nineteen

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Às dezoito em ponto, como Fushiguro dissera, ele estava no quarto junto com Megumi. O pequeno foi colocado no chão e você sorriu pra ele, ignorando a presença de Fushiguro.

— Mama, Gumi tava com saudades. – Os olhinhos dele brilhavam.

— Mama também estava com saudades. – Seus dedos acariciaram a bochecha dele.

— Por que Mama sempre fica aqui? – Criança esperta.

Você piscou em surpresa e olhou de relance para Fushiguro, o olhar dele acabou cruzando com o seu. A sensação transmitida era de que claramente teria que mentir para Megumi.

— Bom..É que eu tenho bastante coisa pra fazer aqui, entende? – Essa foi a pior mentira que já foi inventada.

Por sorte, Megumi ainda era ingênuo e concordou meio cabisbaixo. Você não aguentou vê-lo daquele jeito e o abraçou apertado, tentando mudar de assunto. Você vestia o moletom mais largo que encontrou para esconder o curativo em seu ombro, se o garoto visse, provavelmente perguntaria o que aconteceu.

Durante o tempo que tinham juntos, vocês dois brincaram e conversaram o máximo que puderam. Megumi falou que gostava de lobos, que odiava proteína e deu a entender que ele achava o Gojo chato por perturbá-lo várias vezes. Você deu risada, era bem a cara de Gojo fazer isso pelo que já viu.

Quando o relógio de pulso de Fushiguro alarmou, eram sete e meia da noite e ele iria sair. Sabendo que seu único meio de distração estava indo embora, você encolheu os ombros, decepcionada, mas ficou calada. 

Após um rápido abraço de despedida no garotinho, o pai dele o levou embora. Mais uma vez você voltava a ficar olhando o teto, sem nada pra fazer.

...

Uma semana passou rapidamente, Fushiguro vinha com Megumi todos os dias no horário exato. O clima entre você e o mais velho se suavizou e palavras eram trocadas aqui e ali.

Você descobriu coisas básicas sobre Megumi e as vezes ficava triste por saber que ele não tinha uma infância adequada para alguém de três anos. Fushiguro nunca lhe deixou ultrapassar a linha com o filho dele, então não era possível que você fizesse algo.

Quando Fushiguro chegou, Megumi dormia nos braços dele, você levantou sem entender enquanto ele colocava o filho na sua cama.

— Por que Megumi está dormindo essa hora? – Perguntou chegando perto do homem.

— Gojo saiu com ele mais cedo.

Isso era uma surpresa, todo esse tempo você pensou que o Megumi era mantido dentro de casa igual você.

— Por que o trouxe então?

— Eu disse que ia trazer ele todo dia, não disse? – Suspirou passando a mão no cabelo.

— Sim, mas...achei que era só quando ele estivesse acordado. – Fushiguro virou-se e parou.

— Se não o quer aqui, então vou levá-lo. – Fez menção de ir pegar o garoto mas você segurou o braço dele automaticamente.

— N-não, tudo bem, deixe-o aqui até dar o tempo.

Você continuou segurando o braço dele sem perceber, mas Fushiguro não fez questão de alertá-la sobre, então permaneceram parados por poucos minutos até que você o largasse rapidamente.

Enquanto o homem se sentava e acendia um cigarro, você permanecia em pé ali, sem tirar os olhos dele. Ele inspirou a fumaça e soltou lentamente em sua direção, você tossiu ao sentir o cheiro. Fushiguro ergueu o canto da boca em um sorriso mínimo.

— O que você quer, hein?

A pergunta dele desencadeou a frustração que uma semana atrás você havia prometido manter apenas para si. Mas ele não facilitava e, sinceramente? Você já aparentava ter desistido de sua vida.

— Quero sair desse quarto. Já deve ter se passado um ou talvez dois meses desde que estou presa nessa merda. Eu estou realmente enlouquecendo aqui, isso só não aconteceu por causa do Megumi. Você não faz nada comigo além de brigar e me ameaçar, nem sei pra quê me sequestrou. Se for pra ficar aqui o resto da minha vida, prefiro que me mate logo. – Sua feição estava séria e a cada frase você se aproximava de Fushiguro.

Ele tinha a cabeça levemente erguida para manter contato visual e pensava no que fazer com você. Realmente não importava o quanto ele a ameaçasse, você ainda continuava falando com ele sem medo. Fushiguro desviou o olhar, apagou o cigarro e respirou fundo.

— Tá, tudo bem. Você poder sair. – Pela primeira vez, ele se rendeu. — Mas Geto vai acompanhar você.

De primeira, você arqueou uma sobrancelha desconfiada, quase chegou a achar que não era o real Fushiguro na sua frente. Ele revirou os olhos e descansou a bochecha na mão com o cotovelo apoiado na cadeira.

— O quê? Se continuar me olhando assim, eu retiro o que disse. – É, aquele era o Fushiguro que você conhecia.

— Não! – Sua voz saiu um pouco alta, no mesmo momento você tapou a boca receosa de que Megumi acordasse.

— Oh, e não pense em entrar na casa em frente. – Ele se referia à mansão principal onde o movimento era "maior".

Constantemente iam pessoas lá, principalmente homens. Não seria bom se algum deles quisessem por a mão em você, isso irritaria Fushiguro ao ponto de matar a pessoa que o fez.

— Tudo bem, nem faço questão. – Você sorriu animada.

Ele ficou te encarando por uns minutos, alternando o olhar entre seu ombro e seu rosto. Não queria admitir mas ele sentia um pouco de arrependimento em ter atirado na hora da raiva. Seu ombro ainda tinha um pequeno band aid pois não estava totalmente cicatrizado.

Você percebeu o olhar dele, mas não queria tocar no assunto então virou-se e voltou para a cama. Cuidadosamente você colocou Megumi em cima da sua barriga, o pequeno nem fez menção de acordar.

— Onde Gojo o levou para ele parecer tão cansado afinal? – Com o quarto em silêncio total, nem foi preciso falar alto para o homem te ouvir.

— Foram assistir um jogo de baseball.

— Você quem devia fazer isso com ele. – Apontou.

— Eu sou muito ocupado.

Seus olhos rolaram dramaticamente, essa parecia a única desculpa dele. Gojo com certeza não era muito livre também e ainda assim saía com Megumi.

— Urgh, nem adianta mais falar disso pra você.

Os dois se calaram e enquanto seus olhos estavam fixo no teto, sua mão acariciava suavemente o cabelo de Megumi. Você tinha vontade de perguntar sobre a sua mãe, sua gata que lhe era como uma filha e seus amigos, mas não teve coragem. Com o tempo, talvez, você consiga.

Depois de um tempo, você estava quase adormecendo quando o relógio de Fushiguro alarmou, como sempre, avisando que já era hora de ir embora. Antes que abrisse os olhos, o som irritante parou e ouviu-se um barulho de alguém levantando.

Fushiguro, por alguma razão, apenas desligou a luz, ligou o ar-condicionado e saiu. Você estranhou ele não ter levado Megumi, mas sorriu internamente por o garotinho passar a noite ali e puxou o cobertor, cobrindo vocês dois.

𝙃𝙀𝘼𝙑𝙀𝙉, toji fushiguro Onde histórias criam vida. Descubra agora