Nina está no último ano da escola e apesar de querer seguir a vida acadêmica na area de exatas, acredita em tudo que é esotérico. Principalmente se for dito pela Madame Min. Mas nem tudo é o que parece e nem sempre a pessoa que você vê é quem está p...
A vida de um artista é um inferno e por inferno eu me refiro ao fato de que a gente não tem tempo para nada, nem mesmo para dormir. Agora eu entendo porque o garoto sempre aparecia cochilando nos vídeos do grupo. O que me surpreende é os outros não fazerem o mesmo. Quando eu finalmente consegui ir para o quarto o relógio já marcava mais de três da manhã.
— Deus, se um dia tudo isso acabar, prometo que vou ser uma aluna melhor. Por favor, me de um tempinho a mais para... — e então alguém bateu de leve na porta.
Por um segundo achei que estivesse alucinando de cansaço, mas a batida se repetiu e eu fui obrigada a sair da cama. Ele não esperou eu abrir completamente a porta, assim que teve espaço, Jimin me empurrou para dentro e fechou a porta atrás de si, sorrindo. Eu acho que perdi alguma informação no meio do caminho, porque ele estava completamente diferente do Jimin que eu, Nina, estou acostumada. Ele estava mais amoroso e doce do que nunca, quase como se a gente tivesse uma intimidade secreta que mais ninguém nesse grupo tem — pelo menos até onde eu sei.
— Você está pronto?
— Para dormir, né? — respondi mostrando o pijama.
O sorriso dele diminuiu um pouco, confuso com a minha resposta. Eu quase podia ver as peças se encaixando e ele finalmente entendendo, com um arregalar dos olhos e outro sorriso matador, que teoricamente eu tenho perda de memória recente. Pelo jeito ele não acreditava que eu tinha esquecido tudo. Não esqueci, amor, eu não vivi mesmo.
— Eu espero você se trocar, vai... — falou sentando-se na cama de Jungkook com as pernas cruzadas sob o corpo e segurando os pés como se tivesse cinco anos.
Internamente eu queria morrer de fofura com aquela cena, porque é Park Jimin sentado na minha cama, feito um bebezinho fofo, sorrindo a ponto de fechar os olhos e esperando que eu me trocasse. Mas são mais de três da manhã, de um dia que eu me matei para decorar uma música — com sucesso, obrigada.
— Mas são três da manhã, Jiminnie! — protestei.
— E a gente tem um compromisso, anda. Vá se trocar.
Fiquei no mesmo lugar, confusa. Jungkook não havia mencionado nada durante o ensaio do dia. Pelo contrário, tinha se empenhado tanto quanto eu para que eu aprendesse pelo menos uma coreografia inteira. Repassou letras de músicas e até anotou algumas senhas úteis para o caso de eu ter que ir até a Big Hit para gravar. Mas nada, absolutamente nada do que ele tinha me dito tinha a ver com Jimin invadindo meu quarto de madrugada.
Cansado de me ver parado com cara de peixe-morto, ele se levantou da cama e veio até mim, ainda com aquele sorriso de quem não acredita na minha falta de memória, e me abraçou apertado. Não era nem de perto o mesmo abraço que ele me dava em frente aos outros membros, à equipe de apoio ou qualquer pessoa. Era... íntimo. Senti meu rosto arder conforme eu começava a entender o que era aquele abraço. Quer dizer então que "Jikook" é real? E Jungkook não me contou?!
— Prometo que vou ser gentil... — sussurrou Jimin no meu ouvido.
Quando ele se afastou para olhar no meu rosto, eu conseguia ver todos os poros da pele limpa dele. Não usava maquiagem, mas estava muito bonito porque afinal de contas é o Jimin. Ele apertou minha bochecha, ainda muito de perto.
— Aigoo, não precisa fingir que não lembra da gente.
O que eu fiz? Isso mesmo: desmaiei.
***
Jungkook levantou num movimento só, assustado. Tinha tido um sonho nada apropriado com Jimin e tinha certeza que tinha gemido e sussurrado o nome dele enquanto dormia. Olhou para os lados, assustado por não reconhecer o cenário, o coração batendo mais acelerado do que nunca. Han Mi Mo ressonava baixinho na cama mais alta da bicama que dividiam e então ele se lembrou, estava no corpo de Nina.
Olhou para baixo apenas para garantir que o sonho não havia sido molhado, mas nesse ponto ser uma garota tinha um pouco de vantagem. O que não significava, porém, que não tivesse sentido exatamente as mesmas coisas que sentiria se o sonho fosse real. O corpo continuava quente e ardendo em partes que ele preferia não ter lembrado de terem sido beijadas. Passou a mão no cabelo, suspirando de alívio por ter sido um sonho.
Han Mi Mo resmungou alguma coisa dormindo e se virou na cama, parando de frente ao rosto dele, sorrindo por conta do que sonhava. Uma covinha super discreta se formou no rosto dela antes que soltasse um suspiro e o sorriso desaparecesse. Aquilo fez com que ele parcialmente se esquecesse do sonho com Jimin.
Não deveria — e nem podia — mas começava a gostar demais da companhia de Mi Mo, do mesmo jeito que gostava da companhia de Jimin quando ainda era ele mesmo. Sentiu-se culpado, porque gostava muito dos dois e já não sabia dizer se odiava completamente o fato de ter uma vida normal, mesmo sendo agora uma garota, e poder dormir, comer e sair sem se preocupar com quem poderia ver. Como Jimin estava com isso tudo? Será que ele estava bem sem que continuassem o namoro?
Pensar nisso fez com que se lembrasse finalmente de Nina. Não tinha contado a ela sobre sua relação com Jimin, mas achou, por um tempo, que a história da perda de memória a salvaria de ter que lidar com um relacionamento secreto.
— Amanhã não posso deixar de explicar isso para ela... — sussurrou para si mesmo se deitando lentamente e já fechando os olhos.
Mal encostou a cabeça no travesseiro e se lembrou de ter pedido a ela para descobrir essa noite se o quarto elemento da "praga da Madame Min" era Jimin ou Taehyung. Sentou-se imediatamente. Jimin com certeza vai interpretar o interesse dela errado e vai achar que algo de ruim havia acontecido. Debateu-se desesperado, procurando o celular para mandar uma mensagem para Nina, mas assim que o desbloqueou viu sessenta e sete mensagens não respondidas pedindo socorro e dizendo que Jimin tinha enlouquecido.
— Aish.... — fechou os olhos, frustrado. Tarde demais.