Capítulo Vinte e Quatro

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As sobrancelhas de Madame Min levantaram em choque, quase tocando a linha do cabelo, tamanho o espanto. Quanto mais observava, mais parecidos os dois ficavam. Sem que se dessem conta, Nina e Jungkook estavam se fundindo em uma única personalidade, absorvendo do outro, características que os tornam únicos, mas que, de certa forma, agregam muito à persona que eram antes do incidente. Perguntou-se se esse era o real motivo da troca ser desfeita antes mesmo que todos eles entendessem as consequências.

Sentiu a mudança na atmosfera quase ao mesmo tempo em que Nina reparava nos reflexos deles nos espelhos. Madame Min não tinha explicado, mas o tempo naquela Sala mística era contado. Mais do que o necessário, e os dois corriam risco de nunca mais voltar para os próprios corpos como eles mesmos. Cada reflexo representava um aspecto da personalidade deles. Se ficassem tempo demais, uma dessas personalidades poderia vencer as demais e assumir o controle no mundo físico.

A personalidade de uma pessoa é, no pouco conhecimento que a idade tinha dado a Kim Mi Seo, uma combinação multifacetada de aspectos psicológicos que influenciaram a vida dessa pessoa. Ali, na Sala dos Espelhos, estavam refletidas cada uma dessas faces de personalidade tanto de Nina quanto de Jungkook. Eram reflexos dos momentos de responsabilidade, espontaneidade, egoísmo ou altruísmo, acessos de raiva ou de felicidade, maturidade ou infantilidade, todos separados em faces diferentes dos espelhos, se multiplicando e se combinando de infinitas formas, definindo o que os dois eram. Se ficassem tempo demais naquela sala, algum desses aspectos poderia tomar conta e nada do que a xamã fizesse seria capaz de salvar os meninos. Deixariam de ser eles mesmos. Isso ia muito além do que Madame Min havia imaginado para um amuleto energizado.

— Qual o problema do Taehyung contar ao Jimin sobre nossa troca? — Jungkook repetiu a pergunta, ainda atento a ela, sem reparar em nada do que acontecia ao redor. Era isso o que diferenciava ele de Nina, agora que tinham vivido duas semanas no corpo um do outro e tinham ficado tão parecidos.

Madame Min não sabia responder a pergunta dele. Assim como não sabia responder muitas das indagações feitas antes. Tudo o que dizia era por intuição, exatamente do mesmo jeito que havia feito ao energizar o cristal que dera início a toda essa confusão cármica. Ela gostava de Nina e tudo o que quis foi ensinar uma lição para que se comportasse.

Vivendo no mesmo bairro, há poucas casas de distância, tinha testemunhado o dia em que os pais da menina se mudaram, o dia em que descobriram a gravidez e, mais tarde a doença que levou a mãe da menina. Era quase como se realmente fossem da mesma família. Brigava quando era chamada de "tia", mas no fundo, era como se sentia em relação a ela e, como tal, se achava no direito de interferir sempre que via o caos que era a linha cármica de Nina. E agora, com apenas alguns dias conhecendo o garoto, começava a sentir o mesmo tipo de afeto por ele.

Nos poucos dias em que Jungkook foi Nina e Nina foi Jungkook, notou o quanto ambos haviam crescido e quão boa era a influência dele na vida da menina. E vice-versa.

— Tudo o que fizeram até aqui envolveu basicamente vocês quatro. Envolver mais uma pessoa pode desequilibrar a balança novamente e impedir que saiam dessa experiência como melhores versões de si mesmos. — falou. — Temos pouquíssimo tempo, tanto aqui, quanto lá fora. — completou finalmente desviando os olhos do garoto e encarando os espelhos ao redor deles. Foi como se aquilo finalmente chamasse a atenção de Jungkook para Nina, que continuava apertando seu braço como se fosse uma questão de vida ou morte.

— O que é esse lugar afinal de contas? Por que não tem reflexos seus? — perguntou Nina agarrando o braço de Jungkook com tanta força que começou a doer.

— Porque eu não estou na sala. Estou vendo vocês pelo lado de fora, através de um espelho comum. — explicou com simplicidade. — Vocês precisam se apressar.

— E para que lado fica a porcaria da saída? — os olhos de Nina iam de um reflexo ao outro e a cada mudança, ela se aproximava mais de Jungkook, tão assustado quanto.

— Não sei!

— Não s... TIA MIN SEO!! — a menina gritou entrelaçando os dedos nos do amigo e procurando desesperada por uma saída. — Por que caralhos viemos parar aqui? Só para morrer?

Era uma pergunta retórica, Madame Min sabia. Estava começando a ficar com medo pela garota, mas não podia fazer nada pelo lado de fora. Olhou ao redor de si e não tinha nada que pudesse usar como condutor de magia além do espelho que encarava. Estava trancada ali desde o impacto de energia provocado por Nina, aproveitando o momento de confusão entre os membros porque também tinham sido atingidos.

Pensou em todos os objetos que tinha em casa e se arrependeu de não ter se preparado para algo desse tipo. Não podia fazer nada por eles a não ser observar inutilmente. Sentiu os dedos doerem com a força com que apertava a borda da pia de mármore daquele banheiro caríssimo e lembrou-se das pedras dos anéis que usava. Talvez pudesse usar uma delas como condutor para um feitiço que mostrasse pelo menos o caminho que deveriam seguir para sair da Sala dos Espelhos.

— Nina!! Procure um espelho com algo familiar! — gritou arrancando um anel de esmeralda do dedo indicador e se concentrando para enviar um sinal que a menina pudesse reconhecer. Sentiu a atmosfera do banheiro mudando conforme a energia mágica começava a se concentrar e, tolamente, sorriu, confiante de que ia conseguir ajudar.

— CADÊ A NINA, VELHA TRAMBIQUEIRA DE ARAQUE!? — com o susto, Madame Min gritou e sentiu o anel voar de sua mão em direção a pia. Olhou para o espelho esperando ver Nina e Jungkook ainda correndo, mas tudo o que teve foi seu reflexo em choque com a chegada de Han Mi Mo. 

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Nota da autora: um capítulo mais curto, porém carregado de informação. 

Espero que gostem. 

boa leitura. <3


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