– E aí, vai sair desse banheiro em algum momento, ou não? Somos amigas, mas preferia não ficar na detenção com você por estar atrasada...
A voz vinha do outro lado da porta. Ele tinha perdido a noção do tempo depois de criar coragem para se olhar no espelho. De alguma forma muito bizarra que ele dificilmente entenderia algum dia, ele agora era uma garota. Colocou a mão no rosto, apertando a bochecha alta da garota e beliscando. Doeu. Virou o rosto em vários ângulos, analisando cada centímetro dele, tentando se reconhecer ali, mas não tinha nenhum indício de que ele era Jeon Jungkook.
– Aleluia! – falou a garota assim que ele saiu. Ainda estava usando o pijama da tal garota, mas se sentia incomodado mesmo é com o que tinha visto no espelho antes de sair vestido.
Não sabia o que fazer ou como agir. Não sabia ser uma garota. Muito menos fingir que era uma que nunca tinha visto na vida. Ficou com vontade de contar que não era a tal da Nina, era na verdade Jungkook, mas não teve coragem. Com certeza ela contaria para mais gente e quando ele menos esperasse estaria internado com uma camisa de força bem apertada. Um final previsível que ele mesmo daria se não fosse ele a vitima nessa coisa toda.
Não teve tempo de conversar com a outra garota, assim que ele saiu do banheiro ela entrou, deixando-o sozinho. Teve tempo de olhar para o quarto com mais atenção. Havia um pôster dele e dos outros caras pregado na porta. Um mural sobre uma escrivaninha continha vário cards dele. Era estranho se ver assim, do ponto de vista de uma adolescente normal. E pelo visto ele era o bias dela. Um degrau a mais no nível de loucura.
Como ele pediria ajuda? Não sabia nem o que vestir! Tinha medo de tirar a roupa e constatar o óbvio. Não era burro, sabia como era o corpo de uma garota, também não era tão inocente assim, mas uma coisa é tocar o corpo de uma garota com ela participando de tudo, outra coisa totalmente diferente era ser uma garota e ser obrigado a tocar no corpo dela. Quanto mais ele pensava, mais ele achava que tinha ficado louco.
– É só fingir que é uma fantasia. Só isso. Faz de conta que é um cosplay. Ignore o... – fez menção de tocar os seios, mas parou no meio do caminho. – É, ignore isso.
Foi até uma mochila perto da cama onde havia acordado e começou sua investigação. Antes de procurar por uma roupa, procurou pela carteira da garota. Precisava pelo menos saber o nome e a idade dela, mas havia tanta coisa dentro daquela mochila que ele ficou impressionado que ela conseguisse colocar tudo aquilo ali sem bagunçar. Não podia dizer o mesmo de si mesmo, foi tirando tudo sem se importar com nada além de achar algum bendito documento. Achou, por fim, uma carteira fininha, de um material que parecia papel, estampada com trechos de Mikrokosmos.
– Ótimo, fui trocar de corpo justo com uma army. Isso significa que posso procurar os caras e pedir ajuda fingindo que sou fã. – sussurrou abrindo a carteira. – Até parece que eles vão acreditar. – concluiu depois de um tempo, imaginando como soaria ridículo ele aparecer daquele jeito em casa dizendo que era Jungkook e que aquele que estava com eles era um impostor.
Continuou sua busca por pistas e encontrou o documento dela. A foto mostrava uma garota pouco fotogênica, mas bonita, o rosto parecia bem mais jovem do que o que ele havia visto no espelho, mas as maçãs do rosto alta estavam ali, assim como os olhos curiosos. Kang NiNa, dezoito anos, estudante.
– Ótimo, ainda por cima vou ter que voltar para a escola. – resmungou jogando o documento de lado e tirando um adesivo de amuleto de dentro da carteira.
– Você sabe que se faltar de novo é fim de linha, né? – a garota saiu do banheiro interrompendo seus pensamentos. Ele olhou para ela assustado e logo desviou o olhar ao perceber que ela estava nua, com a toalha no cabelo. "Puta merda, não tem como esse dia ficar pior" – pensou em pânico.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Persona
FanfictionNina está no último ano da escola e apesar de querer seguir a vida acadêmica na area de exatas, acredita em tudo que é esotérico. Principalmente se for dito pela Madame Min. Mas nem tudo é o que parece e nem sempre a pessoa que você vê é quem está p...