Capítulo Quinze

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Eu senti a maciez dos lábios nos meus antes de perceber que não estava sonhando. As informações foram acumulando em meu cérebro na velocidade da luz e eu fui soterrada mentalmente com a constatação de um dos maiores mistérios do BTS: Jungkook e Jimin são namorados e todas as teorias dessa ala do fandom são reais. "Jimin e Jungkook são namorados. Jikook é real. Jimin e Jungkook são namorados. Jikook é real. Jimin e Jungkook são namorados. Jikook é real. Jimin e Jungkook são namorados. Jikook é real" — isso se repetiu tantas vezes na minha mente que eu senti meu coração disparar mais ainda.

Arregalei os olhos, acordando assustada e me levantando num único pulo, afastando Jimin e fugindo de costas, ainda no chão, meio de gatinhas, meio correndo, até me apoiar na porta do armário. Eu estava em pânico. Nunca namorei. Na verdade foram as poucas vezes que me envolvi com alguém a ponto de querer. A bem da verdade eu sempre sonhei que um dia teria alguma coisa com Taehyung, então secretamente nunca deixei que ninguém se aproximasse. E agora meu primeiro beijo foi com Jimin. Não qualquer Jimin. Jimin do BTS!

— O QUE VOCÊ PENSA QUE ESTÁ FAZENDO, GAROTO? — gritei.

— Shiu... fale baixo, vai acordar os outros! — pediu ele.

— O que você acha que tá fazendo? — repeti mais baixo. Ainda desesperada.

Não é como se eu não achasse Jimin lindo e não sonhasse com ele tanto quanto sonho com os outros seis membros. Mas uma coisa é eu ser adolescente, na minha casa, impossibilitada até de ir a um show deles por falta de dinheiro, sonhar com sete homens inalcançáveis. Outra coisa completamente diferente e estar no corpo de Jungkook, com mais de vinte anos, adulto, corpo sarado, sendo beijado por Jimin.

— Não tem mais graça, Jungkook. Você não precisa fingir para mim, eu sei que está ficando cansado... Às vezes eu também sinto isso. — falou começando a ficar irritado comigo.

— Jiminie... — falei baixinho. Como eu explico que realmente não sei do que ele está falando sem magoar os sentimentos dele? — Eu realmente não me lembro... Sinto muito. Há quanto tempo...? Sabe? — perguntei sinalizando nós dois.

Será que vou ser muito rude de pedir que ele me dê espaço e um tempo para raciocinar tudo? Porque não sei vocês, mas eu não estou pronta para namorar ainda. Por mais que seja Park Jimin. Não faço ideia do que fazer num namoro de sei lá quanto tempo, muito menos entre dois garotos. Mesmo assim deixei meu lado army falar mais alto ao fazer a pergunta. Porque eu realmente estou morta de curiosidade para saber há quanto tempo esses dois tem um caso bem debaixo do nariz de todo mundo. Vocês não?

Jimin ficou quieto, analisando meus gestos, minhas palavras, minha atitude, provavelmente tentando definir se eu estava sendo sincera ou não. Tentei sorrir, mas eu tenho certeza que meu rosto fez uma careta e isso me fez sentir saudade do meu próprio corpo de novo.

— Qual era esse compromisso da madrugada? Estamos planejando isso há muito tempo? — perguntei depois de não suportar mais sustentar o silêncio que se instalou.

— Íamos gravar uma música juntos... Para a mixtape. — respondeu depois de um tempo. — Não se lembra mesmo? De nada?

Doeu meu coração ouvir essas perguntas. Sempre considerei o Jimin o mais precioso dos membros. Sim, todos são e eu amo o Taehyung de modo especial, verdade, mas Jimin tem essa coisa de nos despertar proteção de uma forma natural. É quase como se ele me pedisse para amá-lo mais atentamente, com maiores demonstrações públicas. Não sei explicar, mas vê-lo com aquele olhar triste quebrou meu coração em mil pedaços e acabei ficando com raiva de Jungkook por não me contar isso. Não ia ajudar muito, porque eu com certeza ainda ficaria chocada por ser beijada de surpresa, ser abraçada com aquela intensidade toda e ainda ter que fingir que sei namorar. Mas pelo menos eu estaria mentalmente preparada para "dar um tempo" quando chegasse a hora.

— Jiminie, eu preciso pensar... Eu... Vou me trocar, espere aqui. — falei impulsivamente. Não esperei resposta alguma, apenas corri para o banheiro e me tranquei lá. Mandei mensagem para Jungkook. Várias. Mas como eu disse, é madrugada e ele provavelmente está desfrutando do sono que eu deveria ter, então não me respondeu. Olhei no espelho, para o reflexo de Jungkook me encarando espantado.

— O que eu faço, Deus? — perguntei.

Encarei os olhos amendoados do reflexo e eles desceram até o colar pendurado em meu pescoço. Tudo isso porque eu cresci os olhos para essa bijuteria fajuta. A gotinha dourada dentro do cristal brilhava como se tirasse sarro da minha cara. E então a resposta veio. Se eu estivesse no meu próprio corpo e um cara quisesse sair comigo assim, do nada, a primeira pessoa que eu procuraria depois de Han Mi Mo era a Madame Min.

— Quero nem saber se ela tá dormindo, a culpa é dela de qualquer jeito. — resmunguei discando o número que eu já sabia decor. Para a minha sorte ela atendeu antes mesmo da primeira chamada terminar.

— Estava esperando você ligar.

— O que eu faço? — perguntei desesperada. — É ele o quarto?

— Não. E ele não vai acreditar se contar que não é o Jungkook. — respondeu. Ouvi ela mexendo no baralho, como se tirasse as respostas para tudo ao mesmo tempo que falava comigo.

— O que eu faço?! Não posso ficar no banheiro para sempre, caralho!

— Calma!

Ouvi ela mexer nas coisas dela. O som de alguma coisa caindo num tambor me fez imaginar um pote de arroz sendo jogado num tambor. Mordi o lábio, nervosa, olhando involuntariamente para a porta do banheiro, com medo de Jimin tentar entrar e me agarrar de novo. Claro que ele não faria isso, mas estou surtando, não consigo processar nada direito nesse momento.

— Então...? — perguntei.

— Você vai precisar terminar com ele. — respondeu.

— Mas é o Jimin! Como eu termino uma coisa que não terminei? — perguntei desesperada. — E com Park Jimin!! Nunca vou me perdoar por magoá-lo, tia! — gemi ansiosa.

— Se não fizer, vai atrasar seu progresso espiritual. — respondeu. Ouvi outro punhado de arroz sendo jogado no tambor. — Há a possibilidade dele não acreditar, mas você vai ter que tentar, porque ele vai ficar mais insistente se não o fizer. Está preparada?

— Espera. Preparada para que, exatamente?

— Namorar. Sei que nunca namorou, Nina.

— Ai caralho, mas tipo, vai ser só beijar e essas coisas, não é? Não vou precisar... — hesitei. — ... você sabe.

— Vai. Se não terminar com ele hoje, eventualmente vai precisar sim. Ele não está no seu destino, Nina, mas se não superar esse obstáculo pode ser que ele entre e você nunca mais consiga deixar o corpo do garoto. Quer ficar nele para sempre? Use seus dons teatrais, vão ser úteis.

— Ai puta merda, que porcaria! POR QUE VOCÊ TINHA QUE FAZER ISSO COMIGO, TIA!? — gritei começando a querer chorar.

Ficar presa no corpo de Jungkook para sempre estava completamente fora de cogitação. É bom ter o conforto que o dinheiro dele dá? É sim. Mas eu quero voltar a abraçar meu pai, quero rir com as minhas amigas, quero fazer uma faculdade um dia, mesmo sendo péssima aluna, quero namorar alguém que eu escolhi e não alguém que tenham escolhido por mim. Por mais que eu ame Jimin. Por mais que eu ame o BTS. Eu já cansei dessa vida. Ser idol não é a minha. Talvez atriz, um dia, mas não idol.

— Jungkook? — perguntou Jimin do outro lado da porta.

— Boa sorte. — falou Madame Min antes de desligar na minha cara.

— Merda.

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