ajudar a curar todas as feridas que ainda me machucam, mas na vida real príncipes encantados não existem e não se apaixonam por pessoas com um passado como o meu. Tentando focar minha atenção no que fazia, me abaixo para pegar uma parte do teto que havia desabado, não demorando a suspirar em frustração ao não conseguir recolher o material extremamente pesado. Com muito esforço tento novamente, sentindo meus braços tremerem diante do peso. Meu corpo já não suportava mais sustentar o objeto, mas antes que pudesse desistir sinto outra pessoa carregar o outro lado do material me ajudando a levá-lo até a grande lixeira com a maior facilidade. Com um sorriso satisfeito nos lábios ergo a cabeça disposta a agradecer a pessoa que havia me ajudado, não demorando a sentir meu coração falhar uma batida ao ver quem estava diante de mim.

- A-Arthur?! 

NARRADORA

A loira murmura surpresa enquanto tentava entender o misto de emoções que tomavam conta de si ao ver o bombeiro novamente.

- Oi, Carla! Tudo bem? 

Picoli questiona gentilmente tentando ao máximo desviar seu olhar dos olhos castanhos que haviam o hipnotizado.

- O-o quê você está fazendo aqui?

- Hum...fiquei sabendo da mobilização que iriam fazer para reconstruir a escola e vim ajudar.

Fire - CarthurOnde histórias criam vida. Descubra agora