Capítulo Vinte e Seis

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Minha vida nunca fez muito sentido em nenhum aspecto. Nunca fui boa aluna. Apesar dos esforços do meu pai, acho que não fui uma boa filha por conta do meu comportamento na escola. Como devota, nunca fui muito fiel, já que apelei para tantas forças cósmicas que não sei exatamente em que acredito. Mas como Jungkook eu tive a chance de ser mais consistente.

O medo de ser descoberta como fraude e dar tudo a perder fez com que eu tivesse disciplina para aprender pelo menos a dançar e cantar sem que isso prejudicasse o resto do grupo. Aprendi a ser mais empática, a pensar nos outros antes de pensar em mim. E agora, preciso aprender a sobreviver a todas as personas que existem dentro de nós dois, porque sei lá como, mas somos um só nessa bagunça toda.

Eu sentia a minha mão suando dentro da mão grande dele. O medo dominando a minha mente e me impedindo de prestar atenção em mais coisa além de todos aqueles reflexos me encarando com ódio.

— Eles parecem com raiva ou é impressão minha? — perguntei apenas para forçar meu cérebro a funcionar. Dizem que a adrenalina faz a gente ser capaz de sobreviver a praticamente qualquer coisa, mas será que incluíram uma sala mágica no mundo espiritual?

— Eu achei que eles não fossem nos atacar... — ouvi Jungkook dizer sem realmente olhar para mim. Ele parecia procurar uma rota de fuga enquanto eu só pensava em como tinha cagado mais ainda nossa situação. Porque muito provavelmente isso é culpa minha.

— Acha que eu fiz alguma c...

— Não pense besteira, não tem nada a ver com você, Nina. — senti a mão dele apertar a minha em sinal de solidariedade. — Talvez tenhamos que passar por mais essa prova antes de mostrar que podemos ser nós mesmos de novo...

— Falou igual a Madame Min. — brinquei.

— Porque é o que ela diria. — ele finalmente olhou para mim e sorriu. — Ela tá tão perdida quanto a gente, se quer saber minha opinião. Vamos ter que lidar com isso do mesmo jeito que fizemos até aqui:

— No improviso. — dissemos juntos.

— Não vai ter jeito... — soltei a mão de Jungkook e prendi o cabelo num coque frouxo, usando ele mesmo para dar um nó.

— Como foi que fez isso?

— Quando a gente estiver em casa eu te ensino. Agora a gente tem outra coisa para se preocupar. — apontei para um dos nossos reflexos começando a sair do espelho onde estava. Senti o cabelo fino da nuca arrepiar de medo. — "Tranca o cu e corre."— falei.

— O que?

— Isso mesmo. Tranca o cu porque a gente vai precisar de sangue frio. — expliquei procurando o espelho onde Madame Min estava para nos guiar. — Cadê o espelho da velhota?

*  *  *

Jungkook não entendia, como sempre, nada do que estava acontecendo. Justo quando estava se acostumando à vida de Nina, quando estava começando a aceitar o fato de que ele estava feliz levando aquela vida, o caos recomeçou. Não queria passar medo para a garota, mas estava assustado com o resultado dessa nova etapa em sua aventura.

Ao acordar no próprio corpo, voltou à conversa que havia tido com Mi Mo pouco antes da velha encontrá-los no ônibus.

Tinha sido sincero quando respondera – por impulso, verdade – que não queria voltar a ser ele mesmo. E sabia que estava sendo egoísta por pensar assim. Mas agora ele tinha uma nova chance de viver uma vida simples, vivendo cada um dos anos finais da adolescência de Nina com preocupações normais de um adolescente, como ter notas boas, ser obediente aos pais, ser correspondido pela garota mais bonita da escola. Não precisava trabalhar. Não precisava ser o "maknae dourado" o tempo todo. Não havia pressão nenhuma para ser perfeito e, acima de tudo, não havia nenhum fotógrafo enxerido seguindo-o por onde quer que fosse. Resumindo: não precisava ser adulto.

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