A sem rosto da Toman

O começo de um novo fim.

- Espero que tenha um ótimo motivo para me acordar tão cedo em um sábado...- Me revirei na cama cobrindo meus olhos com as mãos enquanto escancaravam as cortinas barulhentas de meu quarto.

- Creio que seja mais importante do que imagina Kaonashi,o diretor me pediu que viesse chama-lá imediatamente,ele te espera em sua sala.

Era Ashura minha colega de quarto,dividíamos o quarto há 4 anos mas a gente é meio gato e rato,duas mulheres de personalidade forte e que lutam bem,as vezes a coisa ficava meio tensa demais e principalmente quando as duas estavam com fome.

Me coloquei sentada na cama com muita dificuldade,estava acabada após o treino de sexta,o que era irônico para mim já que a semana inteira pegamos leve no treinamento mas meu Sensei insistia em comemorar a chegada de toda sexta-feira com um super intensivo de anos em apenas um dia,olhei para o relógio em minha mesinha e lá apontavam 9h00 da manhã,calçei minhas pantufas e fui em direção ao banheiro,me olhei no espelho e retirei minhas longas mechas negras de cima da minha regata analisando cada hematoma nas costelas.

- Velho idiota... – Pensei comigo me referindo ao velho sensei Otsuka.

Voltei ao quarto e vesti o kimono branco de todos os dias,prendi meu cabelo em um coque apertado no topo da cabeça e me virei para Ashura que estava sentada em sua cama tentando domar seu cabelo selvagem em uma trança,me aproximei e ela se levantou em silêncio,nos encaramos com cara feia por segundos e esticamos as mãos para nosso toque de mãos especial.

-Tenha um bom dia hoje treinando ta? – Falei segurando a maçaneta da porta e em seguida girei para abri-lá.

- Terei um treino melhor que o seu de ontem,pode apostar! – Ela disse em meio a uma gargalhada macabra,apenas sai andando pelo corredor.

No refeitório para o café percebi que algumas pessoas me encaravam,só ignorei já que não sabia o nome de ninguém e nem fazia questão de saber.....bom parando para pensar,fazem alguns anos que parei de fazer questão na verdade.....

Eu já estava naquele lugar a tempo demais,na verdade nunca tinha me questionado sobre isso,todos esses 10 anos eu estava aqui sem me questionar sobre um motivo específico mas desde que me levantei essa manhã eu comecei a sentir coisas,coisas estranhas no meu interior como uma falta de ar mínima,euforia e uma taquicardia incômoda,mas todo esse tempo aqui tive a impressão de nunca ter sentido nada.Tomei um gole de meu café e olhei ao redor novamente,o cheiro do refeitório era único uma mistura de cheiros suaves,as pessoas passando de um lado para o outro traziam o aroma de pão recém saído do forno e baunilha,mas por que baunilha? Nunca faziam bolo ou biscoitos,por que essas sensações me lembram da minha mãe,ela tinha um rosto? Ela já teve um,mas eu já não me lembrava mais....

E meu pai? Eu nunca esquecia do rosto dele.....será que era porque uns 2 anos antes de me mandar para cá ele se tornou mais presente em minha vida? Será que era por que eu ainda me lembrava do rosto que ele havia feito na noite que me deixou aqui? Ou de suas palavras para mim antes de me abandonar por 10 anos? Foram 10 anos sem cartas,visitas,ligações,qualquer sinal de uma vaga lembrança de sua única filha.....

Fui interrompida de meus pensamentos ao ouvir uma voz robótica de uns dos altos falantes espalhados pelo prédio chamar pelo meu nome.

-Kaonashi Tsubaki,o senhor Rokuro á aguarda em sua sala.- Foi ai que me lembrei o motivo de estar de pé tão cedo.

No corredor para sala do diretor aquela taquicardia foi aumentando, e o som das palpitadas do meu coração foram ficando cada vez mais alto,chegando de frente para porta controlei minha respiração e bati.